Saúde

Salada ou cheeseburger?
Pessoas em nossas redes sociais influenciam os alimentos que comemos - sauda¡veis ​​e não sauda¡veis ​​- de acordo com um grande estudo com funciona¡rios de hospitais
Por Anita Slomski - 22/04/2021


Os resultados do estudo podem orientar os esforços para melhorar a saúde da população. Anna Pelzer / Unsplash

Os alimentos que as pessoas compram em uma lanchonete do local de trabalho nem sempre podem ser escolhidos para satisfazer um desejo individual ou gosto por um alimento especa­fico. Quando colegas de trabalho estãocomendo juntos, os indivíduos são mais propensos a selecionar alimentos que são tão sauda¡veis ​​- ou não sauda¡veis ​​- quanto as seleções de alimentos nas bandejas de seus colegas de trabalho.

“Descobrimos que os indivíduos tendem a espelhar as escolhas alimentares de outras pessoas em seus ca­rculos sociais, o que pode explicar uma forma como a obesidade se espalha pelas redes sociais”, disse Douglas Levy, investigador do Mongan Institute Health Policy Research Center do Massachusetts General afiliado a Harvard Hospital (MGH) e primeiro autor de uma nova pesquisa publicada na Nature Human Behavior. Levy e seus co-pesquisadores descobriram que os padraµes alimentares dos indivíduos podem ser moldados atémesmo por conhecidos casuais, evidência que corrobora vários estudos observacionais de várias décadas que mostram a influaªncia dos laa§os sociais das pessoas no ganho de peso, consumo de a¡lcool e comportamento alimentar.  

Pesquisas anteriores sobre a influaªncia social na escolha de alimentos foram basicamente limitadas a ambientes altamente controlados, como estudos de estudantes universita¡rios comendo uma única refeição juntos, tornando difa­cil generalizar as descobertas para outras faixas eta¡rias e ambientes do mundo real. O estudo de Levy e seus coautores examinou a influaªncia social cumulativa das escolhas alimentares entre aproximadamente 6.000 funciona¡rios do MGH de diversas idades enívelsocioecona´mico, enquanto comiam nas sete cafeterias do sistema hospitalar ao longo de dois anos. A salubridade das compras de alimentos dos funciona¡rios foi determinada por meio do sistema de rotulagem de “sema¡foros” das cafeterias do hospital, designando todos os alimentos e bebidas como verdes (sauda¡veis), amarelos (menos sauda¡veis) ou vermelhos (não sauda¡veis). 

Os funciona¡rios do MGH podem usar seus cartaµes de identificação para pagar nos refeita³rios dos hospitais, o que permitiu aos pesquisadores coletar dados sobre compras especa­ficas de alimentos por indiva­duos, e quando e onde eles compraram os alimentos. Os pesquisadores inferiram as redes sociais dos participantes examinando quantos minutos de intervalo duas pessoas faziam compras de alimentos, com que frequência essas duas pessoas comiam ao mesmo tempo durante várias semanas e se duas pessoas visitavam uma lanchonete diferente ao mesmo tempo. 

“Duas pessoas que fazem compras com dois minutos de diferença, por exemplo, tem mais probabilidade de se conhecer do que aquelas que fazem compras com 30 minutos de intervalo”, disse Levy. E para validar o modelo de rede social, os pesquisadores entrevistaram mais de 1.000 funciona¡rios, pedindo-lhes para confirmar os nomes das pessoas que os investigadores identificaram como seus companheiros de jantar.  

“Um aspecto novo de nosso estudo foi combinar tipos complementares de dados e usar ferramentas de análise de redes sociais para examinar como os comportamentos alimentares de um grande grupo de funciona¡rios estavam socialmente conectados por um longo período de tempo”, disse o coautor Mark Pachucki, professor associado de sociologia da Universidade de Massachusetts, Amherst.   

Com base em avaliações transversais e longitudinais de três milhões de encontros entre pares de funciona¡rios fazendo compras juntos na cafeteria, os pesquisadores descobriram que as compras de alimentos por pessoas que estavam conectadas entre si eram consistentemente mais semelhantes do que diferentes. “O tamanho do efeito foi um pouco mais forte para alimentos sauda¡veis ​​do que para alimentos não sauda¡veis”, diz Levy.

 Um componente-chave da pesquisa foi determinar se as redes sociais realmente influenciam o comportamento alimentar, ou se as pessoas com estilos de vida e preferaªncias alimentares semelhantes tem maior probabilidade de se tornarem amigas e comerem juntas, um fena´meno conhecido como homofilia. “Na³s controlamos as caracteri­sticas que as pessoas tinham em comum e analisamos os dados de várias perspectivas, encontrando consistentemente resultados que apoiavam a influaªncia social em vez de explicações homofa­licas”, disse Levy. 

 Por que as pessoas que estãosocialmente conectadas escolhem alimentos semelhantes? A pressão dos colegas éuma explicação. “As pessoas podem mudar seu comportamento para cimentar o relacionamento com alguém de seu ca­rculo social”, acrescentou Levy. Os colegas de trabalho também podem, impla­cita ou explicitamente, conceder licena§a uns aos outros para escolher alimentos não sauda¡veis ​​ou exercer pressão para fazer uma escolha mais sauda¡vel. 

 Os resultados do estudo tem várias implicações mais amplas para intervenções de saúde pública para prevenir a obesidade. Uma opção pode ser visar pares de pessoas fazendo escolhas alimentares e oferecer saladas e outros alimentos sauda¡veis ​​dois por um, mas sem descontos em cheeseburgers. Outra abordagem pode ser fazer com que uma pessoa influente em um determinado ca­rculo social modele escolhas alimentares mais sauda¡veis, o que afetara¡ outras pessoas na rede. A pesquisa também demonstra aos formuladores de políticas que uma intervenção que melhora a alimentação sauda¡vel em um determinado grupo também serávaliosa para os indivíduos socialmente conectados a esse grupo. 

“Amedida que emergimos da pandemia e fazemos a transição de volta para o trabalho pessoal, temos a oportunidade de comer juntos de uma forma mais sauda¡vel do que antes”, disse Pachucki. “Se seus hábitos alimentares moldam a forma como seus colegas de trabalho comem - mesmo que apenas um pouco -, então, mudar suas escolhas alimentares para melhor pode beneficiar seus colegas de trabalho também.”  

Levy éprofessor associado de medicina na Harvard Medical School (HMS). Pachucki éprofessor associado de sociologia no UMass Computational Social Science Institute. A. James O'Malley éprofessor de bioestata­stica no Dartmouth Institute e do Departamento de Biomedical Data Science da Geisel School of Medicine em Dartmouth. Anne Thorndike éinvestigadora da Divisão de Medicina Interna Geral do MGH e professora associada de medicina do HMS. 

 O financiamento principal foi fornecido pelo Instituto Nacional de Diabetes e Doena§as Digestivas e Renais e pelo Instituto Nacional do Coração, Pulma£o e Sangue. 

 

.
.

Leia mais a seguir