Saúde

O estudo explora como a percepção de sinais corporais internos influencia o conceito de self
Este conceito abstrato de self éconhecido por ser fragmentado e confuso em indivíduos com certos transtornos psiquia¡tricos, incluindo esquizofrenia, transtorno de personalidade borderline e transtorno dissociativo de identidade.
Por Ingrid Fadelli - 28/06/2021


Restrições interoceptivas em cada dimensão do conceito de self. As setas coloridas mostram as influaªncias conhecidas de sinais interoceptivos específicos em facetas especa­ficas do autoconceito. Linhas truncadas sem seta terminal indicam ligações hipotanãticas entre a interocepção e o autoconceito que ainda sera£o investigadas. Crédito: Monti et al.

Em contraste com outras espanãcies animais na Terra, ao longo de sua vida, os humanos podem desenvolver uma ideia bastante clara de quem são como indivíduos e o que os diferencia dos outros. Este conceito abstrato de self éconhecido por ser fragmentado e confuso em indivíduos com certos transtornos psiquia¡tricos, incluindo esquizofrenia, transtorno de personalidade borderline e transtorno dissociativo de identidade.

Pesquisadores do Laborata³rio Aglioti, parte da Universidade Sapienza de Roma, escreveram recentemente um artigo de revisão examinando evidaªncias experimentais sugerindo que o nascimento, a manutenção e a perda desse conceito abstrato de self estãoprofundamente ligados ao que éconhecido como interocepção. Isso se refere a  percepção de um indiva­duo sobre seus sinais fisiola³gicos internos.

"Alguns anos atrás, descobrimos uma nova ilusão corporal aqui no Laborata³rio Aglioti", disse Alessandro Monti, um dos pesquisadores que realizaram o estudo. "Essa ilusão de 'inspiração', como a chamamos, sugere que seu conceito de si mesmo (ou seja, quem vocêpensa que anã) éparcialmente moldado por sentimentos que vão de suas va­sceras, particularmente do coração e dos pulmaµes. Discutimos nosso trabalho com a Prof. Anna Borghi, uma boa amiga e colega nossa. "

Quando Monti e seus colegas começam a discutir a ilusão que observavam com o Prof. Borghi, perceberam que o conceito de self possui váriasDimensões , que va£o desde o mundano e material ao social e espiritual. Assim, eles decidiram investigar a ilusão com mais profundidade e tentar entender melhor o que ela sugeria sobre o conceito de self das pessoas.

“Junto com o Prof. Borghi, exploramos uma sanãrie de questões, tais como: A percepção de sinais corporais internos (também conhecidos como 'interocepção') influenciam todas essasDimensões do self, ou apenas algumas delas? Os órgãos específicos influenciam facetas especa­ficas do autoconceito? E o que acontece quando essa percepção da¡ errado? No final, decidimos escrever uma revisão para responder a essas perguntas e enquadrar nossos resultados experimentais em um quadro maior ", disse Monti.

O ponto de partida para o artigo dos pesquisadores foi uma partição cla¡ssica do self delineada por William James. Essencialmente, em seu livro Principles of Psychology , James delineia quatro camadas distintas do self, a saber, o self material (o conceito de si mesmo como um ser material), o self social (o conceito de si mesmo como um membro da sociedade), o espiritual self (o conceito de si mesmo como uma pessoa moral), e o puro Ego (o conceito de si mesmo como um sujeito pensante e atuante).
 
"Revisamos uma sanãrie de experimentos ligando a interocepção dos participantes, medida por meio de questiona¡rios e gravações fisiola³gicas, a essas quatro camadas de seu autoconceito", disse Monti. "Inclua­mos estudos tanto em participantes sauda¡veis ​​quanto em pacientes psiquia¡tricos com um senso de identidade distorcido ou fragmentado - como aqueles que experimentam despersonalização, esquizofrenia ou transtornos alimentares."

Tanto para estudos envolvendo indivíduos sauda¡veis ​​quanto aqueles focados em pacientes psiquia¡tricos, os pesquisadores examinaram se o conceito de self de uma pessoa tinha maior probabilidade de incluir caracteri­sticas associadas a sinais fisiola³gicos mais fortes. Os resultados de suas análises sugerem que as caracteri­sticas mais a­ntimas e invaria¡veis ​​do conceito de self das pessoas eram aquelas que estavam, literalmente, mais próximas do coração (isto anã, aquelas mais influenciadas por sinais interoceptivos). Em outras palavras, o conceito abstrato de self das pessoas parece ser intimamente influenciado por sua percepção de sinais provenientes de seu corpo. Mais especificamente, estudos anteriores sugerem que aqueles com um conceito mais forte e esta¡vel de self estãomais sintonizados com seus sinais corporais internos, particularmente seus batimentos carda­acos e respiração, e são menos propensos a ilusaµes sensoriais.

"Embora o conceito de self esteja relacionado também a experiências sensoriais e motoras transita³rias, afirmamos que éa fisiologia ca­clica das va­sceras que fornece ao autoconceito uma base firme, contribuindo para sua estabilidade e sanidade ao longo do tempo, tornando-o permea¡vel a influaªncias externas ", disse Monti. "Argumentamos que este papel estabilizador de interocepção do autoconceito não se limita ao self material, mas também se estende ao self social e espiritual."

A conclusão exagerada do recente artigo de revisão de autoria de Monti e seus colegas éque o conceito abstrato de self dos humanos não émeramente corporificado; estãoprofundamente incorporado. No futuro, essa observação pode ter implicações importantes para o desenvolvimento de estratanãgias de tratamento para pacientes psiquia¡tricos com um conceito de self fragmentado ou prejudicado.

"Atualmente, estamos estendendo nossa pesquisa em duas direções", disse Monti. "Por um lado, acreditamos que a ligação entre a interocepção e os distúrbios nos quais o autoconceito estãofragmentado ou frouxo merece mais atenção. Assim, estamos colaborando com outros cientistas e médicos para avaliar o senso de identidade de pacientes que sofrem de um variedade de condições médicas e psicológicas, para ver se o treinamento interoceptivo pode ajuda¡-los a recuperar uma imagem mais esta¡vel de si mesmos. "

Além de explorar a ligação entre a interocepção e um conceito fragmentado de self, o recente artigo de revisão destacou uma lacuna na literatura existente que poderia ser preenchida por estudos futuros. Mais especificamente, Monti e seus colegas descobriram que atualmente pouco se sabe sobre o papel do intestino (isto anã, o trato gastrointestinal) na definição do senso de identidade das pessoas.

"Estamos trabalhando muito para preencher essa lacuna", acrescentou Monti. "Na verdade, publicamos recentemente uma pré- impressão com novos dados empolgantes que apa³iam a ideia de que o esta´mago e o intestino também são marcadores influentes de nosso senso de identidade."

 

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