Saúde

Pacientes com Alzheimer tem atétrês vezes mais chances de desenvolver quadros graves de covid-19, apontam pesquisadores
Os dados mostram que o risco de infeca§a£o também étrês vezes maior quando comparado aos livres de demaªncia
Por Guilherme Gama - 22/04/2021


Imagem: Roche

Os pesquisadores Sergio Verjovski-Almeida, professor titular do Instituto de Quí­mica da USP, e Sergio Ferreira, professor titular de Biofa­sica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conclua­ram que pacientes com demaªncia  — ou, especificamente, com doença de Alzheimer  — apresentam risco três vezes maior de infecção pelo va­rus da covid-19 do que pacientes sem essa condição. A pesquisa ainda aponta que pacientes portadores de demaªncia tem maiores chances de serem hospitalizados, com maior gravidade de quadro cla­nico e que a chance de a³bito éduas a três vezes maior quando comparados aos livres de demaªncia e também hospitalizados.

O estudo identifica um possí­vel novo grupo de risco em meio a  pandemia e revela a urgência dos servia§os de saúde dedicarem atenção especial aos portadores de doenças degenerativas do sistema nervoso. O artigo Dementia is an age-independent risk fator for severity and death in COVID-19 inpatients foi publicado nesta quarta-feira, na revista cienta­fica Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association (https://alz-journals.onlinelibrary.wiley.com/journal/15525279).

A demaªncia éa descrição de um conjunto de sintomas de doenças degenerativas do sistema nervoso, que implicam a perda progressiva das funções do cérebro, o que compromete a memória, habilidades cognitivas e o racioca­nio, por exemplo. A forma mais comum dos casos éa doença de Alzheimer, que afeta a memória e éo principal fator encontrado pelos pesquisadores que explica a observação de casos mais graves de covid-19 entre idosos.

Para isso, os cientistas analisaram em larga escala as informações de um banco de dados de saúde do Reino Unido, o UK Biobank, que registra desde 2006, para cerca de 500 mil voluntários, os atendimentos no serviço paºblico de saúde brita¢nico. Ao avaliar um grande número de indiva­duos, com hista³ricos detalhados de doenças preexistentes e em umpaís com alta testagem de covid-19, foi possí­vel correlacionar comorbidades com maiores incidaªncias de casos e a³bitos pelo coronava­rus.

Os dados de idosos foram avaliados por estratificação eta¡ria (65 a 74, 75 a 79 e de 80 acima) e notou-se que a idade não era um fator determinante para o agravamento dos casos. No que se refere a s comorbidades, os dados mostraram que, enquanto condições de alta pressão arterial aumentaram em no ma¡ximo 30% as complicações cla­nicas e hista³rico de câncer e de asma diminua­am a incidaªncia de casos, portadores de demaªncia apresentavam um risco significante de infecção, agravamento e a³bito. Em média, em portadores de Alzheimer, havia três vezes mais chances de infecção e de agravamento dos casos quando hospitalizados, podendo levar a a³bito. Os resultados ainda mostram que, na faixa eta¡ria mais elevada, o risco aumentava em atéseis vezes.

“O mais interessante éque os dados revelam que esse aumento não se da¡ devido a s condições de cuidado, nem de manifestação da doena§a”, afirma Verjovski-Almeida. O pesquisador explica que essa diferença comparativa não ocorre pelos prejua­zos a s habilidades cognitivas, de compreensão e locomoção comprometidas no Alzheimer ou Parkinson, que poderiam ser relacionadas ao descumprimento das medidas de higiene. E também não se trata de uma maior exposição vinda de suporte médico hospitalar.

Estudos já relacionam demaªncia e casos de covid-19, mas atribuindo estes últimos como fator propiciador de doenças degenerativas. O estudo éinanãdito em apontar o inverso: a evidência éde que podem existir aspectos genanãticos do Alzheimer que levam ao agravamento significativo da covid-19 e destaca a importa¢ncia de direcionar o atendimento de saúde aos cuidados desse grupo, o que, segundo Verjovski-Almeida, pode evitar a³bitos.

Mas, como o Alzheimer implica a piora dos quadros de covid-19 ainda não éclaro.

“Sabendo-se que o Alzheimer estãorelacionado com uma inflamação dos vasos do cérebro, a nossa hipa³tese éque essa inflamação facilitaria a permeabilidade do va­rus no cérebro, o que permitiria a infecção do sistema nervoso central.”

Sanãrgio Verjovski- Almeida

Verjovski-Almeida destaca que uma raiz genanãtica pode estar por trás dessa relação. O pra³ximo passo da pesquisa éavaliar alterações de genes que se correlacionem com os pacientes mais graves ou que foram a a³bito utilizando outra informação fornecida pelo UK Biobank: o sequenciamento genanãtico dos pacientes. De acordo com ele, essa éuma das maiores vantagens de fazer uso do banco brita¢nico, que, diferente dos desenvolvidos recentemente no Brasil, apresenta um hista³rico longo e detalhado. “Quando esse banco foi criado, não se imaginava que teria esse tipo de uso, mas estãotendo”, afirma.

“a‰ importante investir em pesquisa em banco de informações cla­nicas e genanãticas que permitam informações como essa, antes das crises. Esse éum exemplo da importa¢ncia de pensar em investimento em saúde a longo prazo”, completa.

 

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