Reinfecções por linhagens de não preocupação do coronavarus alertam para importa¢ncia dos cuidados
Estudo identificou casos em quatro profissionais do Hospital de Clanicas da Unicamp. Pesquisa éconduzida pelo Laborata³rio de Estudos de Varus Emergentes

Renan Garcia
Uma pesquisa realizada pelo Laborata³rio de Estudos de Varus Emergentes (LEVE), do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, identificou quatro casos de reinfecção por SARS-CoV-2em profissionais da saúde do Hospital de Clanicas (HC). O que chama a atenção dos pesquisadores éque os varus encontrados nas amostras dos pacientes não correspondem a s chamadas variantes de preocupação, VOCs (Variants of Concern), tipos mais comuns do SARS-CoV-2 identificados em casos de reinfecção. A descoberta abre caminhos para investigações sobre caracteristicas da resposta imune produzida no organismo a partir da infecção pelo coronavarus e pelas vacinas, além de evidenciar a importa¢ncia das medidas de proteção. O estudo foi publicado pela revista Emerging Infectious Diseases, do Centro de Controle e Prevenção de Doena§as (CDC) dos Estados Unidos.Â
foto mostra pesquisador vestido com roupas de proteção segurando uma amostra
de coronavarus.  Investigação a respeito de casos de reinfecção pelo SARS-CoV-2 é
conduzida pelo Laborata³rio de Estudos de Varus
Emergentes (LEVE) (foto: Liana Coll)
Os casos ocorreram em três enfermeiras e um colaborador do HC, com a média de idade em torno de 44 anos. As primeiras infecções pelo coronavarus foram registradas entre os dias 5 de abril e 10 de maio de 2020, com contaminação pela linhagem B do SARS-CoV-2, a primeira que circulou pelo Brasil no inicio da pandemia. Nãohouve complicações em nenhum dos casos e todos se recuperaram no intervalo de 10 a 23 dias. Com o surgimento de novos sintomas da covid-19, foi necessa¡rio confirmar se os casos atendiam aos requisitos para serem caracterizados como reinfecções.Â
"Nossa primeira pergunta foi: seráque esses pacientes, que apresentam casos de covid-19 pela segunda vez, são casos de reinfecção ou se trata de uma infecção viral persistente, ou seja, o varus não saiu da pessoa?", comenta JoséLuiz Ma³dena, professor do IB e coordenador do LEVE. Ele explica que nos casos de reinfecção os pacientes voltam a apresentar testagem positiva para o SARS-CoV-2 após pelo menos 45 dias da primeira infecção, com testes laboratoriais negativos entre os dois eventos positivos. No caso dos quatro pacientes, as segundas infecções ocorreram no período de 55 a 120 dias das primeiras.Â
Apa³s o sequenciamento e comparação das amostras colhidas nos dois episãodios de infecções, a surpresa foi que os varus encontrados nos segundos episãodios eram de linhagens muito semelhantes a s identificadas nos primeiros casos. Ma³dena explica que os casos de reinfecção pelo SARS-CoV-2 não são comuns, mas a tendaªncia que vem sendo registrada entre pesquisadores éque, quando eles ocorrem, sejam em decorraªncia da infecção por variantes de preocupação. Sa£o casos de linhagens do SARS-CoV-2 que apresentam uma quantidade significativa de mutações que podem alterar a estrutura das proteanas desuperfÍcie do varus, chamada spike, o que pode facilitar a entrada nas células do organismo, tornando-o mais transmissavel, ou ainda escapando dos anticorpos produzidos em consequaªncia de infecções prévias causadas por SARS-CoV-2. Atualmente, as variantes documentadas que mais causam preocupação no mundo, por conta de seus efeitos, são as de Manaus (P1), do Reino Unido (B1.1.7) e da áfrica do Sul (B1.351).
Os casos de reinfecção documentados entre profissionais do HC chamam então a atenção porque não era esperado que o varus escapasse a resposta imune dos pacientes justamente por não apresentarem as mutações significativas nas proteanas spike. Segundo Ma³dena, uma das hipa³teses para que isso tenha ocorrido éde que, por estarem na linha de frente do combate a covid-19, eles estãomais expostos a contaminações.Â
Vacinas continuam seguras e cuidados seguem necessa¡rios
Apesar de não apresentaremmudanças significativas que as determinem como novas variantes ou linhagens do SARS-CoV-2, o professor ressalta que em três dos quatro casos foi identificada uma mutação pontual na proteana spike, que não édescrita como fator de preocupação, mas que vem sendo observada em pesquisas que documentam casos positivos para covid-19 em pessoas já vacinadas. "Ela pode ser uma mutação que passou despercebida, que ninguanãm nunca prestou atenção, mas que agora pode estar envolvida em casos de escape imunológico", comenta.Â
Entretanto, isso não torna as vacinas contra o coronavarus menos seguras ou eficientes, já que a resposta imune do organismo não se restringe apenas a produção e ação dos anticorpos. "Estamos tentando caracterizar o potencial do varus de continuar circulando mesmo em pessoas que foram vacinadas. Mas isso não quer dizer que a vacina não funciona, ou que ela não éeficaz, ou mesmo que a infecção pelo SARS-CoV-2 não daª nenhum tipo de proteção para uma segunda infecção. Na³s estamos olhando um braa§o da defesa, que são os anticorpos, e para apenas uma das suas funções, que éa capacidade que eles tem de neutralizar os varus", esclarece.Â
O que Ma³dena alerta éque mesmo as pessoas que já foram vacinadas precisam manter cuidados como o distanciamento social, uso de máscaras e higiene das ma£os, já que as vacinas protegem contra o desenvolvimento da covid-19, mas não impedem a transmissão do varus: "Se as pessoas que foram vacinadas comea§arem a sair, não usarem mais ma¡scaras, não tomarem nenhum cuidado, elas podem fazer com que esses varus continuem sendo transmitidos. Esse processo de transmissão entre vacinados e pessoas não vacinadas, aliado a taxa de mutações do varus, pode levar ao surgimento de um varus que realmente escape a proteção das vacinas e cause doena§as, e isso éo que não queremos".Â
O estudo completo pode ser acessado em https://wwwnc.cdc.gov/eid/article/27/6/21-0558_article