Descoberta de um mecanismo de escape imunológico que promove a infecção por Listeria do sistema nervoso central
Esse mecanismo fornece a s células infectadas que circulam no sangue uma maior probabilidade de aderir e infectar as células dos vasos cerebrais, permitindo que as bactanãrias atravessem a barreira hematoencefa¡lica e infectem o cérebro.

Corte de um vaso cerebral em um modelo animal infectado contendo mona³citos infectados aderidos a s células endoteliais. Listeria estãomarcada em vermelho, actina em branco (incluindo as caudas de actina que impulsionam Listeria), núcleos em azul e macra³fagos em verde. Crédito: © Unidade de Biologia da Infecção - Institut Pasteur
Algumas cepas hipervirulentas de Listeria monocytogenes tem maior capacidade de infectar o sistema nervoso central. Cientistas do Institut Pasteur, UniversitéParis Citanã, Inserm e da Paris Public Hospital Network (AP-HP) descobriram um mecanismo que permite que células infectadas com Listeria monocytogenes escapem das respostas imunes. Esse mecanismo fornece a s células infectadas que circulam no sangue uma maior probabilidade de aderir e infectar as células dos vasos cerebrais, permitindo que as bactanãrias atravessem a barreira hematoencefa¡lica e infectem o cérebro. O estudo serápublicado na Nature em 16 de mara§o de 2022.
O sistema nervoso central éseparado da corrente sanguínea por uma barreira fisiola³gica conhecida como barreira hematoencefa¡lica , que émuito apertada. Mas alguns patógenos conseguem atravessa¡-lo e, portanto, são capazes de infectar o sistema nervoso central, usando mecanismos ainda não bem compreendidos.
Listeria monocytogenes éa bactanãria responsável pela listeriose humana, uma doença grave de origem alimentar que pode levar a uma infecção do sistema nervoso central conhecida como neurolisteriose. Esta infecção do sistema nervoso central éparticularmente grave, sendo fatal em 30% dos casos.
Cientistas da Unidade de Biologia da Infecção do Institut Pasteur (UniversitéParis Citanã, Inserm) e do Centro Nacional de Referaªncia Listeria e Centro Colaborador da OMS liderados por Marc Lecuit (UniversitéParis Citée Hospital Necker-Enfants Malades (AP-HP)) descobriram recentemente o mecanismo pelo qual Listeria monocytogenes infecta o sistema nervoso central . Eles desenvolveram um modelo experimental clinicamente relevante que reproduz os diferentes esta¡gios da listeriose humana e envolve cepas virulentas de Listeria isoladas de pacientes com neurolisteriose.
Os cientistas observaram pela primeira vez que os mona³citos inflamata³rios, um tipo de gla³bulo branco, são infectados pela bactanãria. Esses mona³citos infectados circulam na corrente sanguínea e aderem a s células dos vasos cerebrais, permitindo que a Listeria infecte o tecido cerebral.
A equipe de pesquisa então demonstrou que o InIB, uma proteana desuperfÍcie de Listeria monocytogenes, permite que as bactanãrias escapem do sistema imunológico e sobrevivam no nicho protetor fornecido pelos mona³citos infectados. A interação entre InlB e seu receptor celular c-Met bloqueia a morte celular mediada por linfa³citos T citota³xicos, que visam especificamente células infectadas por Listeria. InIB, portanto, permite que as células infectadas sobrevivam aos linfa³citos T citota³xicos.
Esse mecanismo estende a vida útil das células infectadas, aumentando o número de mona³citos infectados no sangue e facilitando a disseminação bacteriana para os tecidos do hospedeiro, incluindo o cérebro. Tambanãm favorece a persistaªncia da Listeria no tecido intestinal, sua excreção fecal e transmissão de volta ao meio ambiente.
“Descobrimos um mecanismo especafico e inesperado pelo qual um pata³geno aumenta a vida útil das células que infecta, bloqueando especificamente uma função do sistema imunológico que écrucial para controlar a infecçãoâ€, explica Marc Lecuit (UniversitéParis Citéand Necker-Enfants Malades Hospital (Hospital da Universidade de Paris Citée Necker-Enfants Malades). AP-HP)), chefe da Unidade de Biologia da Infecção do Institut Pasteur (UniversitéParis Citanã, Inserm).
a‰ possível que outros patógenos intracelulares, como Toxoplasma gondii e Mycobacterium tuberculosis, usem mecanismos semelhantes para infectar o cérebro. Identificar e compreender os mecanismos de escape imunológico das células infectadas pode dar origem a novas estratanãgias terapaªuticas para prevenir a infecção e também abrir caminho para novas abordagens imunossupressoras para transplante de órgãos.