Grupo de pesquisadores aponta os problemas trazidos pelo reflorestamento desordenado
Foto: Mariana Heinz/CC BY-ND 2.0

A cada ano épossível notar o aumento dasmudanças climáticas causadas pelo aquecimento global e ampliadas pela atividade humana. Temperaturas elevadas, secas prolongadas, derretimento de geleiras são somente uma parte dos sinais de que algo precisa ser feito para reverter a situação. A solução encontrada por pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suaa§a, publicada no artigo The global tree restoration potential (O potencial global de restauração de a¡rvores), éutilizar os 0,9 bilhaµes de hectares osequivalentes a extensão do territa³rio brasileiro e de quase todo o colombiano ossituados fora das áreas urbanas e agracolas para plantar a¡rvores que seriam capazes de capturar 205 gigatoneladas de carbono oscorrespondente a cerca de um tera§o da quantidade de carbono liberado atéhoje.
A solução apontada, poranãm, não obteve aceitação una¢nime na comunidade cientafica. Um grupo de pesquisadores de diferentes instituições mundiais decidiu, então, publicar um comenta¡rio tanãcnico, em que corrige algumas das afirmações apresentadas no artigo e recalcula o potencial de sequestro de carbono para 42 gigatoneladas. Além disso, dentre os hectares mapeados, estãoincluadas áreas protegidas que, segundo o professor do Departamento de Bota¢nica da UFRGS e coautor do comenta¡rio tanãcnico Gerhard Overbeck, não poderiam ser consideradas para a plantação. Essas regiaµes abrigam biomas abertos, como os campos e as savanas, e o plantio de a¡rvores poderia torna¡-las um ambiente florestal (fechado), destruindo o ecossistema presente e agravando asmudanças climáticas.
No trabalho suiço, não foi levado em conta que campos e savanas tem capacidade de capturar e armazenar carbono tanto quanto ambientes florestais. Por exemplo, nas savanas tropicais aºmidas encontradas na áfrica e no Brasil oschamadas de cerrado aqui –, 86% de todo o carbono estãono solo. Os autores do comenta¡rio também advertem que o carbono sequestrado pelas a¡rvores nos ambientes fechados pode ser liberado para a atmosfera em casos de incaªndio.
A pesquisa também não considerou a influaªncia do albedo no clima local ossuperfacies escuras refletem mais calor. Assim, áreas com grande quantidade de cobertura vegetal produzem mais calor do que os ambientes abertos. Por fim, o professor lembra que foi deixada de lado a necessidade de ambientes de campo e savana terem distúrbios osfogo e pastejo controlados ospara promover maior biodiversidade e continuar provendo os servia§os ecossistemicos, como fornecimento de habitat para espanãcies polinizadoras e a garantia da infiltração de águano solo.
Os autores do comenta¡rio tanãcnico ainda defendem que, para impedir o avanço do aquecimento global, épreciso restaurar o estado original dos ecossistemas e parar com as emissaµes de carbono. Segundo Gerhard, isso são seria alcana§ado com o estabelecimento de políticas de apoio a pesquisa e a criação de uma infraestrutura para restaurar os biomas abertos, dos quais restam poucas sementes das espanãcies nativas.
Importa¢ncia da vegetação nativa
O professor Gerhard Overbeck também participou de uma pesquisa a respeito dos servia§os econa´micos e ambientais prestados pelas áreas de vegetação nativa no Brasil. O estudo foi realizado em parceria com pesquisadores brasileiros do grupo Coalização Ciência e Sociedade após a apresentação do Projeto de Lei nº 2.362/19, que retiraria da Lei 12.651 a necessidade de preservação dessas áreas. O projeto não foi aprovado pelo Senado Federal, poranãm o grupo ainda achou relevante sua publicação para a conscientização da população.
O trabalho aborda os problemas que a autorização do desmatamento da Reserva Legal osconstituada de faixas de terra dentro de propriedades privadas para uso econa´mico sustenta¡vel osacarretaria para o ser humano e, principalmente, para a biodiversidade. As consequaªncias iriam da perda da capacidade de recarga dos rios e aquaferos, a redução da qualidade da águaatéa erosão e perda do solo. Para alcana§ar uma conservação efetiva desses locais seria necessa¡rio realizar manutenções, mas também adotar mecanismos de produção com menor impacto ambiental, como a redução do uso de pesticidas e a melhor divisão da finalidade de cada Espaço.
A vegetação nativa cobre entre 65% e 69% de territa³rio brasileiro, mas somente 6% édestinado a conservação de biodiversidade, e grande parte dessas zonas se localiza na regia£o amaza´nica, recentemente afetada por queimadas. Conforme o estudo, essas áreas geram aproximadamente R$ 6 trilhaµes para a economia brasileira por meio da prestação de servia§os ecossistemicos, como a regulação climática, o armazenamento de cerca de 21% do carbono dopaís e a captação de águapara consumo humano, para uso em hidrelanãtricas e na agricultura. Tais dados são uma estimativa, pois, conforme o pesquisador, os trabalhos usados utilizam diferentes valores para cada servia§o.