Uma vez deslocada pela guerra, Azra Akšamija do MIT cria trabalhos de resiliencia cultural em face do conflito social.

A professora do MIT, Azra AkÅ¡amija, éuma artista, arquiteta e acadaªmica incomumente versa¡til cujo trabalho explora a identidade cultural e o conflito - Cortesia de Azra AkÅ¡amija
Na primavera de 2016, uma impressionante instalação de arte foi construada fora do prédio E15 do MIT. O trabalho consistia em 20.000 pequenos quadrados verdes de plexiglass, com intrincados orifacios cortados em cada um, representando pea§as desaparecidas ou ameaa§adas de extinção do patrima´nio cultural global, incluindo edifacios, monumentos e esculturas. Anexados a uma cerca de cerca de 12 metros de altura, os quadrados formaram coletivamente uma imagem do Arco do Triunfo de Palmira, na Saria, um antigo tesouro destruado por fundamentalistas em 2015.
Iluminada a noite ou tremeluzindo durante o dia, esta instalação - a “Matriz de Mema³ria†- foi um poderoso lembrete da fragilidade de nossas criações culturais em face de conflito e contenda. Mas também representou a resiliencia humana e a força da colaboração: cerca de 700 pessoas ajudaram a construa-lo, incluindo membros da comunidade do MIT de 11 departamentos e programas diferentes e participantes do Egito e Jorda¢nia.
“Esse projeto foi incravel, por causa da construção de solidariedade que criou em todo o campus e internacionalmenteâ€, disse a professora associada do MIT, Azra AkÅ¡amija, que criou a ideia para a instalação. Â
AkÅ¡amija éum artista, arquiteto e acadêmico incomumente versa¡til cujo trabalho explora a identidade cultural e o conflito. Sua própria carreira exemplifica a resiliencia: AkÅ¡amija experimentou o deslocamento como uma mua§ulmana ba³snia cuja familia partiu no inicio da década de 1990 para escapar da guerra em casa. Tendo passado grande parte de sua vida na austria, nos Estados Unidos e na Alemanha, seu trabalho frequentemente explora os encontros entre o Isla£ e o Ocidente.
Entre outras distinções, AkÅ¡amija recebeu o Praªmio Aga Khan de Arquitetura de 2013 por seu projeto de elementos simba³licos de um espaço de oração, no primeiro cemitanãrio mua§ulmano da austria, em Altach (o pra³prio cemitanãrio foi projetado por Bernardo Bader). Alguns de seus designs mais conhecidos são arte vestavel, incluindo seu “Frontier Vest†de 2006, uma vestimenta que funciona como uma jaqueta para refugiados e pode ser transformada em um xale de oração judaico ou um tapete de oração isla¢mico. AkÅ¡amija detalhou muitas de suas ideias em um livro de 2015, “Manifesto da Mesquita - Proposições para Espaços de Coexistaªnciaâ€.
Ela também foi construtora de programas no MIT, fundando o Future Heritage Lab (FHL), que se concentra na preservação cultural. No campo de refugiados de Al Azraq, na Jorda¢nia, os membros do FHL, junto com seus parceiros da Universidade German-Jordanian, ajudaram refugiados sarios a documentar suas vidas por meio de fotografia, design e poesia; o trabalho foi exibido na 2017 Amman Design Week.
Nos últimos três anos, residentes do acampamento, membros do FHL e alunos do MIT desenvolveram um livro sobre invenções de refugiados, que seráusado no primeiro curso online baseado em estaºdio de design do MIT, “ Design e Escassez †(co-ministrado por AkÅ¡amija e FHL diretora do programa, Melina Philippou). O livro também serátraduzido para o acampamento e toda a regia£o.
“Quando vocêtrabalha em um espaço paºblico, não se trata de chegar a um consenso, onde todos temos a mesma opinia£o e vivemos felizes juntosâ€, diz AkÅ¡amija. “Trata-se de aceitar e chegar a um acordo com atitudes e ideias conflitantes e abrir espaço para elasâ€.
Os refugiados do campo de Al Azraq, diz AkÅ¡amija, “projetam artefatos que são parcialmente utilita¡rios, mas visam preservar a dignidade humana e a memória, e manter a sensação de quem vocêanã. a‰ poderoso. â€
“Fazendo coisas desde que pude pensarâ€
AkÅ¡amija cresceu em Sarajevo, agora parte da Ba³snia e Herzegovina. Um de seus ava³s foi um arquiteto talentoso que estudou em Praga e, diz ela, “trouxe o modernismo tcheco de volta a Ba³sniaâ€. O design atraiu o interesse de AkÅ¡amija desde jovem.
“Tenho feito coisas desde que pude pensar em mimâ€, diz AkÅ¡amija. “Quando criana§a eu era completamente obcecado por desenho e escultura, o que fazia por horas. Além disso, para sair das minhas aulas de piano, eu fazia essas esculturas de plasticina e depois as exibia no piano, para distrair o professor de piano. â€
Na anãpoca, Sarajevo fazia parte da república maior da Iugosla¡via. Mas em 1992, após o inicio da guerra nos Ba¡lca£s, AkÅ¡amija e sua familia se mudaram para a Alemanha, depois para a austria, para escapar do conflito. Na graduação, AkÅ¡amija estudou arquitetura na Universidade de Tecnologia de Graz. Ainda assim, diz ela, a universidade “tinha aulas de arte incraveis†e ela queria incorporar a arte em sua carreira.
