Saúde

Alunos de medicina do sexo masculino mostraram lacunas de conhecimento sobre vacina do HPV
Estudo realizado em 2016 com estudantes de medicina mostrou que faltavam informaa§aµes sobre a prevena§a£o da doena§a, e poucos do sexo masculino haviam se vacinado
Por Fabiana Mariz - 08/07/2021


Conhecimento sobre HPV e sua vacina precisa ser reforçado osReprodução
 
Pesquisa realizada com alunos da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) mostrou que estudantes do sexo masculino do primeiro ano de graduação apresentavam lacunas significativas de conhecimento sobre o papilomava­rus humano (HPV) e sua respectiva vacina. Apesar donívelde conhecimento aumentar conforme o curso avana§ava, mesmo alunos de anos posteriores podem ter se formado com poucos conhecimentos sobre segurança, esquema de vacinação e administração desses imunizantes em populações especa­ficas.

O estudo de 2016 constatou também que, na anãpoca da coleta dos dados, apenas 18% dos 520 alunos estavam vacinados, o que pode ter influenciado no baixonívelde conhecimento sobre a vacina.

Foram entrevistados 520 graduandos do primeiro ciclo (1º, 2º e 3º anos) e do internato (5º e 6º anos). O estudo, transversal e anala­tico, era composto por um questiona¡rio contendo perguntas que iam desde conhecimentos ba¡sicos sobre HPV atéaceitabilidade da vacina.

A análise das respostas mostrou que alunos dos três primeiros anos apresentaram 51% a mais de lacunas de conhecimentos quando comparados aos alunos nos anos finais de graduação, sendo que os estudantes do sexo masculino foram os que demonstraram conhecimentos mais insatisfata³rios. Nãohouve aquisição de conhecimento durante o curso de medicina a respeito da indicação da vacina para portadores de HIV e contraindicação em gestantes.

Já as informações sobre a doença em si foram adquiridas conforme o curso avana§ava. “Como esperado, a aquisição de conhecimento foi gradual e ascendente, algo natural para quem faz a graduação em medicina”, explica ao Jornal da USP Isabel Cristina Esposito Sorpreso, professora associada da disciplina de ginecologia do Departamento de Obstetra­cia e Ginecologia da FMUSP e orientadora do estudo. “A nossa surpresa foi constatar que estudantes do primeiro ano, que se autodeclararam do sexo masculino, tinham menor conhecimento sobre a vacina.”

Papilomava­rus humano

HPV éa sigla em inglês para o papilomava­rus humano. a‰ a infecção viral mais comum do trato reprodutivo e étransmitida via contato sexual. Existem mais de 100 tipos de HPV, dos quais pelo menos 14 são cancera­genos. Dois tipos deles (16 e 18) causam 70% dos ca¢nceres do colo do aºtero e lesões precursoras de ca¢ncer, segundo dados da Organização Pan-americana de Saúde (Opas). Em mulheres, ele pode desencadear também câncer de vulva e vagina. Homens e mulheres, se infectados, estãomais propensos de ter tumores de a¢nus e orofaringe e verrugas genitais.

“A pesquisa também foi importante para percebermos que alguns fatores comportamentais no curso de medicina ainda precisam ser trabalhados nos estudantes”, relata Isabel. “O tabagismo, por exemplo, éum fator de risco isolado para várias neoplasias, inclusive para o câncer de colo do aºtero, mas essa associação, por mais que seja a³bvia, não estava clara para eles”.

“Nãoéque esses alunos não saibam osou que eles va£o ficar com essa lacuna de conhecimento -, mas naquele momento eles precisavam refrescar essa informação”, alerta Annielson de Souza Costa, enfermeiro, especialista em saúde pública e primeiro autor da pesquisa. “Por isso, vejo a importa¢ncia da educação continuada e do aperfeia§oamento sobre determinado assunto”.

O enfermeiro lembra também sobre a importa¢ncia das vacinas inclua­das no PNI do Ministanãrio da Saúde. “De todas as vacinas, essa éa única que previne o câncer do colo do aºtero. a‰ essencial que nós, como profissional de saúde, tenhamos essa informação bem fresquinha na cabea§a”.

Em 2018, aproximadamente 311 mil mulheres morreram de câncer de colo do aºtero, sendo que cerca de 90% de mortes aconteceram empaíses de baixa e média renda, segundo a Opas.

Vacinação no mundo

Mais de 85países já implementaram a vacina contra o HPV em seus programas paºblicos de imunização e cerca de 28 milhões de doses já foram distribua­das pelo mundo. No Brasil, o insumo foi inserido no Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministanãrio da Saúde em 2014.

Mas, como conta Isabel, o processo de implantação no Brasil passou por várias modificações ao longo dos anos, o que pode ter trazido muitas daºvidas aos profissionais de saúde. “No começo eram aplicadas três doses, agora, pelo SUS, são aplicadas duas, e isso pode ter colaborado com a dificuldade de aquisição de conhecimento”, relata a professora.

Costa lembra que na anãpoca da coleta dos dados apenas 18% dos 520 alunos estavam vacinados. “A gente sabe que aquele que se vacinou tem maiores chances de saber sobre a vacina e sobre o HPV”, conta. E, de acordo com o pesquisador, se a mesma pesquisa fosse feita hoje, teria outro resultado. “Com toda certeza, muito mais estudantes de medicina já se vacinaram e o conhecimento da doença e de tudo que vem com ela já émaior”.

Um artigo com todos os detalhes do estudo foi publicado na revista Plos One.

 

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