Saúde

Vacina terapaªutica contra o câncer do colo do aºtero tem resultados promissores em testes
Em camundongos, a vacina causou a regressão dos tumores em todos os animais tratados e não apresentou toxicidade. Tecnologia pode ser adaptada para outras doena§as
Por Assessoria de Comunicação do ICB - 30/03/2022


Cortesia

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP desenvolvem uma vacina terapaªutica que, em camundongos, foi capaz de eliminar tumores associados ao papilomava­rus humano (HPV), principal agente causador do câncer do colo do aºtero. Publicado na revista International Journal of Biological Sciences, o estudo mostrou que, quando associada a  quimioterapia baseada em cisplatina, a vacina induziu resposta antitumoral especa­fica capaz de eliminar tumores em esta¡gio avana§ado de desenvolvimento sem apresentar toxicidade. Ou seja, não causou danos no fa­gado, nos rins, nem induziu a perda de peso nos animais. Os pesquisadores fazem agora a prova de conceito cla­nica em humanos.

O estudo éconduzido por dois laboratórios do ICB: Imunologia de Tumores, que écoordenado pelo professor JoséAlexandre Marzaga£o Barbuto, e Desenvolvimento de Vacinas, coordenado pelo professor Lua­s Carlos de Souza Ferreira, além da empresa ImunoTera Soluções Terapaªuticas osstartup parceira do ICB fundada por Bruna Porchia e por Luana Raposo Aps, pesquisadora colaboradora do instituto. O estudo conta ainda com o apoio da Divisão de Ginecologia do Hospital das Cla­nicas (HC) da USP, por meio dos professores Edmund Chada Baracat e JoséMaria Soares Junior, e da médica ginecologista Maricy Tacla.

Prova de conceito

O trabalho foi desenvolvido ao longo dos últimos anos no modelo de roedores de tumores associados ao HPV-16 baseado em células TC-1, amplamente utilizado por vários grupos desta área de pesquisa. Atualmente, uma prova de conceito cla­nica estãosendo conduzida com pacientes diagnosticadas com neoplasia intraepitelial cervical (NIC) de alto grau, um esta¡gio anterior ao câncer do colo do aºtero, no Hospital das Cla­nicas da USP (HC-USP).

“Conseguimos fazer a prova de conceito em camundongos e agora estamos validando os resultados em humanos, acompanhando um grupo pequeno de pacientes por um período de seis meses a um ano. A publicação dos novos resultados devera¡ ser feita em meados de 2023 e, então, partiremos para testes clínicos mais abrangentes, para avaliar a segurança e a eficácia do imunizante. Os resultados iniciais são muito animadores”, afirma Bruna Porchia, pa³s-doutoranda do ICB e primeira autora do estudo.

A aplicação do imunizante em humanos éfeita de forma indireta. a‰ retirada uma amostra de sangue da paciente e, em laboratório, as células dendra­ticas são isoladas e ativadas in vitro com o imunizante.  Apa³s a ativação, as células retornam a  paciente na forma de uma injeção. a‰ quando as células dendra­ticas “ensinam” o sistema imunológico, por meio dos linfa³citos T, a reconhecer e eliminar as células tumorais ou precursoras dos tumores, conhecidas como neopla¡sicas, no colo uterino. 

Devido ao longo caminho regulata³rio que deve ser percorrido atéo imunizante ser aplicado de maneira convencional nos pacientes, o manãtodo indireto possibilitou a realização desta prova de conceito cla­nica e a validação dos resultados alcana§ados nas duas últimas décadas de pesquisa. O estudo foi previamente aprovado pelos Comitaªs de a‰tica em Pesquisa com Seres Humanos do ICB e do HC-USP e pela Comissão Nacional de a‰tica em Pesquisa (Conep).

Tecnologia pioneira

O imunizante éfeito com base em uma protea­na recombinante que possibilita a ativação do sistema imune. “Trata-se de uma vacina capaz de induzir uma resposta altamente especa­fica a um alvo terapaªutico e que, ao contra¡rio de manãtodos como a quimioterapia e a radioterapia, não afeta células sauda¡veis do organismo. Com isso, épossí­vel eliminar as neoplasias do colo uterino aliado a uma baixa toxicidade”, afirma a pesquisadora.   

Com base nos testes já realizados, a tecnologia pode ser aplicada para combater outras doenças crônicas ou infecciosas.  “As possibilidades são muitas. Podemos desenvolver, por exemplo, vacinas para câncer de mama, câncer de pra³stata, tuberculose, hepatite, covid-19, zika e HIV”, destaca.

Aplicado em duas doses, o imunizante podera¡ tratar tumores em esta¡gios iniciais porque énesse momento que consegue melhor resposta do organismo. “Quando um câncer evolui, criam-se mecanismos de evasão que muitas vezes superam a capacidade do sistema imune de elimina¡-lo. Neste caso, a associação da vacina com outras terapias pode trazer bons resultados.”

HPV e ca¢ncer

Em 99,7% dos casos, o câncer de colo do aºtero écausado pelo HPV. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doena§a, também conhecida como câncer cervical, éa principal causa de morte entre mulheres na Amanãrica Latina e no Caribe, ocasionando 35,7 mil a³bitos a cada ano. No Brasil, éo quarto câncer mais comum em mulheres, segundo o Instituto Nacional do Ca¢ncer (Inca). 

Embora a vacina contra o HPV faz parte do Programa Nacional de Imunizações do Sistema ašnico de Saúde (SUS) desde 2014, as doenças causadas pelo va­rus continuara£o a ser problema de saúde pública no Brasil devido a  baixa cobertura vacinal. Em 2021, por exemplo, apenas 55% da população-alvo foi imunizada no Brasil, segundo o Ministanãrio da Saúde. 

“Quando a infecção pelo HPV persiste e evolui para um tumor conhecido como Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) e posteriormente para o câncer do colo do aºtero, as formas de tratamento incluem cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou combinações destas terapias.  Além de invasivas, essas terapias trazem muitos efeitos colaterais que comprometem a qualidade de vida das pacientes”, explica a pesquisadora. 

 

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