AkÅ¡amija frequentou a escola de pós-graduação na Universidade de Princeton, recebendo seu mestrado em 2004, enquanto se tornava ativa artisticamente; em 2004, seu trabalho foi exibido em instituições e exposições de altonívelem Viena, Valaªncia, Leipzig e Liverpool. Juntando-se ao programa de doutorado do MIT em história e teoria da arquitetura, AkÅ¡amija continuou a criar arte; além de "Frontier Vest", ela produziu obras nota¡veis ​​como "Survival Mosque" (2005), uma mesquita vestavel e porta¡til equipada com uma ca³pia da Constituição dos Estados Unidos, tampaµes de ouvido (para bloquear os insultos que os mua§ulmanos possam ouvir), livros, e mais. Logo seu trabalho foi exibido nos principais museus de arte de Londres, Nova York e Berlim.
Alguns dos projetos de AkÅ¡amija desse período seguiram novas direções. Com nove outros artistas e arquitetos, AkÅ¡amija foi co-curador da “Expedição da Rodovia Perdida†em 2006, uma caminhada em que 300 pessoas percorreram a Rodovia da Fraternidade e da Unidade que conecta as capitais da ex-Iugosla¡via.
“Depois da guerra, pensei: 'Nunca mais irei para a Sanãrvia na minha vida'â€, disse AkÅ¡amija. Poranãm, para a caminhada, “tivemos eventos em cidades e vocêteve que encontrar seu pra³prio caminho, teve que fazer amigos. E foi assim que fui pela primeira vez aos territa³rios com os quais meupaís estava em guerra. †Embora o projeto fosse desafiador, ela diz: “Foi importante comea§ar a discutir tópicos difaceis. Isso não significa que eles estãototalmente resolvidos. Infelizmente, ainda hámuitas pessoas negando que o genocadio aconteceu na Ba³snia. â€
Para sua dissertação, trabalhando com os professores do MIT Nasser Rabbat e Caroline Jones, bem como Andra¡s Riedlmayer da Universidade de Harvard , AkÅ¡amija analisou a segmentação sistema¡tica do patrima´nio cultural na Ba³snia e Herzegovina durante a guerra de 1992-95, examinando como os mua§ulmanos ba³snios restauraram mesquitas que haviam foi destruado.
“Esses edifacios foram atacados porque os nacionalistas queriam revisar a história e alienar as pessoas a ponto de nunca quererem viver juntas no futuroâ€, diz AkÅ¡amija.
As questões que impulsionam sua pesquisa se aplicam a qualquer lugar, diz AkÅ¡amija. “Com os Ba¡lca£s, podemos aprender lições importantes sobre como vivemos em Espaços comuns fragmentados. Quando isso desmorona, como vocêse reconecta? De que tipos de instituições culturais precisamos para superar as divisaµes e responsabilizar os governos? a‰ relevante globalmente. Quem tem o direito de escrever sua história, de ser visível no espaço paºblico, e quem decide essas coisas? â€
Depois de ingressar no corpo docente do MIT, Akšamija conquistou o cargo em 2019.
Tornando-se vocêmesmo
No MIT, Akšamija achou gratificante ver os alunos gravitarem em torno de suas aulas, de projetos como “Memory Matrix†e do Future Heritage Lab.
“Os alunos do MIT se preocupamâ€, diz AkÅ¡amija. “Eles realmente querem fazer algo para contribuir com este mundo. Este lugar étão inspirador. â€
Ao mesmo tempo, ela observa, o Instituto pode ser um ambiente acadêmico intenso e os instrutores precisam ajudar a manter o puro prazer de aprender.
“Vocaª [pode] perder de vista por que começou a fazer as coisas e o que inicialmente atraiu vocêpara elas, e isso pode ser opressorâ€, diz AkÅ¡amija. “Vocaª vaª isso com os alunos. Gosto de criar alegria nas coisas, especialmente nas aulas. a‰ por isso que étão incravel ensinar aqui, porque os alunos são tão cheios de entusiasmo e alegria. Mas também a s vezes ansiedade, e acho que todos nostemos a responsabilidade aqui, como professores, de cuidar disso. Nãose trata de alunos atuando para outra pessoa, mas se tornando versaµes melhores de si mesmos. â€
AkÅ¡amija chama a direção atual de sua pesquisa de “Preservação Performativaâ€. Esta éuma abordagem de preservação cultural que usa “manãtodos de arte contemporâneae arte participativaâ€. Ela enfatiza que a participação e a cocriação são cruciais para a restauração cultural; as estruturas físicas podem ser reconstruadas, mas não tera£o significado sem o envolvimento da comunidade.
Seu trabalho estãoagora em exibição na Galeria de Arte Contempora¢nea, em Leipzig, Alemanha, e no Museu Aga Khan em Toronto, com um novo trabalho programado para a 17ª Exposição Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, em maio de 2021. Curadoria de Hashim Sarkis, reitor da Escola de Arquitetura e Planejamento do MIT, o tema da Bienal é“Como viveremos juntos?†O projeto de AkÅ¡amija, “Silk Road Worksâ€, um canteiro de obras simba³lico para uma sociedade pluralista, fara¡ parte de uma seção no Arsenale intitulada “Entre Seres Diversosâ€.
Como sempre, AkÅ¡amija espera uma resposta atenciosa de seu paºblico, sem saber exatamente o que sera¡.
“Quando vocêtrabalha em um espaço paºblico, não se trata de chegar a um consenso, onde todos temos a mesma opinia£o e vivemos felizes juntosâ€, diz AkÅ¡amija. “Trata-se de aceitar e chegar a um acordo com atitudes e ideias conflitantes e abrir espaço para elasâ€.