Talento

Perguntas e respostas com Deborah Dyett Desir, sobre ser uma lider e uma médica negra
Desir é professora associado de medicina clínica (reumatologia) na Seção de Reumatologia, Alergia e Imunologia do Departamento de Medicina Interna da Yale School of Medicine (YSM).
Por Jane E. Dee - 11/03/2022


Deborah Dyett Desir, MD, será a primeira mulher negra a servir como presidente do American College of Rheumatology.

Desir é professora associado de medicina clínica (reumatologia) na Seção de Reumatologia, Alergia e Imunologia do Departamento de Medicina Interna da Yale School of Medicine (YSM). Depois que Desir, MD '80 de Yale, completou seu treinamento na YSM em 1987, ela trabalhou como reumatologista em um HMO modelo de equipe. Em 1993, ela iniciou uma cla­nica privada de reumatologia comunita¡ria em Hamden, Connecticut. A prática cresceu para incluir três locais, inclusive em Branford e Milford. Desir ingressou no corpo docente da YSM em 2019. Ela édiretora médica da Cla­nica de Reumatologia de Yale em Hamden, onde cuida de alguns dos mesmos pacientes que viu pela primeira vez hámais de 30 anos.

 Vocaª comea§ara¡ seu mandato como presidente do ACR 2023-2024 no pra³ximo ano. O que vocêespera alcana§ar?

Ha¡ questões importantes e conta­nuas que pretendo abordar durante meu mandato. Por exemplo, temos uma enorme escassez de ma£o de obra em reumatologia. Em todo opaís, em todos os estados, não háreumatologistas suficientes para cuidar de criana§as e adultos que sofrem de doenças reuma¡ticas. Ha¡ oito ou nove estados sem um aºnico reumatologista pedia¡trico. A ACR estãoatualmente desenvolvendo soluções inovadoras destinadas a aumentar a força de trabalho e pretendo apoiar e expandir esses esforços. Recrutar e manter médicos engajados em organizações profissionais éum desafio em toda a medicina organizada. Acredito que éimportante aumentar e também diversificar nosso quadro associativo, e garantir que todos os reumatologistas saibam que hálugar para eles no ACR. A demografia de nossos membros deve refletir a de nossa população.

Vocaª pratica medicina cla­nica hátrês décadas. O que te anima em ir trabalhar todos os dias e o que émais desafiador como reumatologista que trabalha com pacientes com doenças inflamata³rias dolorosas, como artrite?

Ir trabalhar todos os dias me da¡ a oportunidade de ajudar as pessoas. a‰ por isso que se tornou um médico. Durante minha vida profissional, o tratamento das doenças reuma¡ticas foi revolucionado com o advento em 1998 dos medicamentos biola³gicos. Mais de 20 anos depois, ainda éemocionante poder oferecer aos pacientes tratamentos que mudam a vida. O mais desafiador para mim étrabalhar no sistema de saúde dos EUA, o que, a s vezes, torna extremamente difa­cil conseguir os servia§os de que os pacientes precisam. Já tive pacientes sentados na mesa da sala de exames chorando porque não conseguiam obter os medicamentos de que precisavam devido ao custo ou a s recusas de seguro. a‰ frustrante ter medicamentos tão eficazes aos quais tantos não tem acesso.

Vocaª compartilhou recentemente uma história sobre como alguns de seus pacientes buscaram uma segunda opinia£o de um reumatologista branco. Como vocêlida com isso?

Eu penso nos pacientes de forma diferente dos colegas, amigos ou pessoas que conhea§o. Existem comportamentos que eu toleraria de um paciente, mas nunca toleraria de outros. Acredito que os pacientes devem desenvolver uma relação de confianção com seus cuidadores. Eu dou muita margem de manobra aos pacientes para que eles possam chegar a esse ponto. Em resposta a  sua pergunta, o paciente invariavelmente retorna dizendo: “Ele diz que vocêestava certo”. Para mim, ressentir-se disso, ou usar isso contra o paciente, não ajuda o paciente ose émeu trabalho, ou melhor, meu chamado, ajudar os pacientes.

Como vocêlidou com microagressões no ini­cio de sua carreira?

Tive meu primeiro filho quando era residente. Eu era uma ma£e que amamentava e, naquela anãpoca, as melhores bombas estavam na unidade pa³s-parto. Um dia, entrei no quarto de uma paciente para pegar uma bomba, e ela olhou para mim e disse: "Ainda não terminei meu almoa§o". E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o especialista em lactação disse: "Ah, não, não, não. Esse éum dos nossos médicos de enfermagem." Mas a suposição do paciente era que essa mulher negra deveria ser de servia§os de dieta. Eu poderia relatar uma sanãrie de interações semelhantes, mas acho mais importante expressar a seguinte mensagem aos professores e médicos assistentes: a‰ imperativo que os assistentes e os professores defendam os colegas, especialmente os estudantes de medicina e estagia¡rios, quando se deparam com essas situações. O silaªncio écumplicidade.

