Combate a COVID-19: Dr. Sander van der Linden
Como especialista em ciências psicológicas e comportamentais, sua pesquisa - atérecentemente - se concentrou em riscos sociais, comomudanças climáticas e desinformaa§a£o. De repente, ele tem muito a contribuir para a resposta a pandemia.
Sander van der Linden
"A psicologia das pandemias não estava na minha agenda de pesquisas, mas posso lhe dizer uma coisa: estãoagora", diz Sander van der Linden. Como especialista em ciências psicológicas e comportamentais, sua pesquisa - atérecentemente - se concentrou em riscos sociais, comomudanças climáticas e desinformação. De repente, ele tem muito a contribuir para a resposta a pandemia.Â
Normalmente trabalho no Old Cavendish Laboratory, onde administro o laboratório de decisão social de Cambridge. a‰ um marco hista³rico onde Watson e Crick descobriram a estrutura do DNA. Eu nunca pensei que diria isso, mas sinto falta dos grupos de turismo que param debaixo da minha janela todas as manha£s. Agora trabalho em minha casa em Cambridge, na esquina da Midsummer Common. Como as vacas estãofora nessa anãpoca do ano, muitas vezes trocamos teorias sobre a pandemia quando vou passear. Eles parecem principalmente canãticos, desinteressados ​​e se recusam a usar ma¡scaras, mas nos damos bem de outra maneira.
Na minha opinia£o, a pandemia étanto um problema comportamental quanto biola³gico. Precisamos de uma vacina, mas também precisamos de pessoas em todo o mundo para coordenar seus comportamentos para ajudar a retardar a propagação do varus. Asmudanças comportamentais exigidas va£o desde relativamente mundanas, como lavagens frequentes das ma£os, atésacrifacios pessoais caros, por se auto-isolar em casa. Isso requer conhecimento sobre a cooperação humana, bem como as desigualdades econa´micas e sociais. Modelos que tentam prever os benefacios do amplo distanciamento social e auto-isolamento também dependem de estimativas precisas do comportamento humano sob várias condições.Â
A ciência comportamental também érelevante em termos de como comunicar a ciência ao paºblico em geral , como comunicar incerteza e risco e como proteger as pessoas do ataque de notacias falsas e desinformação sobre o COVID-19. Sinto-me honrado por ter feito parte de um esfora§o para sintetizar o que a ciência comportamental tem a contribuir para a pandemia, como parte de uma equipe de 40 especialistas internacionais em todo o mundo. Espero que o artigo Usando a ciência social e comportamental para apoiar a resposta a pandemia do COVID-19 , publicado na revista Nature Human Behavior , seja útil para os formuladores de políticas.Â
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Minha pesquisa analisa como os seres humanos fazem julgamentos e decisaµes. Isso pode ser sobre informações, riscos, questões sociais ou outras pessoas. Em colaboração com nossos parceiros, desenvolvemos o Bad News , um jogo online interativo premiado. Ajuda a inocular jogadores contra notacias falsas e desinformação, incluindo notacias falsas sobre o COVID-19. Contamos com a analogia biomédica: assim como a administração de uma dose enfraquecida de um varus desencadeia a produção de anticorpos para conferir imunidade a infecções futuras, o mesmo pode ser alcana§ado com as informações. Ao expor ativamente as pessoas a doses severamente enfraquecidas das ta¡ticas usadas para produzir notacias falsas, as pessoas ganham imunidade psicológica (ou 'anticorpos' mentais) contra desinformação.Â
Utilizamos uma grande variedade de manãtodos para estudar a tomada de decisão humana. Frequentemente testamos nossas intervenções "na natureza", por exemplo, nosso estudo no site de notacias da BBC testou como as pessoas reagem a incerteza sobre fatos cientaficos e, quando a "realidade" não éuma opção, usamos a realidade virtual! Portanto, de certa forma, nossa capacidade de pesquisar não foi afetada massivamente pela pandemia. Grande parte disso acontece online, usando manãtodos experimentais e computacionais, pesquisas online e 'big data'.Â
O comportamento humano énotoriamente varia¡vel e difacil de mudar e prever. Eu acho que éum dos maiores desafios dessa pandemia. Se não acertarmos, háuma chance de a propagação do varus se recuperar novamente a medida que as restrições forem relaxadas. O fluxo constante de desinformação também éum grande desafio. Por exemplo, campanhas concertadas de desinformação tem o potencial de minar a disposição do paºblico de vacinar se as pessoas não acreditarem que a vacina ésegura. Além disso, várias nações lideres do mundo não adotaram estratanãgias baseadas em evidaªncias, o que éum grande obsta¡culo.Â
Fiquei realmente impressionado com a maneira como a comunidade de pesquisa se reuniu tão rapidamente. Estou no conselho de administração do Winton Center for Risk and Evidence Communication, que conseguiu rastrear a opinia£o pública sobre o COVID-19 em todo o mundo quase que imediatamente. O Centro concentrou muitos de seus recursos para ajudar a fornecer dados emparicos sobre a melhor maneira de comunicar evidaªncias durante a pandemia. A assessoria de imprensa de Cambridge também foi fanta¡stica ao ajudar os pesquisadores a comunicar suas descobertas e conhecimentos.Â
Meu pra³prio programa de pesquisa me ensinou o poder de uma abordagem proativa. Prevenção émelhor que a cura. As pessoas esquecem que isso também se aplica a psicologia e a comunicação. Por exemplo, a inoculação éproteger preventivamente as pessoas contra danos futuros, tanto no sentido biola³gico quanto no psicola³gico. O mesmo vale para a comunicação de risco. Grande parte da resposta ao COVID-19 foi reativa, tarde demais e não estava bem preparada. Uma das maravilhas do cérebro humano éa nossa capacidade de simular o futuro. Podemos comea§ar agora.
Quando a pandemia termina, estou ansioso por tomar uma cerveja gelada com amigos a menos de um metro e meio de distância. Mal posso esperar para me sentar ao sol com colegas, familiares e amigos e rir novamente. Sa£o as pequenas coisas da vida. Nas palavras de Sir Arthur Conan Doyle: "Ha¡ muito tempo éum axioma que as pequenas coisas são infinitamente as mais importantes".
Sander van der Linden édiretor do Laborata³rio de Tomada de Decisão Social de Cambridge no Departamento de Psicologia e membro do Churchill College.