Tecnologia Científica

A caçada pela terra 2.0. Pesquisadores ajudam a mapear planetas com possibilidade de abrigar vida
Liderado pelo professor JoséDias, o grupo de pesquisa em Astrofísica do DFTE/UFRN estãoparticipando do processo de mapeamento e análise dos planetas que tem maior possibilidade de abrigar vida e que um dia podera£o ser colonizados
Por Cyro Souza - 16/10/2019

Reprodução

O telesca³pio espacial TESS contribuira¡ com fotometria e auxiliara¡ outras missaµes que devem utilizar uma técnica de análise chamada de espectroscopia de transmissão, com a qual épossí­vel saber os tipos de componentes químicos que estãonas atmosferas desses planetas e checar se eles são parecidos com os da Terra.

De fato, a astronomia moderna vive um momento importante, no qual uma verdadeira caçada por exoplanetas osplanetas que orbitam uma estrela que não seja o Sol ostem sido realizada por diversos centros de pesquisa espalhados pelo mundo, inclusive a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Liderado pelo professor JoséDias, o grupo de pesquisa em Astrofísica do Departamento de Fa­sica Tea³rica e Experimental (DFTE/UFRN) estãoparticipando do processo de mapeamento e análise dos planetas que tem maior possibilidade de abrigar vida e que um dia, num futuro ainda distante, podera£o receber uma cola´nia humana.

Na última década, a pesquisa com telesca³pios passou por um forte desenvolvimento e, com a contribuição dos cientistas baseados em Natal, chegou a  marca de cinco mil novos planetas encontrados em nossa gala¡xia. Esse trabalho teve ini­cio com a missão do telesca³pio Kepler, seguido pelo telesca³pio TESS que, por meio das pesquisas do grupo da UFRN, encontrou o primeiro exoplaneta tipo Saturno no começo do ano.


Segundo o Professor Dias, as missaµes tiveram objetivos diferentes, mas complementares entre si. Em cada uma, os cientistas tentavam responder a diferentes perguntas. Iniciando com o Kepler, a busca era por alvos com luz fraca, isso não são ajudou a encontrar estrelas gaªmeas, mas também novos planetas na Via La¡ctea.

Grupo da UFRN ganha notoriedade internacional

O grupo de pesquisa da UFRN, que possui reconhecimento na área, estãoem sua própria caçada por novos planetas.  A missão TESS seráseguida de novos telesca³pios espaciais que entrara£o em atividade nos pra³ximos anos, entre eles o PLATO (Planetary Transits and Oscillation of Stars), desenvolvido pela Agência Espacial Europeia e que conta com a participação da equipe do DFTE.

Os cientistas baseados no RN foram convidados a integrar o projeto graças aos resultados alcana§ados com as buscas de novos planetas com os telesca³pios COROT e Kepler. Eles participam de uma verdadeira corrida internacional para encontrar a Terra 2.0. Dessa forma, o Brasil tem a possibilidade de contribuir diretamente com uma das maiores descobertas de nosso tempo, sem um grande custo financeiro direto, utilizando apenas o trabalho direto dos seus cientistas.

“Nosso grupo tem tradição no estudo de estrelas gaªmeas solares e especificamente na  girocronologia, que éuma técnica para determinar a idade das estrelas. Uma contribuição importante. Na³s queremos descobrir um planeta com tempo suficiente para que a vida tenha se instalado”,  afirmou o Professor Dias.

O astra´nomo potiguar ainda não vaª a possibilidade de visitarmos esses planetas em poucos anos. As distâncias ainda são grandes demais para que uma missão possa ser mandada atéeles, mas cita o salto de desenvolvimento tecnola³gico que a humanidade passou nos últimos séculos como uma porta de possibilidades para o futuro.

“Em 400 anos saa­mos de um questionamento: se a Terra era ou não centro do Universo, a passagem da teoria geocaªntrica para a heliocaªntrica, Giordano Bruno e Galileu em meio a esse tormento osque foi a composição dessa revolução -, atéhoje, com a comprovação que nostemos da existaªncia de mais de 5 mil planetas, alguns parecidos com o nosso. A Terra nada mais édo que um pequeno planeta em torno de uma pequena estrela amarela em um braa§o espiral da gala¡xia, como tantas outras estrelas”, disse JoséDias.