Durante sua carreira, vocêocupou muitos cargos de liderana§a, incluindo presidente da Associação Manãdica do Condado de New Haven em 2019-2020 e copresidente do comitaª legislativo da Connecticut State Medical Society (CSMS). Atualmente vocêéo secreta¡rio do American College of Rheumatology e da Rheumatology Research Foundation. Quais valores são mais importantes para vocêcomo lider?

 Eu valorizo ​​a confiabilidade e a franqueza. Nãogosto de perder muito tempo descobrindo o que vocêquer dizer. Apenas diga, sinceramente, como anã. Admiro a capacidade de ouvir em um lider, bem como a capacidade de promover a colaboração. Acho que um lider também precisa promover o desenvolvimento dos outros. Um lider não deve tentar levar o cranãdito por tudo; humildade émuito importante.

Quais são as formas mais impactantes de abordar as disparidades nos cuidados de saúde?

Quando falamos sobre disparidades nos cuidados de saúde, parece que tendemos a culpar o paciente pelos maus resultados. Usamos frases como este paciente éeconomicamente desfavorecido, não tem seguro, não éaderente, não tem transporte, etc. Essa abordagem ignora o problema do preconceito impla­cito inerente aos nossos sistemas de saúde. Se vocêobservar as estata­sticas de mortalidade para novas ma£es, elas são mais altas para mulheres de cor em todos os grupos socioecona´micos, independentemente do emprego, status de seguro ou riqueza. A questãonão éapenas acesso limitado devido a  falta de seguro, mas éuma questãode preconceito em como os pacientes são percebidos e tratados com base na raça e etnia. Uma das mulheres negras mais conhecidas dopaís quase morreu no puerpanãrio imediato porque ninguanãm a ouvia. [Depois de dar a  luz a sua filha, A tenista Serena Williams, que tem um hista³rico de coa¡gulos sangua­neos, teve problemas para respirar. Mas como Williams compartilhou em um artigo naRevista Vogue , uma funciona¡ria do hospital inicialmente não levou suas preocupações a sanãrio.]

Este éum vianãs para as mulheres de cor. a‰ muito mais prova¡vel que vocêoua§a alguém com quem possa se identificar, como, essa poderia ser minha ma£e, essa poderia ser minha irmã. Mas se vocênão puder dar esse salto empa¡tico, sua capacidade de cuidar do paciente pode ser prejudicada.

Vocaª émembro do Capa­tulo Theta Epsilon Omega da Alpha Kappa Alpha Sorority, Inc., bem como do Capa­tulo New Haven da Links, Inc. e do Capa­tulo New Haven da Girl Friends, Inc. O que essas organizações significam para tu?

Eu provavelmente deveria dizer algumas palavras sobre cada uma dessas organizações de mulheres afro-americanas profissionais.

Alpha Kappa Alpha Sorority, Inc. (AKA) foi fundada em 1908, o que me confunde porque mesmo frequentar a faculdade era um desafio para mulheres jovens de qualquer cor ou etnia em 1908. AKA éuma irmandade historicamente negra e uma organização internacional. Ser membro de uma irmandade ou fraternidade historicamente negra éum compromisso vitala­cio. Como vocêsabe, a vice-presidente Kamala Harris émembro. AKA éuma organização incra­vel com a missão de “Servir a toda a humanidade”. Minha tia, irmã, filha e sobrinha são membros. Tenho a honra de ser membro. Apoiamos e ajudamos uns aos outros. Somos uma organização de serviço ativa. Nosso capa­tulo estãoenvolvido na orientação de meninas, registro de eleitores, educação COVID-19 e uma sanãrie de iniciativas de serviço na comunidade de New Haven.

A Links, Inc. foi fundada em 1946. a‰ uma das maiores e mais antigas organizações de serviço volunta¡rio de mulheres profissionais de ascendaªncia africana dopaís. Seus valores centrais são amizade, integridade, honestidade, serviço e legado. Minha ma£e era membro da Links e membro fundadora de seu capa­tulo.

Eu também sou um membro do The New Haven Chapter of Girl Friends Incorporated. A Girl Friends, Inc. foi fundada em 1927, durante o Renascimento do Harlem, e seu nome éautoexplicativo.

