Cientistas desenvolvem expertise estudando a interação ma£e-feto a partir da placenta
Pesquisa da Universidade Federal de Alagoas busca proteger gestaa§aµes com derivado do azeite e ganha reconhecimento internacional
Foto: Naasia Xavier

Grupo de pesquisa da Ufal se concentra em atenção preventiva a gestantes
Como épossível fazer boa ciência no Brasil? Com os recursos disponaveis, sensibilidade para os problemas das pessoas reais, colaboração interdisciplinar enívelde qualidade internacional. Pelo menos, esta éa receita que parece estar gerando resultados significativos no Grupo de Pesquisa Saúde da Mulher e da Gestação, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
O biomédico e doutor em biologia celular, Alexandre Borbely, coordena uma equipe de 10 pesquisadores, da iniciação cientafica ao pa³s-doutorado, que se dividem em três linhas de investigação, todas elas focadas em problemas que podem acometer a ma£e e o feto durante uma gestação. Tambanãm participa do grupo a pa³s-doutoranda Karen Borbely, da Faculdade de Nutrição da Ufal.
Em uma das linhas de pesquisa, eles observam como o uvaol, uma substância derivada do azeite de oliva, poderia prevenir a morte de células da placenta causadas pela bactanãria Streptococcus agalactiae, um tipo de estreptococo do grupo B, que são normalmente encontradas na vagina de 30% das mulheres, tanto empaíses em desenvolvimento quanto nospaíses desenvolvidos. Cerca de um em cada 2 mil bebaªs recanãm-nascidos sofrera¡ com uma infecção neonatal causada por elas.
Mas, e durante a gravidez? O professor Alexandre explica que a bactanãria pode subir pelo canal vaginal: “Essa infecção pode passar pela placenta e membranas fetais, chegando no bebaª, e causar algumas alterações nas mucosas ocular e auditiva, e alguns danos de sistema neurola³gicoâ€. Â
A inflamação das membranas do feto écaracterística de uma doença chamada corioamnionite, que érelativamente comum e estãoligada a maioria dos casos de prematuridade e abortamento.
“Acaba sendo algo que impacta muito tanto na mulher, porque ela pode perder o bebaª durante esse processo, mas também acaba impactando muito o SUSâ€, explica o cientista. “O bebaª pode nascer com menos peso, com um tamanho menor, e isso vai requerer mais cuidadosâ€.
Desafio
Ainda não hámanãtodos diagnósticos eficazes para se lidar com isso. a€s vezes, a mulher não apresenta sintomas da infecção durante sua gravidez e muitos casos acabam passando despercebidos pelas analises de rotina de um pré-natal. O que pode ser feito écoleta do material vaginal, poranãm, em caso positivo, o aºnico tratamento disponavel ainda são medicamentos antibia³ticos.
Isso pode alterar toda a flora microbia³tica que estãosendo construada no bebaª, causando efeitos negativos que va£o se estender para além da gestação. “Nunca ébom usar antibia³ticos numa gravidez; isso são vai acontecer em casos de infecção muito graveâ€, comenta Borbely.
Estratanãgia
A ideia de aplicar o uvaol a corioamnionite surgiu a partir da interação com bons resultados de outro trabalho produzido no Laborata³rio de Biologia Celular, no bloco de pesquisa multidisciplinar da Ufal, no qual o professor Emiliano Barreto, doutor em biologia, observou efeitos antinflamata³rios e antiarlanãrgicos da substância em animais com asma. Â
“Porque não utilizar o uvaol durante a gestação, para prevenir os efeitos ruins que essa bactanãria causa? Indo mais nessa questãonutricional, se a mulher consome bastante do azeite de oliva, ou usa desse composto como suplemento, caso a gente consiga levar para o mercado, isso poderia prevenir uma infecção ou um efeito colateral pior. a€s vezes, são o fato de a mulher inflamar já éruim para o bebaª. Diminuir essa inflamação nessa regia£o do corpo émuito importante se ela quiser manter a gestação atéo fimâ€, comenta o biomédico.
Prêmios e Colaborações
Ainda em andamento, a pesquisa já estãorendendo premiações. Duas bolsistas de iniciação cientafica do projeto ganharam um praªmio antecipado da International Federation of Placenta Associations (Federação Internacional das Associações [de pesquisa sobre] Placenta, IFPA), uma entidade responsável por coordenar encontros cientaficos internacionais que reaºnem o que háde mais relevante em sobre pesquisas sobre placenta em curso no mundo inteiro.
Lays Xavier, graduanda em biologia, e Rayane Martins, graduanda em enfermagem, ganharam o praªmio YW Loke New Investigator Award, para pesquisadores iniciantes, se destacando com a qualidade cientafica dos respectivos resumos do trabalho de cada uma. Desta forma, elas va£o poder apresentar seus artigos no encontro internacional da Federação isentas da inscrição, no valor de 500 da³lares, cada.
