Estudo encabea§ado por aluno de graduaa§a£o revelou ainda novos hospedeiros para varus já conhecidos e descreveu, pela primeira vez, a existaªncia de alguns organismos

O aluno de graduação da UnB Matheus Duarte foi um dos protagonistas do estudo: trabalho de campo, coleta e análise no laboratório
Os varus formam um universo ainda pouco explorado pelo ser humano. Por definição, são os aºnicos organismos acelulares presentes no planeta hoje e, apesar de apresentarem uma estrutura simples, são pouco conhecidos pela ciência Assim, muitos pesquisadores e cientistas investem em pesquisas nesse campo.
O sentimento não foi diferente para Fabracio Campos, professor da Universidade Federal do Tocantins. Inspirado em uma pesquisa de sucesso que fez anteriormente com lobos-marinhos osquando descobriu novas espanãcies virais –, ele decidiu aplicar a mesma metodologia em novo estudo com animais silvestres do Cerrado presentes no Hospital Veterina¡rio (HVet). A ideia surgiu quando ele foi professor visitante da UnB, de 2016 a 2018, e se deparou com uma enorme variedade de espanãcies no setor de animais silvestres do HVet.Â
a‰ importante ressaltar que mais de 70% das doenças humanas derivam da interação com animais, as chamadas zoonoses. Isso se deve ao fato de eles possuarem diversos varus que podem se tornar patógenos humanos em caso de infecção. “Conhecer e monitorar a presença de varus em animais selvagens étambém uma questãode saúde pública, pois isto pode prevenir e evitar que epidemias ocorramâ€, explica o professor Fabracio Campos.Â
PARCERIA osPara realizar a pesquisa, o professor Fabracio convidou o estudante de graduação da UnB Matheus Duarte e os professores do Instituto de Ciências Biola³gicas (IB) Tatsuya Nagata, Bergmann Ribeiro e Fernando Lucas. Matheus foi um dos protagonistas do estudo, ficando encarregado do trabalho de campo, da coleta do material e das análises no laboratório. “Liderar e participar de uma pesquisa que traz tantas novas informações acerca do microbioma viral de espanãcies conhecidas, mas pouco estudadas, émuito gratificanteâ€, afirma, lembrando da necessidade que ainda existe de se caracterizar o viroma (conjunto de varus) dos animais silvestres do Cerrado.Â
O resultado da pesquisa não são servira¡ de apoio para futuros estudos sobre varus e a propagação deles entre animais do Cerrado, como também gerou um artigo, intitulado Faecal Virome Analysis of Wild Animals from Brazil, publicado na renomada revista internacional Viruses.
Segundo o professor Fabracio, em meio a um período de contingenciamento e cortes de gastos com bolsas para pesquisa cientafica, o estudo representa um sinal de resistência do meio acadaªmico. Além da falta de financiamento, outro problema que dificulta o trabalho cientafico éo “descranãdito da sociedade em relação a ciência e cientistasâ€, segundo ele. “Infelizmente, isso desestimula novos alunos a seguirem essa carreira tão empolganteâ€, lamenta.
RESULTADOS osA parte prática envolveu a coleta de fezes no setor de animais silvestres do HVet. Traªs espanãcies de mamaferos (macaco-prego, saruaª e fura£o) e três espanãcies de aves (papagaio-verdadeiro, aratinga e cana¡rio-da-terra) foram utilizadas.Â
As amostras coletadas foram refrigeradas numa temperatura de -70°C e levadas para o Laborata³rio de Virologia (IB). La¡, foi realizado o processamento da coleta e a extração do material genanãtico (DNA e RNA) dos varus. Depois, o material passou por um processo de sequenciamento de alta performance, o que gerou milhões de pequenos fragmentos correspondentes ao material genanãtico. A partir disso, foi possível realizar análises dos varus por bioinforma¡tica, ou seja, feita por meio do computador.Â
Como resultado, foram encontradas 14 espanãcies de varus, sendo novas as nove espanãcies abaixo:
Além disso, também foi possível descobrir novas espanãcies de animais hospedeiros para varus também já conhecidos e descrever, pela primeira vez, a existaªncia de certos organismos já conhecidos, como psittacine adenovirus 3, chicken anemia virus, avian gyrovirus 2, gyrovirus 3 e beak and feather disease virus.Â
Um dos varus identificados no trabalho éo da anemia infecciosa das galinhas. A presença dele em aves não domésticas levanta questionamentos para estudiosos a respeito do papel de aves silvestres na propagação da doença causada por esse varus.Â
“Esses resultados mostram a complexidade do microbioma viral que animais silvestres podem ter e quanto pouco explorado ele éno que diz respeito a fauna do Cerrado. O nosso estudo contribui tanto em termos de vigila¢ncia sanita¡ria como para a compreensão da biodiversidade viral nesses animaisâ€, explica Matheus.Â
Para o professor Fernando Lucas, que atuou na pesquisa com a parte da análise de resultados, o trabalho serve como um primeiro passo para pesquisas posteriores. “Ele vai guiar e direcionar futuros trabalhos, pois, a partir dele, serápossível conhecer os novos varus descobertos e quais os efeitos deles nos animais e no ser-humano. Se são varus que causam doenças ou nãoâ€, observa.Â