Saúde

Como as enxaquecas protegem contra o diabetes
Remanãdios para enxaqueca que interferem com o CGRP e seus receptores celulares foram recentemente colocados no mercado, e outros tratamentos estãosendo estudados.
Por American Chemical Society - 26/08/2021


Crédito: Sasha Wolff / Wikipedia

Pessoas que tem enxaqueca tem menos probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2, enquanto algumas pessoas que desenvolvem diabetes tornam-se menos propensas a ter enxaquecas. Hoje, cientistas que estudam a ligação entre essas condições relatam como os pepta­deos que causam a dor da enxaqueca podem influenciar a produção de insulina em camundongos, possivelmente regulando a quantidade de insulina secretada ou aumentando o número de células pancrea¡ticas que a produzem. Essas descobertas podem melhorar os manãtodos de prevenção ou tratamento do diabetes.

Os pesquisadores apresentara£o seus resultados na reunia£o de outono da American Chemical Society (ACS).

A ligação entre as duas doenças não éa³bvia: "As enxaquecas acontecem no cérebro, enquanto a diabetes estãoassociada ao pa¢ncreas, e esses órgãos estãodistantes um do outro", diz Thanh Do, Ph.D., o principal investigador do projeto. Seu grupo se interessou pelo assunto depois que vários artigos descreveram uma relação inversa entre as condições.

Os pesquisadores já sabiam que dois pepta­deos no sistema nervoso - pepta­deo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) e polipepta­deo ativador da adenilato ciclase pituita¡ria (PACAP) - desempenham um papel importante em causar a dor da enxaqueca. Esses mesmos pepta­deos, junto com o pepta­deo relacionado amilina, também são encontrados no pa¢ncreas. La¡, eles influenciam a liberação de insulina das células beta .

A insulina regula os na­veis de açúcar no sangue ajudando outras células do corpo a absorver a glicose e armazena¡-la ou usa¡-la para obter energia. No diabetes tipo 2, essas outras células se tornam resistentes a  insulina e menos capazes de absorver glicose, levando a na­veis elevados de açúcar no sangue. As células beta inicialmente compensam aumentando a produção de insulina, mas eventualmente se desgastam e morrem, exacerbando o problema.

Por causa de seu papel na enxaqueca e diabetes, CGRP e PACAP oferecem alvos para terapias que poderiam tratar qualquer uma dessas condições. Remanãdios para enxaqueca que interferem com o CGRP e seus receptores celulares foram recentemente colocados no mercado, e outros tratamentos estãosendo estudados. No entanto, mais pesquisas são necessa¡rias para esclarecer os efeitos dos pepta­deos. Fazer étentar esclarecer descobertas contradita³rias sobre seu impacto na insulina.

Para sondar a atividade dos pepta­deos em camundongos, o grupo de Do's University of Tennessee desenvolveu um manãtodo para coletar dados de apenas algumas centenas de células beta. Eles relataram recentemente que esta técnica mostrou que o CGRP reduziu os na­veis de insulina 2 de camundongo, o ana¡logo da insulina humana. Isso pode contrariar a resistência a  insulina que se desenvolve no diabetes tipo 2, diz Do. Mas o CGRP foi menos eficaz na regulação da insulina 1 de camundongo, o que concorda com os primeiros estudos que mostram que camundongos com apenas insulina 1 são propensos a desenvolver diabetes.
 
A doença também estãoassociada a  agregação de amilina, diz Aleksandra Antevska, uma estudante de pós-graduação no laboratório de Do que estãoapresentando o trabalho no encontro. Esses agregados podem contribuir para os danos a s células beta que ajudam a causar diabetes tipo 2, observa Do. Como a amilina e a insulina são co-secretadas pelas células beta, o uso de CGRP para limitar a produção de insulina também pode limitar a produção de amilina, diz ele. Isso poderia proteger as células e ajudar a normalizar sua função.

Acredita-se que o PACAP também desempenhe um papel protetor contra o diabetes tipo 2. Isso éconfuso, pois o PACAP demonstrou estimular a liberação de insulina, o que leva a  resistência a  insulina, diz Do. Sua equipe agora estãotentando resolver esse enigma. As descobertas iniciais do grupo mostram que as ações do PACAP podem depender dos na­veis de glicose. A equipe encontrou evidaªncias preliminares de que o PACAP regula a insulina de maneira dependente da glicose e promove a proliferação das células beta, em vez de estimular as células beta existentes a trabalharem mais - evitando assim o risco de desgastar as células existentes. Eles estãodesenvolvendo manãtodos anala­ticos para testar isso.

"Apesar desses resultados positivos, vocênão pode injetar CGRP e PACAP no corpo como estratanãgias terapaªuticas para diabetes porque esses pepta­deos causam dor de enxaqueca", diz Do. "Mas uma vez que entendamos como eles exercem seus efeitos na secreção de insulina, podemos criar ana¡logos de pepta­deos que controlariam a insulina, mas não se ligariam ao receptor da dor."

Como o CGRP e o PACAP podem aparentemente proteger contra o diabetes, Do e outros se preocupam que os tratamentos anti-CGRP e anti-PACAP em desenvolvimento ou já existentes no mercado para enxaqueca possam ter a consequaªncia indesejada de aumentar o risco de diabetes. Além disso, esses pepta­deos estãoenvolvidos em várias outras funções benanãficas no corpo, como a dilatação dos vasos sangua­neos. O So Do e outros cientistas também estãoexplorando os riscos potenciais de alterar a atividade dos pepta­deos .

 

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