O evento acontece em Buenos Aires, na Argentina, de 10 a 13 de setembro, em consona¢ncia com o 8º Simpa³sio Latino Americano de Interação Materno-Fetal e Placenta (SLIMP). Com o apoio da Fapeal, também viajam para o mesmo evento o professor Alexandre Borbely e a doutoranda Eloiza Tanabe, que foram selecionados atravanãs do Edital de Apoio a Participação em Eventos Cientaficos (AORC).
O grupo de pesquisa já faz parte de uma rede internacional de colaboração chamada Rivatrem (Rede Ibero-Americana de Alterações Vasculares em Problemas da Gestação), que reaºne pesquisadores da Argentina, Brasil, Chile, Cola´mbia, Equador e Manãxico, além de colaborar de perto com um laboratório canadense.Â
Lembrando que a produção cientafica denívelinternacional responde igualmente a necessidades especaficas do estado, o professor Fa¡bio Guedes, diretor-presidente da Fapeal, comenta:
“Esta éuma excelente notacia para Alagoas. Ao mesmo tempo em que o Governo Renan filho constra³i e equipa um hospital que serádedicado a mulher, com atenção especial a s gestantes, os pesquisadores da nossa universidade federal estãodesenvolvendo esse tipo de expertiseâ€, avalia o gestor.
Inovação e Resultados
“Poucas pessoas no mundo pesquisam formas de se prevenir algo na gestaçãoâ€, aponta o professor Alexandre Borbely. “Porque se acontece algum problema, dificilmente existe algum tratamento ou algum remanãdio que pode ser usado nessa fase. A gestante fica muito exposta, acaba sendo um grupo de extremo riscoâ€, avalia o cientista, contando inclusive com o olhar sensibilizado de quem se tornou pai recentemente.
Ele comenta a pertinaªncia de pesquisar algo que pode ser usado como preventivo: “Ainda mais um produto natural que pode ser adquirido atépela alimentação, ou como um suplemento alimentarâ€, observa o cientista, comentando que, a exceção do a¡cido fa³lico (vitamina B9), usado hámuitos anos, durante a gestação, para prevenir alterações no sistema nervoso dos bebaªs, quase nada mais foi comprovado na área de suplementação para as futuras mama£es.
No entanto, além da boa ideia, os pesquisadores estãofortalecendo sua abordagem atravanãs da inovação técnica, principalmente com a colaboração interdisciplinar.
Nesta caso, a parceria écom a Fasica, atravanãs dos professores Samuel de Souza e Eduardo Jorge da Fonseca, que compõem o Grupo de a“ptica e Nanoscopia no Instituto de Fasica, da Ufal, que possui um microsca³pio de força atômica, do qual hápoucos exemplares no Brasil, e um instrumento de espectroscopia Raman, uma técnica de alta resolução que utiliza a³tica e luz, proporcionando, em poucos segundos, informação química e estrutural de quase qualquer material, orga¢nico ou inorga¢nico, permitindo assim sua identificação.Â
Alexandre Borbely diz que, dessa forma, épossível integrar equipamentos de ultima geração na pesquisa em saúde, conseguindo resultados que “conversam†mais entre si, e aumentando a sensibilidade para observar eventos que passariam despercebidos de outra forma.
Essa integração, no trabalho de Lays Xavier, rendeu o praªmio de melhor pa´ster num congresso da Sociedade Brasileira de Biofasica, em Recife, já este ano.
“a‰ muito importante ter a noção de que a gente estãocontribuindo para a ciência de uma forma mais efetiva e acho que nosso trabalho éde extrema releva¢ncia, porque traz uma inovação que pode ser via¡vel, e háuma escassez disso nesse ramo na ciaªnciaâ€, observa Lays.
Já trabalho de Rayane Martins, ganhou honras em 2017, no tradicional Congresso (internacional) da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapaªutica Experimental.Â
“Para mim, que sou da enfermagem, pessoalmente émuito interessante sair da aanãrea clanica e entrar um pouco na pesquisa, vendo como ajudar a mulher de outras formas também, buscando uma forma acessavel para prevenir problemas com a ma£e e o fetoâ€, comenta Rayane. Â
Trabalhos orientados pelo professor Alexandre Borbely ganharam nove prêmios em três anos, de 2017 atéagora, sendo maioria deles sobre placenta.
Recentemente, o Grupo de Pesquisa Saúde da Mulher e da Gestação publicou seu primeiro artigo, numa revista cientafica internacional, considerada pelo Ministanãrio da Educação como sendo da melhor qualidade (de acordo com o indicador Qualis A, da agaªncia federal Capes), e de alta releva¢ncia, de acordo com a manãtrica mundial do fator de impacto, que neste caso, encontra-se em 3,68.O texto vai assinado por 16 pesquisadores, sendo 13 da Ufal e três do Canada¡ (universidades McGill e Sherbrooke). Â