Vacina terapaªutica contra o câncer do colo do aºtero tem resultados promissores em testes
Em camundongos, a vacina causou a regressão dos tumores em todos os animais tratados e não apresentou toxicidade. Tecnologia pode ser adaptada para outras doena§as
Cortesia
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP desenvolvem uma vacina terapaªutica que, em camundongos, foi capaz de eliminar tumores associados ao papilomavarus humano (HPV), principal agente causador do câncer do colo do aºtero. Publicado na revista International Journal of Biological Sciences, o estudo mostrou que, quando associada a quimioterapia baseada em cisplatina, a vacina induziu resposta antitumoral especafica capaz de eliminar tumores em esta¡gio avana§ado de desenvolvimento sem apresentar toxicidade. Ou seja, não causou danos no fagado, nos rins, nem induziu a perda de peso nos animais. Os pesquisadores fazem agora a prova de conceito clanica em humanos.
O estudo éconduzido por dois laboratórios do ICB: Imunologia de Tumores, que écoordenado pelo professor JoséAlexandre Marzaga£o Barbuto, e Desenvolvimento de Vacinas, coordenado pelo professor Luas Carlos de Souza Ferreira, além da empresa ImunoTera Soluções Terapaªuticas osstartup parceira do ICB fundada por Bruna Porchia e por Luana Raposo Aps, pesquisadora colaboradora do instituto. O estudo conta ainda com o apoio da Divisão de Ginecologia do Hospital das Clanicas (HC) da USP, por meio dos professores Edmund Chada Baracat e JoséMaria Soares Junior, e da médica ginecologista Maricy Tacla.
Prova de conceito
O trabalho foi desenvolvido ao longo dos últimos anos no modelo de roedores de tumores associados ao HPV-16 baseado em células TC-1, amplamente utilizado por vários grupos desta área de pesquisa. Atualmente, uma prova de conceito clanica estãosendo conduzida com pacientes diagnosticadas com neoplasia intraepitelial cervical (NIC) de alto grau, um esta¡gio anterior ao câncer do colo do aºtero, no Hospital das Clanicas da USP (HC-USP).
“Conseguimos fazer a prova de conceito em camundongos e agora estamos validando os resultados em humanos, acompanhando um grupo pequeno de pacientes por um período de seis meses a um ano. A publicação dos novos resultados devera¡ ser feita em meados de 2023 e, então, partiremos para testes clínicos mais abrangentes, para avaliar a segurança e a eficácia do imunizante. Os resultados iniciais são muito animadoresâ€, afirma Bruna Porchia, pa³s-doutoranda do ICB e primeira autora do estudo.
A aplicação do imunizante em humanos éfeita de forma indireta. a‰ retirada uma amostra de sangue da paciente e, em laboratório, as células dendraticas são isoladas e ativadas in vitro com o imunizante. Apa³s a ativação, as células retornam a paciente na forma de uma injeção. a‰ quando as células dendraticas “ensinam†o sistema imunológico, por meio dos linfa³citos T, a reconhecer e eliminar as células tumorais ou precursoras dos tumores, conhecidas como neopla¡sicas, no colo uterino.Â
Devido ao longo caminho regulata³rio que deve ser percorrido atéo imunizante ser aplicado de maneira convencional nos pacientes, o manãtodo indireto possibilitou a realização desta prova de conceito clanica e a validação dos resultados alcana§ados nas duas últimas décadas de pesquisa. O estudo foi previamente aprovado pelos Comitaªs de a‰tica em Pesquisa com Seres Humanos do ICB e do HC-USP e pela Comissão Nacional de a‰tica em Pesquisa (Conep).
Tecnologia pioneira
O imunizante éfeito com base em uma proteana recombinante que possibilita a ativação do sistema imune. “Trata-se de uma vacina capaz de induzir uma resposta altamente especafica a um alvo terapaªutico e que, ao contra¡rio de manãtodos como a quimioterapia e a radioterapia, não afeta células sauda¡veis do organismo. Com isso, épossível eliminar as neoplasias do colo uterino aliado a uma baixa toxicidadeâ€, afirma a pesquisadora. Â
Com base nos testes já realizados, a tecnologia pode ser aplicada para combater outras doenças crônicas ou infecciosas. “As possibilidades são muitas. Podemos desenvolver, por exemplo, vacinas para câncer de mama, câncer de pra³stata, tuberculose, hepatite, covid-19, zika e HIVâ€, destaca.
Aplicado em duas doses, o imunizante podera¡ tratar tumores em esta¡gios iniciais porque énesse momento que consegue melhor resposta do organismo. “Quando um câncer evolui, criam-se mecanismos de evasão que muitas vezes superam a capacidade do sistema imune de elimina¡-lo. Neste caso, a associação da vacina com outras terapias pode trazer bons resultados.â€
HPV e ca¢ncer
Em 99,7% dos casos, o câncer de colo do aºtero écausado pelo HPV. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doena§a, também conhecida como câncer cervical, éa principal causa de morte entre mulheres na Amanãrica Latina e no Caribe, ocasionando 35,7 mil a³bitos a cada ano. No Brasil, éo quarto câncer mais comum em mulheres, segundo o Instituto Nacional do Ca¢ncer (Inca).Â
Embora a vacina contra o HPV faz parte do Programa Nacional de Imunizações do Sistema ašnico de Saúde (SUS) desde 2014, as doenças causadas pelo varus continuara£o a ser problema de saúde pública no Brasil devido a baixa cobertura vacinal. Em 2021, por exemplo, apenas 55% da população-alvo foi imunizada no Brasil, segundo o Ministanãrio da Saúde.Â
“Quando a infecção pelo HPV persiste e evolui para um tumor conhecido como Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) e posteriormente para o câncer do colo do aºtero, as formas de tratamento incluem cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou combinações destas terapias. Além de invasivas, essas terapias trazem muitos efeitos colaterais que comprometem a qualidade de vida das pacientesâ€, explica a pesquisadora.Â