Talento

Dois pesquisadores ganhe o Nobel de medicina por mostrar como reagimos ao calor, toque
O comitaª disse que suas descobertas chegam a 'um dos grandes mistanãrios que a humanidade enfrenta': como sentimos nosso ambiente.
Por David Keyton e Maria Cheng - 06/10/2021


Patrik Ernfors, membro do Comitaª Nobel, a  direita, explica o Praªmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2021 durante uma coletiva de imprensa no Instituto Karolinska em Estocolmo, Suanãcia, segunda-feira, 4 de outubro de 2021. O Praªmio Nobel no campo da fisiologia ou medicina foi concedido aos cientistas americanos David Julius e Ardem Patapoutian. Eles foram citados pela descoberta de receptores para temperatura e tato. Os vencedores foram anunciados na segunda-feira por Thomas Perlmann, secreta¡rio-geral do Comitaª do Nobel. Crédito: Jessica Gow / TT via AP

Dois cientistas ganharam o Praªmio Nobel de Medicina na segunda-feira por suas descobertas sobre como o corpo humano percebe a temperatura e o tato, revelações que podem levar a novas formas de tratar a dor ou atémesmo doenças carda­acas.

Os americanos David Julius e Ardem Patapoutian identificaram separadamente os receptores na pele que respondem ao calor e a  pressão, e os pesquisadores estãotrabalhando em drogas para direciona¡-los. Alguns esperam que as descobertas possam levar a tratamentos contra a dor que reduzam a dependaªncia de opioides altamente viciantes. Mas os avanços, ocorridos décadas atrás, ainda não produziram muitas novas terapias eficazes.

Julius, da Universidade da Califórnia em San Francisco, usou capsaicina, o componente ativo da pimenta malagueta, para ajudar a localizar os sensores nervosos que respondem ao calor, disse o Comitaª do Nobel. Patapoutian, do Scripps Research Institute em La Jolla, Califa³rnia, encontrou sensores sensa­veis a  pressão em células que respondem a  estimulação meca¢nica.

“Isso realmente revela um dos segredos da natureza”, disse Thomas Perlmann, secreta¡rio-geral da comissão, ao anunciar os vencedores. "Na verdade, éalgo crucial para nossa sobrevivaªncia, por isso éuma descoberta muito importante e profunda."

O comitaª disse que suas descobertas chegam a "um dos grandes mistanãrios que a humanidade enfrenta": como sentimos nosso ambiente.

A escolha dos vencedores ressaltou o quanto pouco os cientistas sabiam sobre essa questãoantes das descobertas - e quanto ainda hápara aprender, disse Oscar Marin, diretor do Centro MRC para Distaºrbios do Neurodesenvolvimento do King's College London.

"Embora entendaªssemos a fisiologia dos sentidos, o que não entenda­amos era como perceba­amos as diferenças de temperatura ou pressão", disse Marin. "Saber como nosso corpo sente essasmudanças éfundamental porque, uma vez que conhecemos essas molanãculas, elas podem ser direcionadas. a‰ como encontrar uma fechadura, e agora sabemos as chaves precisas que sera£o necessa¡rias para destranca¡-la."

Marin previu que os novos tratamentos para a dor provavelmente viriam primeiro, mas entender como o corpo detectamudanças na pressão pode levar a medicamentos para doenças carda­acas, se os cientistas conseguirem descobrir como aliviar a pressão nos vasos sangua­neos e outros órgãos.

Uma foto de arquivo de tera§a-feira, 8 de dezembro de 2020, de uma medalha do Praªmio
Nobel. O Praªmio Nobel de Medicina seráconcedido na segunda-feira, 4 de outubro
de 2021. Crédito: AP Photo / Jacquelyn Martin, Arquivo

Richard Harris, do Centro de Pesquisa de Dor e Fadiga Cra´nica da Universidade de Michigan, também disse que o trabalho dos novos laureados pode ajudar a projetar novos medicamentos para a dor, mas observou que o campo estãoparalisado hámuito tempo.
 
Ele disse que, como a dor também inclui um componente psicola³gico, simplesmente identificar como ela édesencadeada no corpo não énecessariamente o suficiente para resolvaª-la. Ainda assim, ele disse que o trabalho de Julius e Patapoutian provavelmente ajudaria os médicos a tratar melhor a dor causada por coisas como temperaturas extremas e queimaduras químicas.

"Suas descobertas estãonos dando a primeira ideia de como esse tipo de dor comea§a, mas se ela estãoenvolvida em muitos pacientes com dor crônica ainda não foi possí­vel ver", disse ele.

Ainda assim, Fiona Boissonade, uma especialista em dor da Universidade de Sheffield, disse que o trabalho dos ganhadores do Nobel foi especialmente relevante para uma em cada cinco pessoas no mundo que sofre de dor crônica.

Essa dor - incluindo artrite, enxaqueca e problemas cra´nicos nas costas - "éum grande problema médico e émuito mal tratada em geral", disse ela. "A pesquisa deles pode nos levar a identificar novos compostos eficazes no tratamento da dor que não vão com o impacto devastador dos opioides", que gerou uma crise de dependaªncia nos Estados Unidos

Seguindo uma longa tradição de dificuldades em alertar os ganhadores do Nobel, Julius disse que foi despertado pelo que julgou ser uma pegadinha pouco antes do anaºncio do praªmio.

"Meu telefone meio que apitou e era de um parente que havia sido contatado por alguém do Comitaª do Nobel tentando encontrar meu número de telefone", disse ele de sua casa em San Francisco, onde era madrugada.

Sa³ quando sua esposa ouviu a voz de Perlmann e confirmou que era mesmo o secreta¡rio-geral do comitaª que estava ligando, ele percebeu que não era uma piada. Julius disse que sua esposa havia trabalhado com Perlmann anos atrás.

Julius, 65, disse mais tarde que esperava que seu trabalho levasse ao desenvolvimento de novos analganãsicos, explicando que a biologia por trás atémesmo das atividades cotidianas pode ter um significado enorme.

"Comemos pimenta e mentol, mas, muitas vezes, vocênão pensa em como isso funciona", disse ele.

O Comitaª do Nobel tuitou uma foto de Patapoutian na cama com seu filho enquanto ele assistia ao anaºncio em seu computador.

“Um dia de agradecimento: estepaís me deu uma chance com uma a³tima educação e apoio para a pesquisa ba¡sica. E para os meus labbies e colaboradores pela parceria comigo”, tuitou Patapoutian, que nasceu no La­bano.

Quando a equipe fez a descoberta em 2009, "éclaro que esta¡vamos muito animados e literalmente pulando para cima e para baixo. Era algo que procura¡vamos hános", disse Patapoutian em entrevista coletiva.

O prestigioso praªmio vem com uma medalha de ouro e 10 milhões de coroas suecas (mais de US $ 1,14 milha£o). O dinheiro do praªmio vem de um legado deixado pelo criador do praªmio, o inventor sueco Alfred Nobel, que morreu em 1895.

O praªmio éo primeiro a ser concedido este ano. Os outros prêmios são para trabalhos de destaque nas áreas de física, química, literatura, paz e economia.

 

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