Mas como saber se um planeta possui vida?


A missão Tess, lana§ada em 2018 por meio de uma parceria entre a NASA e a empresa SpaceX, trouxe uma pergunta diferente, ela buscava saber o quanto comum éa existaªncia de planetas e qual a composição de sua atmosfera. O telesca³pio espacial utiliza uma técnica de análise chamada de espectroscopia de transmissão, com a qual épossí­vel saber os tipos de componentes químicos que estãonas atmosferas desses planetas e checar se eles são parecidos com os da Terra.

“A espectroscopia de transmissão estãona base de estudo dos exoplanetas. Quando o fa³ton passa na atmosfera, ele interage com diversos componentes. A atmosfera tem a sua química particular. Quando o fa³ton passa, acontecemmudanças nas oscilações, por exemplo, de alguns componentes. Vai dar exatamente os espectros vibracionais de algumas moléculas e isso nos diz quais elementos existem la¡ e em qual abunda¢ncia. Então, por exemplo, se existir vapor de águaem determinado planeta (como no caso do K2-18b) e esse planeta passa sistematicamente na frente da estrela, a gente pode fazer uma medida de qual éa variação de umidade em um determinado planeta”, explicou o pesquisador.

A zona de habitabilidade e o tempo de formação do planeta também são fatores importantes. Se, por um lado, um planeta muito pra³ximo de sua estrela seria quente demais para abrigar vida, por outro, um que esteja muito distante estaria completamente congelado. Além disso, mesmo em uma posição semelhante a da Terra no sistema solar, o planeta precisa estar em um momento de sua formação em que as condições para a existaªncia de vida estejam conclua­das. a‰ preciso que uma quantidade suficiente de oxigaªnio esteja na atmosfera, assim como que haja águana forma la­quida, entre outros fatores que, em nosso mundo, levaram milaªnios para serem formados.

O K2-18b possui várias dessas caracterí­sticas. Trata-se de uma superterra, com uma massa oito vezes maior que a da Terra. O anaºncio dos resultados do estudo sobre o planeta trouxeram empolgação para a comunidade astrofa­sica, mas com cautela. Os dados apresentados precisam ser debatidos por outros cientistas e colocados a  prova. No entanto, um resultado nesse sentido era algo aguardado pelos pesquisadores da área.


“Na verdade, o K2 18b já era um planeta que estava sendo observado por ser uma superterra. Isso quer dizer que éum planeta formado por parte rochosa e alguma parte tem a¡gua. Hoje a espectrospcopia tenta fazer uma melhor caracterização da atmosfera dos planetas. a‰ uma detecção extremamente complicada”.

O Professor Dias acredita que os pra³ximos anos sera£o de intenso desenvolvimento na exploração espacial. As missaµes que se sucedera£o podera£o trazer luz sobre vários mistanãrios da nossa gala¡xia.

“Como o objetivo éresponder a s questões fundamentais para a humanidade: se existe vida em outros planetas; quanto comum são os planetas parecidos com a Terra e; se, nesses planetas, épossí­vel existir vida; as condições são tais que a vida poderia estar la¡. Isso tudo éuma preparação para essa década que vem, que éa década da detecção ou não da vida fora da terra”, disse.

Ha¡ algum tempo, o professor JoséDias colabora com o cientista Michel Mayor, da Universidade de Genebra (Unige), que acaba de figurar a lista dos laureados do praªmio Nobel de Fa­sica. “O meu primeiro artigo do mestrado foi com ele, sobre la­tio, rotação e atividade das estrelas subgigantes, entre elas a 51 pegasi, que ele estuda”, disse Dias a  radio Frana§a Internacional (RFI).

Para ele, o trabalho do professor Mayor abriu uma nova linha na Fa­sica, na qual o estudo das estrelas e sua composição se tornou a chave para descoberta de novos planetas, uma vez que suas atmosferas poderiam ser analisadas atravanãs de técnicas como a espectroscopia de transmissão. “Os exoplanetas e pequenos corpos estãoenvolvidos na composição do universo pra³ximo. Esses pesquisadores (do Nobel) contribua­ram para uma mudança desse olhar sobre o universo pra³ximo, e isso éalgo extremamente importante”, completou.

 

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