Talento

O estudante de medicina que cavou fundo para superar desafios
Ele compartilha como suas experiências o moldaram - e como écomea§ar a universidade durante uma pandemia global.
Por Charis Goodyear - 20/06/2021


Buraq Ahmed no Fitzwilliam College por Lloyd Mann

O estudante de medicina da Fitzwilliam College, Buraq Ahmed, teve mais do que seu quinha£o de desafios a superar. Chegando ao Reino Unido do Iraque em 2005 para tratamento médico de rotina, ele ficou preso quando o conflito se intensificou. Ele compartilha como suas experiências o moldaram - e como écomea§ar a universidade durante uma pandemia global.

Eu nasci com uma condição médica chamada displasia do quadril. O tratamento dispona­vel no Iraque não era a³timo. Mas minha familia teve a sorte de poder me enviar ao Reino Unido para tratamento médico particular aos cinco anos. Eu ficaria com minha ava³, que morava em Cardiff, e então voltaria para o Iraque assim que tivesse saúde plena.

Mas a guerra começou a esquentar no Iraque. Minha ava³ e eu ficamos presos. Fala¡vamos muito pouco inglês e simplesmente não saba­amos o que fazer.

Meus pais nos enviaram todo o dinheiro que puderam ganhar, o que era muito pouco, pois a maioria dos trabalhos havia sido interrompida. Já hava­amos gasto grande parte de nossas economias no meu tratamento.

Buraq Ahmed fora do Fitzwilliam College

Eu estava perdendo educação, então comecei na aula de recepção local. Eu era jovem, o que tornava mais fa¡cil me instalar rapidamente. Nessa idade vocênão se preocupa muito com a cultura, apenas come, brinca e se diverte.

Eu falava em inglês ou galaªs durante o dia e mudava para o a¡rabe quando estava em casa a  noite. Acho que foi muito mais difa­cil para minha ava³, estar longe de seupaís e fama­lia.

Liga¡vamos para meus pais uma vez por semana de uma biblioteca ou cibercafanã. Foi uma anãpoca agridoce, ver minha fama­lia, mas ouvir sobre o que estava acontecendo no Iraque.

Quando meu irmão mais novo nasceu, meus pais decidiram que precisavam deixar o Iraque. Eles tinham visto a vida dos meus outros irmãos tão perturbada pela guerra e não queriam que isso acontecesse novamente.

Foi uma anãpoca estressante saber que minha familia estava cruzando fronteiras perigosas. Esperamos por nota­cias e eventualmente soubemos que eles haviam recebido asilo como refugiados na Banãlgica. Quando eles estavam um pouco mais acomodados e meu pai encontrou trabalho, fizemos a jornada para encontra¡-los.

Acho que o encontro foi mais emocionante para minha ava³, pois ela estava vendo seu filho novamente. Para mim foi quase como se estivesse conhecendo novas pessoas. Eu tinha 14 anos na anãpoca. Eu realmente não sabia o que sentir. Eu estava apenas tentando processar a situação.

Naquela anãpoca, também mudei de escola. Minha escola anterior não era tão focada academicamente quanto minha nova escola. Enquanto antes eu estava navegando, de repente me vi no final da classe. Decidi que precisava comea§ar a trabalhar e tentar ter certeza de que alcana§aria meus objetivos na vida.

Sempre quis ser médica, desde que uma enfermeira me animou sentando e assistindo desenhos animados comigo quando eu era pequena no hospital. Eu olho para trás e penso como ela deve ter estado ocupada naquele dia e como ela tirou um tempo para cuidar de mim. Lembro-me de como me senti feliz e segura.

Meus pais ficaram maravilhados quando souberam que eu havia entrado em Cambridge para estudar medicina. Acho que eles ficaram bastante surpresos com a quantidade de progresso acadêmico que eu fiz nos últimos anos e, para ser honesto, eu também. Foi uma anãpoca muito feliz.

A pandemia significou que foi um ano muito difa­cil para comea§ar a universidade, mas acho que, como um grupo de curso, todos nosrealmente nos unimos por causa dos desafios - somos como uma equipe ou uma fama­lia. Esta¡vamos todos juntos e agora estamos do outro lado.

Em uma nota mais pessoal, outra dificuldade foi equilibrar o gerenciamento da dor ao lado do meu trabalho. O medicamento que tomo me deixa sonolento, então preciso tirar sonecas durante o dia. As palestras que acontecem remotamente tornaram isso mais fa¡cil, mas no pra³ximo ano pode ser mais difa­cil. Tenho certeza que vou encontrar uma maneira de resolver isso!

Acabamos de terminar nossos exames de fim de ano e meus amigos me disseram: "vocêéum roba´, como consegue ficar tão calmo, esta¡vel e equilibrado?" e honestamente, não sei! Mas acho que provavelmente atribuiria isso a tudo que passei. Acho que se tornou bastante normal para mim precisar cavar fundo e encontrar algum tipo de motivação para seguir em frente, fazer o melhor que posso e chegar ao outro lado.

Eu penso comigo mesmo, “em cinco anos serei um médico totalmente qualificado, fazendo o que sempre quis fazer,” - e essa étoda a motivação de que preciso. E pensar a curto prazo também ajuda - imaginar passar um tempo com os amigos após os exames sem nada com que se preocupar.

Acho que minha perspectiva éfazer o ma¡ximo que puder. Como vimos no ano passado, sem todos dando uma ma£ozinha, não estara­amos na posição agora em que tantas pessoas são vacinadas. As coisas estãocomea§ando a ficar mais brilhantes.

 

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