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Estudo comprova que os campos eletromagnanãticos estãomatando as abelhas
um estudo inanãdito, que estãoentre os mais acessados do mundo na área de ecologia, identificou uma possí­vel causa pouco conhecida do exterma­nio das abelhas: os campos eletromagnanãticos.
Por Léa Medeiros - 03/10/2019

Foto: J. Hoje em Dia

Pelo menos três quartos de tudo o que a população mundial come depende do trabalho de insetos como polinizadores de plantas. As abelhas são os principais polinizadores e são fundamentais para garantir produtividade e a qualidade dos frutos em diversas culturas agra­colas. O problema éque elas estãomorrendo em proporções alarmantes. Em todo o mundo, pesquisadores estãoavaliando as causas da mortalidade e os prejua­zos para a segurança alimentar planeta¡ria. Na UFV, um estudo inanãdito, que estãoentre os mais acessados do mundo na área de ecologia, identificou uma possí­vel causa pouco conhecida do exterma­nio das abelhas: os campos eletromagnanãticos.

O artigo Extremely Low Frequency Electromagnetic Fields Impair the Cognitiv and Motor Abilities of Honey Bees, publicado pelos professores Eugaªnio Eduardo Oliveira, do Departamento de Entomologia, e Maria Augusta Lima, do Departamento de Biologia Animal, éo 35º entre os cem artigos mais acessados em 2018 na área de Ecologia. Por isso, eles receberam o selo Top 100 in Ecology 2018, emitido pelo peria³dico cienta­fico Scientific Reports, do grupo Nature. O trabalho éfruto de um projeto desenvolvido pelos professores da UFV em parceria com pesquisadores da University of Southampton, na Inglaterra.

A morte das abelhas

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), 85% das plantas com flores das matas e florestas e 70% das culturas agra­colas dependem dos polinizadores. A polinização das abelhas éfundamental para garantir a alta produtividade, a qualidade dos frutos em diversas culturas agra­colas e a biodiversidade. Mas, nos últimos 15 anos, a presença das abelhas tem se modificado em todo o mundo. Somente nos EUA, mais de um tera§o dos enxames são perdidos todos os anos. Além dos prejua­zos a  segurança alimentar, o desaparecimento pode levar a  extinção de alguns alimentos importantes a  manutenção de dietas equilibradas. O decla­nio da população de abelhas étão preocupante que, desde o ano passado, a FAO instituiu o dia 20 de maio como o Dia Mundial da Abelha e tem realizado campanhas para alertar a população para os perigos da extinção.

Ainda segundo a FAO, a queda na quantidade de abelhas e de outros polinizadores deve-se, em grande parte, as prática s agra­colas intensivas, a monocultura, ao uso excessivo de produtos químicos agra­colas e as temperaturas mais altas, associadas a smudanças climáticas.

O grupo de pesquisadores da UFV, assim como outros em todo o mundo, já tem trabalhos produzidos a partir de testes com inseticidas, herbicidas, fungicidas e transgaªnicos nas populações de abelhas, mas a influaªncia das redes de transmissão de energia e telefonia não havia sido bastante estudada atéentão. Isolar a influaªncia dos campos eletromagnanãticos na neurofisiologia das abelhas e descobrir que a influaªncia das radiações interfere na navegação delas em direção a s plantas foram os aspectos que chamaram a atenção da comunidade cienta­fica internacional no trabalho.

O principal objetivo dos pesquisadores foi avaliar como diferentes fatores causadores de estresse, estudados de forma isolada ou em conjunto, podem alterar o comportamento, fisiologia, saúde e cognição de abelhas mela­feras, a espanãcie mais estudada no mundo todo e que também ocorre no Brasil. “Os estudos tem que ser conduzidos com muita segurança porque o tema envolve cifras biliona¡rias da indústria de alimentos e de agroqua­micos”, disse a professora Maria Augusta.

As abelhas mela­feras voam em um raio de até12 quila´metros para se alimentar. Enquanto buscam o nanãctar, carregam o pa³len responsável pela fertilização das flores e a reprodução das plantas. O estudo concluiu que, quanto mais perto das torres de transmissão, mais as abelhas tem o voo alterado. “O campo eletromagnético das redes de transmissão modifica a velocidade do voo fazendo com que as abelhas tenham mais dificuldades para polinizarem as plantas”, disse Eugaªnio Oliveira.


Atualmente, a equipe estãoinvestigando se a exposição conjunta aos campos eletromagnanãticos e aos inseticidas causam efeitos letais ou subletais a s abelhas mela­feras. “Na³s isolamos os efeitos de diferentes doses de compostos químicos e de graus de radiação para responder com segurança a influaªncia que exercem no comportamento das abelhas”, explica Maria Augusta. Os resultados já estãoadiantados e sera£o publicados em breve. Se houver mais financiamento, os pesquisadores pretendem adaptar os estudos as espanãcies mais comuns no Brasil. “Na³s usamos a abelha mela­fera como referaªncia porque éum modelo já conhecido e também éa espanãcie mais estudada no mundo” afirmou Eugaªnio Oliveira.

A premiação

Para os professores da UFV, os manãritos cienta­ficos do artigo publicado ano passado e agora premiado pelo grupo Nature não seriam alcana§ados se não fossem os financiamentos feitos pela Fapemig, por meio de cooperação com a universidade inglesa, e da Capes, por meio do Programa Ciência sem Fronteiras. Os apoios financeiros permitiram a vinda dos professores Phillip Newland e Chris Jackson a  UFV, bem como do então doutorando Sebastian Shepherd, todos ligados a  University of Southampton. “O interca¢mbio entre docentes e estudantes foi fundamental para o delineamento e realização dos experimentos, além da análise dos resultados”, disse Maria Augusta Lima.

 

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