Saúde

Os cientistas desenvolvem uma nova classe de medicamento contra o câncer com potencial para tratar a leucemia
Os cientistas deram um passo promissor no sentido de desenvolver um novo medicamento para o tratamento da leucemia mieloide aguda, uma doença rara do sangue.
Por Craig Brierley - 28/04/2021


Canãlulas humanas com leucemia mieloca­tica aguda, mostradas com uma coloração de esterase em 400x - Crédito: Instituto Nacional do Ca¢ncer


Os cientistas deram um passo promissor no sentido de desenvolver um novo medicamento para o tratamento da leucemia mieloide aguda, uma doença rara do sangue. Em um estudo publicado hoje na Nature , os pesquisadores de Cambridge relatam uma nova abordagem para o tratamento do câncer que visa enzimas que desempenham um papel fundamental na tradução do DNA em protea­nas e que podem levar a uma nova classe de drogas contra o ca¢ncer.

"Atéagora, ninguanãm almejou esse processo essencial como forma de combater o ca¢ncer. Este éo ini­cio de uma nova era para a terapaªutica do ca¢ncer"

Tony Kouzarides

Nosso ca³digo genanãtico éescrito no DNA, mas para gerar protea­nas - moléculas vitais para o funcionamento dos organismos vivos - o DNA precisa primeiro ser convertido em RNA. A produção de protea­nas écontrolada por enzimas, que fazem alterações químicas no RNA. Ocasionalmente, essas enzimas se tornam mal reguladas, sendo produzidas em abunda¢ncia.

Em um estudo publicado em 2017, uma equipe liderada pelo Professor Tony Kouzarides do Milner Therapeutics Institute e do Gurdon Institute da Universidade de Cambridge mostrou como uma dessas enzimas, METTL3, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e manutenção da leucemia mieloide aguda. A enzima torna-se superexpressa - isto anã, superproduzida - em certos tipos de células, levando a  doena§a.

A leucemia mieloide aguda (LMA) éum câncer do sangue no qual a medula a³ssea produz gla³bulos brancos anormais, conhecidos como células mieloides, que normalmente protegem o corpo contra infecções e contra a propagação de danos nos tecidos. A LMA ocorre de forma rápida e agressiva, geralmente exigindo tratamento imediato e afeta criana§as e adultos. Cerca de 3.100 pessoas são diagnosticadas com a doença todos os anos no Reino Unido, a maioria das quais tem mais de 65 anos de idade.

Agora, o professor Kouzarides e colegas da STORM Therapeutics, um spinout de Cambridge associado a  sua equipe, e do Wellcome Sanger Institute, identificaram uma molanãcula semelhante a uma droga, STM2457, que pode inibir a ação da METTL3. Em tecidos cultivados de indivíduos com LMA e em modelos de camundongos da doena§a, a equipe mostrou que a droga foi capaz de bloquear o efeito cancera­geno causado pela superexpressão da enzima.

O professor Kouzarides disse: “As protea­nas são essenciais para o funcionamento de nossos corpos e são produzidas por um processo que envolve a tradução de nosso DNA em RNA usando enzimas. a€s vezes, esse processo pode dar errado, com consequaªncias potencialmente devastadoras para a saúde humana. Atéagora, ninguanãm almejou esse processo essencial como forma de combater o ca¢ncer. Este éo ini­cio de uma nova era para a terapaªutica do ca¢ncer. ”

Para investigar o potencial antileucaªmico do STM2457, os pesquisadores testaram a droga em linhas celulares derivadas de pacientes com LMA e descobriram que a droga reduzia significativamente o crescimento e a proliferação dessas células. Tambanãm induziu a apoptose - 'morte celular' - matando as células cancerosas.

Os pesquisadores transplantaram células de pacientes com LMA em camundongos imunocomprometidos para modelar a doena§a. Quando eles trataram os camundongos com STM2457, eles descobriram que isso prejudicava a proliferação e expansão das células transplantadas e prolongava significativamente a vida útil dos camundongos. Ele reduziu o número de células leucaªmicas na medula a³ssea e no baa§o de camundongos, sem apresentar efeitos colaterais ta³xicos, incluindo nenhum efeito sobre o peso corporal.

O Dr. Konstantinos Tzelepis do Milner Therapeutics Institute da University of Cambridge e do Wellcome Sanger Institute acrescentou: “Este éum novo campo de pesquisa para o câncer e a primeira molanãcula semelhante a um medicamento desse tipo a ser desenvolvida. Seu sucesso em matar células de leucemia e prolongar a expectativa de vida de nossos camundongos émuito promissor e esperamos comea§ar os ensaios clínicos para testar moléculas sucessoras em pacientes já no pra³ximo ano.

“Tambanãm acreditamos que essa abordagem - de direcionar essas enzimas - poderia ser usada para tratar uma ampla gama de ca¢nceres, potencialmente nos oferecendo uma nova arma em nosso arsenal contra essas doenças terra­veis.”

Michelle Mitchell, diretora-executiva da Cancer Research UK, disse: "Este trabalho émais um exemplo de como nossos pesquisadores se esforçam para levar novos tratamentos de câncer para a cla­nica e melhorar os resultados para pacientes com ca¢ncer. 

“A leucemia mieloide aguda éuma forma agressiva de câncer que cresce rapidamente. O tratamento énecessa¡rio o mais rápido possí­vel após o diagnóstico, o que significa que pesquisas como essa não podem vir logo. 

"Estamos ansiosos para ver os resultados do estudo de fase 1 e os benefa­cios que pode ter para quem sofre de LMA e suas fama­lias no futuro."

A pesquisa foi apoiada pelo Cancer Research UK, o European Research Council, Wellcome, o Kay Kendall Leukemia Fund e Leukemia UK.

STORM Therapeutics éum spin-out da Universidade de Cambridge, apoiado pela Cambridge Enterprise. a‰ especializada em traduzir pesquisas em epigenanãtica de RNA para a descoberta de medicamentos de primeira classe em oncologia e outras doena§as.

 

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