Saúde

Como as palmadas podem afetar o desenvolvimento do cérebro em criana§as
Os pesquisadores encontram semelhanças na resposta neural a formas mais graves de abuso
Por Manisha Aggarwal-Schifellite - 15/04/2021


Ilustração de Gary Waters

As palmadas podem afetar o desenvolvimento do cérebro de uma criana§a de maneiras semelhantes a s formas mais graves de violência, de acordo com um novo estudo conduzido por pesquisadores de Harvard.

A pesquisa se  baseia em estudos existentes que mostram atividade intensificada em certas regiaµes do cérebro de criana§as que sofrem abuso em resposta a sinais de ameaa§a.

O grupo descobriu que criana§as que foram espancadas tiveram uma resposta neural maior em várias regiaµes do cortex pré-frontal (PFC), incluindo em regiaµes que fazem parte da rede de saliaªncia. Essas áreas do cérebro respondem a esta­mulos no ambiente que tendem a ter consequaªncias, como uma ameaa§a, e podem afetar a tomada de decisaµes e o processamento de situações.

“Sabemos que as criana§as cujas fama­lias usam castigos corporais tem maior probabilidade de desenvolver ansiedade, depressão, problemas de comportamento e outros problemas de saúde mental, mas muitas pessoas não consideram surras como uma forma de violência”, disse Katie A. McLaughlin , John L. Loeb Professor Associado de Ciências Sociais, diretor do Stress & Development Lab do Departamento de Psicologia e pesquisador saªnior do estudo, que foi publicado sexta-feira na revista Child Development. “Neste estudo, quera­amos examinar se havia um impacto da surra anívelneurobiola³gico, em termos de como o cérebro estãose desenvolvendo.”

De acordo com os autores do estudo, o castigo corporal tem sido associado ao desenvolvimento de problemas de saúde mental, ansiedade, depressão, problemas comportamentais e transtornos por uso de substâncias. E estudos recentes mostram que aproximadamente metade dos pais em estudos americanos relataram espancar seus filhos no ano passado e um tera§o na semana anterior. No entanto, a relação entre palmadas e atividade cerebral não havia sido estudada anteriormente.

McLaughlin e seus colegas - incluindo Jorge Cuartas, primeiro autor do estudo e doutorado. estudante em educação na Escola de Pa³s-Graduação em Artes e Ciências e David Weissman , pa³s-doutorado no Laborata³rio de Estresse e Desenvolvimento - analisaram dados de um grande estudo com criana§as entre 3 e 11 anos de idade. e 11 que foram espancados, excluindo criana§as que também sofreram formas mais graves de violência.

“... muitas pessoas não pensam em surras como uma forma de violência.”

- Katie A. McLaughlin, diretora do Stress & Development Lab

Cada criana§a estava deitada em uma ma¡quina de ressonância magnanãtica e assistia a uma tela de computador na qual eram exibidas diferentes imagens de atores fazendo caretas "medrosas" e "neutras". Um scanner capturou a atividade cerebral da criana§a em resposta a cada tipo de rosto, e essas imagens foram analisadas para determinar se os rostos provocavam padraµes diferentes de atividade cerebral em criana§as que foram espancadas em comparação com aquelas que não foram.

“Em média, em toda a amostra, rostos de medo provocaram maior ativação do que rostos neutros em muitas regiaµes do cérebro ... e criana§as que foram espancadas demonstraram maior ativação em várias regiaµes do PFC para rostos de medo em relação a rostos neutros do que criana§as que nunca foram espancadas, ”Escreveram os pesquisadores.

Por outro lado, “não havia regiaµes do cérebro onde a ativação para o medo em relação a s faces neutras diferisse entre as criana§as que foram abusadas e as que foram espancadas”.

Os resultados estãode acordo com pesquisas semelhantes realizadas em criana§as que sofreram violência grave, sugerindo que "embora não possamos conceituar o castigo corporal como uma forma de violência, em termos de como o cérebro de uma criana§a responde, não étão diferente do abuso ”, Disse McLaughlin. “a‰ mais uma diferença de grau do que de tipo.”

Os pesquisadores disseram que o estudo éum primeiro passo em direção a uma análise interdisciplinar dos efeitos potenciais das palmadas no desenvolvimento do cérebro das criana§as e nas experiências vividas.

“Essas descobertas se alinham com as previsaµes de outras perspectivas sobre as consequaªncias potenciais do castigo corporal”, estudado em áreas como psicologia do desenvolvimento e serviço social, disse Cuartas. “Ao identificar certas vias neurais que explicam as consequaªncias do castigo corporal no cérebro, podemos sugerir ainda que esse tipo de castigo pode ser prejudicial para as criana§as e temos mais caminhos para explora¡-lo.”

No entanto, eles observaram que suas descobertas não se aplicam a  vida individual de cada criana§a.

“a‰ importante considerar que o castigo corporal não afeta todas as criana§as da mesma forma, e as criana§as podem ser resilientes se expostas a adversidades potenciais”, disse Cuartas. “Mas a mensagem importante éque o castigo corporal éum risco que pode aumentar os problemas potenciais para o desenvolvimento das criana§as e, seguindo um princa­pio de precaução, os pais e os legisladores devem trabalhar para tentar reduzir sua prevalaªncia”.

Em última análise, acrescentou McLaughlin, “Temos esperana§a de que esta descoberta possa encorajar as fama­lias a não usarem esta estratanãgia e que pode abrir os olhos das pessoas para as potenciais consequaªncias negativas do castigo corporal de formas que nunca haviam pensado antes”.

Esta pesquisa foi apoiada pelo Instituto Nacional de Saúde Mental

 

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