Talento

O conservacionista que iniciou uma tendaªncia no Twitter e salvou a vida selvagem de Naira³bi
Nyandire Reinhard acredita que a chave para proteger os ecossistemas épromover o amor pela natureza na comunidade.
Por Charis Goodyear - 24/04/2021


Nyandire Reinhard no edifa­cio David Attenborough por Sir Cam   


Nyandire Reinhard acredita que a chave para proteger os ecossistemas épromover o amor pela natureza na comunidade. Ele conta a história de como a ma­dia social gerou uma revolução nos corações do paºblico, jornalistas e pola­ticos para preservar a liberdade da vida selvagem de Naira³bi.


Cresci em uma vila no Quaªnia e vim de uma familia muito pobre. Perdemos um dos meus irmãos mais novos porque não poda­amos pagar o medicamento, que valia apenas $ 4. Era normal fazer apenas uma refeição por dia. Mas eu nunca disse que a gente estava sofrendo, ou faltou, porque meus vizinhos também eram assim.

Uma tarde, quando eu tinha cerca de 13 ou 14 anos, estava sentado com minha ma£e do lado de fora de nossa casa de barro e estava QUENTE. Era ini­cio de fevereiro e a grama estava amarela e seca. Minha ma£e estava olhando para o norte envolta em pensamentos profundos e distantes. Ela murmurou: “Nunca vi esse tipo de seca”.

Esse incidente ficou comigo e, embora eu não tenha entendido na anãpoca, mais tarde eu o relacionei com asmudanças climáticas. Despertou uma curiosidade que culminou na paixa£o por compreender e proteger o meio ambiente.

 
Nyandire Reinhard do lado de fora do edifa­cio David Attenborough

Estudei Planejamento e GestãoAmbiental na Universidade Kenyatta, apesar de todos me dizerem que eu acabaria varrendo as ruas ou plantando a¡rvores. Naquela anãpoca era visto como um curso para falhas!

Foi durante meu último ano de estudos que aprendi sobre a conservação da vida selvagem. Descobri o quanto éfundamental para os ecossistemas, o meio ambiente e o clima.

Leaµes em primeiro plano com a cidade ao fundo 
Parque Nacional de Nairobi

Foi um lea£o e uma a¡guia que me fizeram apaixonar pelo Parque Nacional de Nairobi. Esses avistamentos foram minha primeira experiência de ver a vida selvagem e, a partir daquele dia, o Parque conquistou meu coração.

Eu morei no Quaªnia por toda a minha vida e Naira³bi, uma cidade que estãolado a lado com o Parque, por cinco anos e, no entanto, esta foi a minha primeira visita. Como para a maioria dos outros jovens quenianos, o parque a  minha porta era caro demais para ser visitado.

A associação de Amigos do Parque Nacional de Naira³bi (FoNNaP) consistia em grande parte de quenianos brita¢nicos mais velhos ou estrangeiros. Muitos quenianos se desligaram da questãoda conservação da vida selvagem e sentiram que ela pertencia aos turistas - era para: “eles, não nós”.

Rinoceronte em primeiro plano com a cidade ao fundo
Parque Nacional de Nairobi

Depois de comea§ar a trabalhar com o FoNNaP, percebi rapidamente que, para o Parque sobreviver, as coisas precisavam mudar e rápido. Eu criei iniciativas para trazer jovens para o Parque em contagens de caça e expedições gratuitas ou por uma taxa simba³lica.

O Parque estava ameaa§ado pelo crescimento da cidade, que já havia invadido antigos caminhos migrata³rios. Antigamente, estes corriam das regiaµes do Monte Quaªnia, passando pelo Parque Nacional de Naira³bi, atéo Parque Nacional Ambosseli, passando pelo corredor de migração da vida selvagem Athi-Kapiti. Uma linha fanãrrea foi construa­da atravanãs do Parque e também vimos a introdução de espanãcies de plantas invasoras.

Agora, novos planos estavam no horizonte para fechar o aºnico corredor de terra restante que conectava o Parque a uma área de dispersão. Isso significaria cercar o Parque - essencialmente transformando-o em um zoola³gico. Tambanãm houve propostas para a construção de mais pousadas, heliporto, spa e piscina no já sufocado Parque. Isso bateu na narrativa de que a vida selvagem era para os turistas, a elite, os poucos selecionados.

Por volta dessa anãpoca, a pandemia COVID-19 estava varrendo o mundo, os turistas pararam de vir e Naira³bi estava confinada. Iniciei conversas e construa­ parcerias com a ma­dia, grupos conservacionistas e a comunidade local. Fizemos acordos com guias tura­sticos para tornar a entrada no Parque mais acessa­vel e fizemos campanhas nas redes sociais para encorajar mais quenianos a visita¡-lo. Funcionou.

A população local se apaixonou pela vida selvagem, pela natureza e pela beleza. Na anãpoca, os na­veis de poluição eram tão baixos que dava para ver o Monte Quaªnia e o Monte Kilimanjaro do Parque. Os quenianos mais uma vez valorizaram a natureza.

Os quenianos compartilharam suas fotos nas redes sociais e os jornalistas começam a pegar na história. Filmamos um documenta¡rio de três dias sobre os desafios enfrentados pelo Parque; foi ao ar no noticia¡rio que estimulou petições online exigindo responsabilização. Atécomea§amos a ser tendaªncias no Twitter. A mensagem era clara: “Salve o Parque Nacional de Nairobi”.

O povo venceu; os pola­ticos começam a notar, o sistema legal interveio e as questões de cercas e construção pararam. Um ministro criou uma força-tarefa para investigar como reconectar o Parque Nacional de Naira³bi ao corredor de migração original.

Hoje sou estudante do curso de Mestrado em Liderana§a em Conservação de Cambridge. Amo este programa - ele me ensinou muito, mas acima de tudo aprendi que a chave étentar criar nos outros o amor pela natureza, garantindo o futuro da humanidade, dos ecossistemas, do clima e do nosso planeta. Ha¡ esperana§a.

 

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