Essas organizações são fonte de orgulho, ajuda, conforto, alegria e riso. “Dizem que serviço éo aluguel que vocêpaga pelo seu quarto aqui na terra.” Essas mulheres são minhas irmãs. Acho que isso explica tudo.

O capa­tulo Your Links estava ativo na comunidade de New Haven durante a pandemia do COVID-19. Como foi isso?

No ini­cio da pandemia de COVID, nosso capa­tulo de Links formou um comitaª de resposta rápida, que eu presidi. Somos um capa­tulo pequeno, mas entregamos mais de US$ 70.000 em máscaras para a comunidade em um momento em que era muito difa­cil conseguir ma¡scaras.

"Adoro ler e também sou um a¡vido jardineiro interno e externo e membro do Garden Club of New Haven. Eu tenho 150-160 plantas de casa, incluindo vários vencedores de prêmios".

Deborah Dyett Desir, MD

Fornecemos máscaras para escolas, agaªncias de acolhimento familiar e residaªncias para mulheres idosas. Tambanãm compramos milhares de da³lares em cartaµes de comida de supermercado que demos a fama­lias que foram economicamente impactadas pelo COVID. Quando as vacinas ficaram dispona­veis, nosso capa­tulo Links fez parceria com a fraternidade Omega Psi Phi. Realizamos dois webinars para fornecer informações precisas sobre vacinas, combater a desinformação e responder a perguntas para que as pessoas possam tomar decisaµes informadas sobre a vacinação. Mencionei a fraternidade Omega Psi Phi, Inc., mas devo mencionar que meu pai era membro da fraternidade Alpha Phi Alpha, Inc., que foi a primeira fraternidade historicamente negra, fundada em 1906 na Universidade de Cornell. [O pai de Desir, Benjamin I. Dyett, MD, formou-se na Howard Medical School em 1954.

O que me chamou a atenção durante esses webinars foi um gra¡fico que Gary mostrou que tinha ca­rculos azuis para cada surto de COVID na comunidade. [Desir écasada com Gary V. Danãsir, MD,vice-reitor de desenvolvimento e diversidade do corpo docente da Universidade de Yale, presidente do Departamento de Medicina Interna da YSM e professor de medicina Paul B. Beeson.] Se vocêolhasse para a Whitney Avenue, uma rua residencial predominantemente branca, havia muito poucos ca­rculos azuis. Se vocêolhasse para a Dixwell Avenue, uma área residencial predominantemente afro-americana, havia um mar de azul. Tentamos convencer as pessoas de que a doença estava afetando as pessoas da comunidade minorita¡ria em New Haven em taxas desproporcionalmente altas. A fraternidade que patrocinou o webinar me disse: "Seu trabalho não édizer a s pessoas para serem vacinadas; seu trabalho édar-lhes informações". Espero que tenham me perdoado, mas no final do webinar, eu disse. “Eu são vou colocar meu chapanãu de ma£e, vocaªs precisam se vacinar.”

Meu capa­tulo da AKA também formou um comitaª de resposta rápida no ini­cio da pandemia, que eu copresidi. Entregamos ma¡scaras, informações de saúde, cartaµes de mercearia, apoio a idosos e uma sanãrie de outras atividades comunita¡rias no ini­cio da pandemia.

O que vocêgosta de fazer no seu tempo livre?

Fama­lia, fama­lia, fama­lia. Nossos três netos são meus batimentos carda­acos e a alegria da minha vida. Tambanãm gosto de fazer longas caminhadas com meu marido em Martha's Vineyard, nossa casa longe de casa. Faremos 43 anos de casados ​​em agosto. Na³s nos conhecemos durante nosso primeiro ano de faculdade de medicina em Yale por causa de um cada¡ver na aula de anatomia.

Adoro ler e também sou um a¡vido jardineiro interno e externo e membro do Garden Club of New Haven. Eu tenho 150-160 plantas de casa, incluindo vários vencedores de prêmios. Gary e eu também dançamos de sala£o hámais de 20 anos e isso éalgo que realmente gostamos. Ha¡ alguns anos, ganhamos o 1º praªmio (três notas 10 perfeitas) tocando um samba durante um evento Dancing for Life para arrecadar fundos para transplante de órgãos e medula a³ssea.


A Seção de Reumatologia, Alergia e Imunologia dedica-se ao atendimento de pacientes com doenças reuma¡ticas, alanãrgicas e imunola³gicas; educar as futuras gerações de lideres de pensamento no campo; e conduzir pesquisas sobre questões fundamentais de autoimunidade e imunologia. Para saber mais sobre seu trabalho, visite Reumatologia, Alergia e Imunologia.

 

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