Saúde

'Ambiente obesogaªnico' éinvestigado em tese de Enfermagem
Pesquisadora investiga como as pessoas são influenciadas pelas caracteri­sticas dos estabelecimentos alimenta­cios no seu entorno
Por Matheus Espíndola - 06/09/2019

A confluaªncia entre os ambientes fa­sico, econa´mico, pola­tico e sociocultural, geradores de oportunidades que promovem a obesidade, édefinida na literatura como “ambiente obesogaªnico”. “As escolhas alimentares podem ser explicadas por fatores como a disponibilidade, o prea§o e a variedade dos alimentos no comanãrcio em determinado circuito e também dependem de condições demogra¡ficas e sociais”, afirma a nutricionista Patra­cia Pinheiro de Freitas. Vinculada ao Grupo de Pesquisa de Intervenções em Nutrição (GIN), do Departamento de Nutrição da UFMG, ela participou de estudo que buscou relacionar a prevalaªncia do excesso de peso ao ambiente obesogaªnico. 

Foto: Reprodução/EPTV
homem com obesidade ma³rbida

As amostras selecionadas foram as áreas compreendidas em um raio de 1.600 metros em torno de 18 unidades do Programa Academia da Saúde (PAS), em Belo Horizonte. Todos os seus usuários foram investigados. “Os participantes residem perto e circulam nas imediações daqueles centros, que foram escolhidos por serem referaªncia em promoção e vigila¢ncia em saúde”, justifica a nutricionista. A pesquisa resultou na tese de doutorado Ambiente alimentar e excesso de peso em usuários do programa Academia da Saúde, defendida no Programa de Pa³s-graduação em Enfermagem da UFMG, no último maªs de maio, e também serviu de base para artigo publicado no peria³dico Nutrition.

Ao longo da pesquisa, foram coletados dados antropomanãtricos e sociodemogra¡ficos dos usuários com 20 anos ou mais. Paralelamente, foi feita a auditoria de 298 estabelecimentos, mapeando aspectos como a densidade e os tipos de comanãrcios, bem como suas condições sanita¡rias e a disponibilidade, diversidade, variedade, publicidade e prea§o de frutas e hortalia§as.

Sacolaµes e supermercados


No escopo da pesquisa, foram considerados somente os locais onde a população adquire alimentos para serem consumidos em domica­lio. “Os sacolaµes, tidos como estabelecimentos onde se vendem alimentos sauda¡veis, corresponderam a 61,3% dos comanãrcios mapeados. A maioria deles (60,7%) também comercializa alimentos ultraprocessados”, relata a autora. 

De acordo com Patra­cia Freitas, outros trabalhos do grupo de pesquisa mostraram que a qualidade e a higiene dos locais estãoentre os principais influenciadores para a compra de frutas e hortalia§as. “Na auditoria que fizemos, observamos que condições sanita¡rias e a oferta de alimentos frescos são deficientes na maioria dos estabelecimentos, o que pode dificultar o acesso”, observa.

foto Rosa¢nia Felipe 
cientista monitora comunidades para identificar eventuaismudanças no ambiente

A baixa variedade de hortalia§as nos comanãrcios foi associada a  maior ocorraªncia de excesso de peso. “Isso mostra a importa¢ncia da oferta de alimentos sauda¡veis. Os estabelecimentos investigados também apresentaram elevada disponibilidade de alimentos ultraprocessados e fa¡cil acesso a eles. Além disso, contribuem para seu consumo estratanãgias como as propagandas que remetem a  praticidade, baixo custo e sabor agregado, sem o esclarecimento sobre valores nutricionais”, observa a pesquisadora. Segundo Patra­cia Freitas, a prevalaªncia de sobrepeso entre os usuários investigados foi de 62,6%.   

Ao comparar os resultados do mapeamento feito pela equipe do GIN com os dados oficiais do munica­pio, Patra­cia Freitas apurou que a maioria dos dados fornecidos pela Prefeitura de Belo Horizonte estãodesatualizados, especialmente quanto aos comanãrcios menores, em regiaµes mais vulnera¡veis. “Meu primeiro esfora§o foi o de validar a lista de estabelecimentos da prefeitura, já que sua utilização pelos gestores pode prejudicar as políticas públicas de abastecimento e planejamento de ações”, argumenta.

Segundo a autora, o estudo tera¡ continuidade durante sua residaªncia pa³s-doutoral no Programa de Pa³s-graduação em Saúde Paºblica da Faculdade de Medicina. Ela fara¡ o monitoramento das comunidades investigadas e dos usuários ao longo do tempo e do comanãrcio de alimentos, com o intuito de constatar asmudanças no ambiente obesogaªnico e seus impactos na condição corporal dos indiva­duos. Para Patra­cia Freitas, énecessa¡rio compreender os aspectos associados ao desenvolvimento da obesidade para promover intervenções efetivas e sustenta¡veis na sociedade. 

Segundo a pesquisadora, algunspaíses já tem apostado na taxação dos alimentos ultraprocessados como alternativa de controle da epidemia de obesidade. “Mas, além da restrição aos alimentos não sauda¡veis, épreciso criar mecanismos de incentivo a  produção e ao consumo de alimentos sauda¡veis. O principal resultado almejado pelo meu trabalho éo fortalecimento de políticas públicas nesse sentido”, considera. 

 

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