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Artigo cienta­fico equaciona condições climáticas, combate ao fogo e vulnerabilidade de inda­genas a covid-19
Estudo da UnB em 19 zonas de terras dos povos tradicionais mostra que seca não éana´mala na maior parte e casos de infeca§a£o aumentaram nas comunidades
Por UnB - 01/09/2020


Artigo aponta que não houve mudança nas condições climáticas nos locais analisados. Foto: Christian Braga/Greenpeace

Um artigo cienta­fico produzido na UnB faz um cruzamento das informações de condições climáticas, risco de incaªndio e população inda­gena com covid-19. O texto, de autoria dos professores Rafael Rodrigues da Franca e Ruth Laranja, ambos do Departamento de Geografia, e das alunas do curso de Geografia Sara Epifa¢nio, Ananda Santa Rosa e Kamila de Moraes, foi submetido a  Revista Brasileira de Geografia Fa­sica e estãosob aprovação.

A pesquisa avaliou 19 zonas de terras inda­genas de sete estados brasileiros — Mato Grosso do Sul, Goia¡s, Minas Gerais, Tocantins, Acre, Para¡ e Maranha£o —, agrupadas em quatro posteriormente, para análise da quantidade de chuvas e de casos da covid-19. Os resultados apontaram que não houve mudança nas condições climáticas nos locais analisados e a seca presente não éana´mala, exceto no Pantanal e em parte do Brasil Central. 

A estiagem, o clima quente e o acaºmulo de combusta­vel orga¢nico seco no ambiente podem, muitas vezes, ocasionar as queimadas. Além dos incaªndios não provocados, háo fogo das queimas prescritas que, se mal manejado, pode prejudicar a saúde dos inda­genas que vão sendo acometidos pela covid-19.
  
Até17 de julho, cerca de 479 inda­genas haviam morrido pela covid-19 e as zonas observadas acumularam 12.212 casos de transmissão da doena§a, conforme dados das secretarias estaduais de Saúde. “O primeiro caso de inda­gena [contaminado] foi registrado em mara§o, no Norte dopaís, mas em abril a doença se disseminou em grande amplitude”, conta Sara Epifa¢nio, aluna do sanãtimo semestre e uma das autoras do trabalho.

Ela alerta que, embora a portaria da Fundação Nacional do andio (Funai) nº 419/2020 tenha proibido a entrada de civis nas terras inda­genas, exceto para atividades essenciais relacionadas a  saúde, segurança e entrega de alimentos, medicamentos e combusta­vel, como medida de contenção a  propagação do novo coronava­rus, essa população pode ter contato com brigadistas que fazem a prevenção e o combate aos incaªndios nessas áreas, o que pode agravar as taxas, já cra­ticas, de transmissão da doença nessas comunidades.

Além disso, a necessidade de deslocamento dos a­ndios aos centros urbanos para compra de alimentos ou para atendimentos em saúde, a prática de compartilhamento de utensa­lios e a entrada ilegal de pessoas nas comunidades para garimpo, desmatamento, caça e pesca também contribuiu para o aumento de casos.

“Essa éa população mais vulnera¡vel, que não tem acesso aos servia§os de saúde e, a s vezes, atéo pra³prio médico que estãoatendendo [os inda­genas] pode transmitir a covid-19, explica Sara.

ESTRATa‰GIAS DE COMBATE — Entre os outros problemas analisados no artigo, o professor do Laborata³rio de Climatologia Geogra¡fica Rafael Rodrigues da Franca afirma que a fumaa§a que vem da queima prescrita éprejudicial para os inda­genas e piora os quadros respirata³rios, o que pode agravar o estado de saúde daqueles que estãocom covid-19 e, os que não estão, podem confundir os sintomas com os da doena§a.

"A queima prescrita éuma queimada controlada, feita todos os anos e praticada precocemente com a finalidade de prevenir os grandes incaªndios florestais no final da estação seca”, explica o professor. De maneira geral, as queimadas não ocorrem devido a essa prática ou a s alterações climáticas, mas em função das atividades de garimpos e madeireiras, do desmatamento e da produção agra­cola que adentra os territa³rios inda­genas. 

O artigo cienta­fico recomenda ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renova¡veis (Ibama) e a  Funai a formulação de planos estratanãgicos para estimular a população em geral a se conscientizar do risco de fogo na estiagem, monitorar diariamente a situação da covid-19 em terras inda­genas, analisar a qualidade do ar nas regiaµes estudadas e disponibilizar combusta­vel para apoiar as rondas preventivas de queimadas pelos povos inda­genas e pelos brigadistas.

Outras sugestaµes são estabelecer acampamentos-base distante das aldeias; realizar a compra de testes rápidos, luvas e máscaras para os brigadistas; evitar o contato com as populações inda­genas e não fazer a troca de utensa­lios/equipamentos durante as ações sem higiene adequada.

 

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