Talento

O pesquisador encontra inspiração para o futuro do planeta na arte latino-americana
Joanna Page tem explorado como o trabalho de artistas latino-americanos pode ajudar a trazer a humanidade de volta ao relacionamento com a natureza e nos dar esperana§a para o futuro do planeta.
Por Charis Goodyear - 25/03/2021


Reprodução

Tenho pesquisado novos projetos de arte na Amanãrica Latina que se envolvem diretamente com ideias e manãtodos cienta­ficos. Alguns deles desenvolvem novas tecnologias especulativas, por exemplo, ma¡quinas que usam micróbios para limpar ambientes polua­dos. Outros tornam a inteligaªncia criativa de outras espanãcies mais visível e auda­vel para nós, ou nos mostram como eles cooperam e coevoluem entre si para formar ecossistemas que são resilientes amudanças.

A arte sempre desempenhou um papel importante em ajudar os cientistas a registrar descobertas, criar modelos ou interpretar dados. Mas quando as artes entram em cena, elas também expandem nossa compreensão de como a ciência se conecta com outras formas de conhecimento e experiência.

Acredito que quando vocêolha para o cruzamento entre arte e ciaªncia, isso nos desafia a pensar sobre a importa¢ncia de se mover entre diferentes disciplinas. Quando vocêpensa sobre alguns dos debates urgentes de nosso tempo, como mudança climática e modificação genanãtica, todas essas ideias cortam as divisaµes entre ciência e cultura, pola­tica e anãtica.

Precisamos de pessoas que sejam especialistas em áreas especa­ficas, mas também precisamos de pessoas que possam se mover e traduzir entre elas. Na verdade, acho que todos nosnos beneficiara­amos ao compreender como a ciência se cruza com muitas outras maneiras de dar sentido ao mundo.

A relação entre ciência e natureza érealmente interessante de se pensar no contexto da Amanãrica Latina ou do Sul Global de forma mais geral. Ele aprimora nossa compreensão das relações entre ciaªncia, pola­tica e capitalismo, e a anãtica do conhecimento.

Quando a Europa colonizou as Amanãricas, uma vasta economia extrativista foi implantada. Ospaíses europeus extraa­ram muitas riquezas da Amanãrica Latina, o que permitiu que se modernizassem. Estamos falando de séculos de extração que causaram uma enorme devastação ambiental.

O dano não foi apenas ao ambiente natural, mas também afetou os sistemas de pensamento. Muitos pensadores descoloniais falam sobre epistemica­dio - a ideia de que sistemas inteiros de pensamento foram marginalizados e atédestrua­dos a  medida que formas europeias de pensar foram impostas ao resto do mundo.

Durante o século 18, o conhecimento inda­gena local na Amanãrica Latina foi deliberadamente substitua­do pelo tipo de sistema de universalização que estava sendo desenvolvido na Europa na anãpoca. Por exemplo, os povos inda­genas muitas vezes categorizaram as plantas com base em seus usos - se eram aºteis para comida ou remanãdio ou se eram venenosas. Os europeus usaram o sistema Linnaean, que se baseia muito na aparaªncia da planta. a‰ um sistema abstrato que isola uma espanãcie de seu papel no ecossistema.

As filosofias inda­genas geralmente entendem os humanos como parte da natureza, em vez de estarem separados dela ou mesmo acima dela. Esses sistemas tendem a ser muito mais relacionais. O material não estãoseparado do espiritual. Eles se aproximam das formas de vida, não como algo que pode ser saqueado, manipulado ou controlado, mas como algo a ser respeitado. A ideia édar a outras espanãcies, e aos ecossistemas como um todo, o direito de buscar a vida, assim como nós, como humanos.

Em minha pesquisa, os artistas latino-americanos que conheci estãounindo arte com ciência para expandir nosso pensamento e trazer os humanos de volta ao relacionamento com a natureza. Em vez de enfatizar o poder da humanidade de intervir na natureza, esses artistas estãomuito mais interessados ​​em explorar a inteligaªncia e a criatividade de outras formas de vida, incluindo plantas, animais, fungos e micróbios.

O pensamento ocidental separou o espiritual, o cultural e o social da ciência e isso teve um custo enorme. Vocaª não precisa acreditar que uma montanha éuma divindade para ver que podemos aprender muito com as culturas que entendem que a saúde de tudo - incluindo os humanos - em um ecossistema écodependente.

Os projetos de arte-ciaªncia que tenho pesquisado exploram como podemos criar relações mais colaborativas com outras espanãcies no futuro. Eles nos da£o esperana§a de que podemos usar a ciência e a tecnologia para nos ajudar a viver mais em equila­brio com nosso meio ambiente.

Joanna Page em frente a uma ponte nos jardins do Robinson College
Joanna falara¡ sobre sua última pesquisa no Festival de Cambridge. Ela apresentara¡ projetos de arte multima­dia inovadores que se baseiam em novas pesquisas cienta­ficas para nos ajudar a imaginar relações mais sustenta¡veis ​​entre humanos, tecnologia e meio ambiente. O evento acontecera¡ na sexta-feira, 26 de mara§o, das 18h a s 19h GMT. Reserve o seu lugar gra¡tis .

Seu projeto de pesquisa mais recente, financiado pela British Academy, foi intitulado 'Ciência e Artes na Amanãrica Latina Contempora¢nea: Construindo uma Vida em Comum'. Uma monografia relacionada, Decolonizing Science in Latin American Art , serápublicada com a UCL Press (abril de 2021).

a‰ Leitora de Literatura Latino-Americana e Cultura Visual e Diretora de Estudos em La­nguas Modernas e Medievais no Robinson College. Atualmente dirige o MPhil em Estudos Latino-Americanos.

 

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