O cérebro em desenvolvimento precisa de receptores canabinoides após o nascimento
Os receptores canabinoides ajudam o sistema de dopamina do cérebro a estabelecer conexões importantes após o nascimento, sugere um novo estudo com ratos.

O receptor canabinoide 1, o receptor dasuperfÍcie celular que medeia os efeitos psicoativos da maconha, éessencial para o desenvolvimento normal do sistema dopaminanãrgico. Imagens do mesencanãfalo mostram que os neura´nios produtores de dopamina (azul claro) estendem dendritos que são fortemente agrupados com axa´nios de entrada de estriossomos (corotulagem mostrada em verde brilhante) em camundongos normais (esquerda), mas que essas estruturas são malformadas em camundongos knockout que não possuem o receptor canabinoide 1 (direita). Créditos: Imagem: Jill R. Crittenden, Ara Mahar e Tomoko Yoshida
Os médicos alertam que o uso de maconha durante a gravidez pode ter efeitos nocivos no desenvolvimento de um feto, em parte porque os receptores canabinoides ativados pela droga são craticos para permitir que um cérebro em desenvolvimento se conecte adequadamente. Agora, cientistas do Instituto McGovern de Pesquisa do Canãrebro do MIT descobriram que o papel crítico dos receptores canabinoides no desenvolvimento do cérebro não termina no nascimento.
Na edição online de hoje da eNeuro , cientistas liderados pela investigadora de McGovern, Ann Graybiel , relatam que os camundongos precisam do receptor canabinoide CB1R para estabelecer conexões dentro do sistema de dopamina do cérebro que tomam forma logo após o nascimento. A descoberta levanta a preocupação de que o uso de maconha por ma£es que amamentam, que passam o composto ativador de CB1R THC para seus bebaªs quando amamentam, pode interferir no desenvolvimento do cérebro, interrompendo a sinalização dos canabinoides.
“Esta éuma mudança real para um dos sistemas verdadeiramente importantes do cérebro osum grande controlador de nossa dopaminaâ€, diz Graybiel, que éprofessor do Instituto e membro do corpo docente do Departamento de Canãrebro e Ciências Cognitivas. A dopamina exerce uma poderosa influaªncia sobre nossas motivações e comportamento, emudanças no sistema de dopamina contribuem para distúrbios desde a doença de Parkinson atéo vacio. Assim, dizem os pesquisadores, évital entender se a exposição pa³s-natal a drogas pode colocar em risco o desenvolvimento de circuitos de dopamina.
Os receptores canabinoides no cérebro são importantes mediadores de humor, memória e dor. O laboratório de Graybiel se interessou pelo CB1R devido a sua desregulação nas doenças de Huntington e Parkinson, ambas prejudicando a capacidade do cérebro de controlar o movimento e outras funções. Ao investigar a distribuição do receptor no cérebro, eles descobriram que nos camundongos adultos, o CB1R éabundante em pequenos compartimentos dentro do corpo estriado chamados estriossomos. O receptor estava particularmente concentrado nos neura´nios que conectam os estriossomos a uma área do cérebro rica em dopamina chamada substância negra, por meio de estruturas que a equipe de Graybiel apelidou de buquaªs de estriossomos-dendros.
Os buquaªs de estriossomas-dendros são fa¡ceis de ignorar dentro da rede densamente conectada do cérebro. Mas quando as células que compõem os buquaªs são rotuladas com uma proteana fluorescente, os buquaªs se tornam visaveis ose sua aparaªncia éimpressionante, diz Jill Crittenden, pesquisadora do laboratório de Graybiel.
Os neura´nios estriossomais formam esses buquaªs alcana§ando a substância negra, cujas células usam dopamina para influenciar o movimento, a motivação, o aprendizado e a formação de ha¡bitos. Aglomerados de neura´nios produtores de dopamina formam dendritos que se entrelaa§am fortemente com axa´nios que chegam dos neura´nios estriossomais. As estruturas resultantes, cujas células intimamente associadas se assemelham aos caules agrupados de um buquaª floral, estabelecem tantas conexões que da£o aos neura´nios estriossomais um controle potente sobre a sinalização da dopamina.
Ao rastrear o surgimento dos buquaªs em camundongos recanãm-nascidos, a equipe de Graybiel descobriu que eles se formam na primeira semana após o nascimento, um período durante o qual os neura´nios estriossomais estãoaumentando a produção de CB1R. Ratos geneticamente modificados para não ter CB1R, no entanto, não podem fazer esses buquaªs elaborados, mas ordenados. Sem o receptor, as fibras dos estriossomos se estendem atéa substância negra, mas não formam os “caules buquaªs†bem entrelaa§ados que facilitam extensas conexões com seus alvos. Essa estrutura desorganizada éaparente assim que os buquaªs surgem no cérebro dos filhotes e persiste na idade adulta. “Nãoexistem mais aquelas fibras bonitas e fortesâ€, diz Crittenden. “Isso sugere que esses controladores muito fortes sobre o sistema de dopamina funcionam de forma anormal quando vocêinterfere na sinalização dos canabinoidesâ€.
A descoberta foi uma surpresa. Sem focar nos buquaªs de estriossomas-dendros, seria fa¡cil perder o impacto do CB1R no sistema de dopamina, diz Crittenden. Além disso, ela acrescenta, estudos anteriores sobre o papel do receptor no desenvolvimento se concentraram principalmente no desenvolvimento fetal. As novas descobertas revelam que o sistema canabinoide continua a guiar a formação de circuitos cerebrais após o nascimento.
Graybiel observa que os fundos de doadores, incluindo o Broderick Fund for Phytocannabinoid Research no MIT, a Saks Kavanaugh Foundation, o Kristin R. Pressman e Jessica J. Pourian '13 Fund, o Sr. Robert Buxton e o William N. e Bernice E. Bumpus Foundation permitiu os estudos de sua equipe sobre o papel do CB1R na formação de buquaªs de estriossomos-dendros.
Agora que eles mostraram que o CB1R énecessa¡rio para o desenvolvimento cerebral pa³s-natal, seráimportante determinar as consequaªncias da interrupção da sinalização dos canabinoides durante esse período crítico osincluindo se a passagem de THC para um bebaª em amamentação afeta o sistema de dopamina do cérebro.