Insetos comestaveis podem enriquecer alimentos e complementar renda de comunidades carentes
Pesquisa abrange propostas da Agenda 2030 e contempla principalmente os Objetivos de Desenvolvimento Sustenta¡vel (UN, 2015)
No ano passado, a bia³loga Ana Laºcia Marigo entrou em contato com alguns professores da Faculdade de Engenharia Agracola (FEAGRI) da Unicamp com o objetivo de desenvolver doutorado sobre pesquisas de técnicas simples para a criação de insetos comestaveis que possibilitassem a produtores de pequenas comunidades aumento de renda e consequentemente melhoria das condições sociais das famalias envolvidas. Foi quando acabou estabelecendo contato mais pra³ximo com a professora Juliana Aparecida Fracarolli, da área de tecnologia pa³s-colheita da Faculdade de Engenharia Agracola (Feagri) da Unicamp, que prontamente manifestou interesse em orienta-la em doutorado iniciado em agosto do mesmo ano. A partir daa ganhou corpo também a ideia de os insetos constituarem alternativa para enriquecimento das dietas dessas comunidades pois, como se sabe, muitos deles são ricos em vários componentes alimentares importantes, principalmente proteanas.
Professora Juliana e pesquisadora Ana Laºcia
Essa segunda possibilidade vinha ao encontro dos interesses futuros da docente que pretende dedicar-se a questões relacionadas a fome e a desnutrição que acometem comunidades carentes em todo o mundo. A propa³sito, ela lembra que a pesquisa em questãoabrange propostas da Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustenta¡vel (ODS) que enfatizam a necessidade de medidas transformadoras em busca de um real desenvolvimento sustenta¡vel para a humanidade (UN, 2015). A proposta contempla principalmente os ODS que propaµem acabar com a fome, garantir segurança alimentar e assegurar padraµes de produção e de consumo sustenta¡veis.
Em decorraªncia do tema de doutorado as pesquisadoras propuseram-se a participar de uma oficina oferecida na primeira versão do programa Ciência e Arte dos Povos da Amaza´nia (CAPA), que se desenvolvera¡ por seis semanas a partir de meados de janeiro, promovido pelas pra³-reitorias de pesquisa da Unicamp e da UFPA (Universidade Federal do Para¡) e pelo Santander. O CAPA traz ao campus de Campinas 20 estudantes da UFPA, oriundos de povos indagenas, quilombolas, ribeirinhos e extrativistas, para atividades de esta¡gio, pesquisa e oficinas, além de possibilitar o contato desses alunos com a vida acadaªmica atravanãs de docentes, pesquisadores e discentes da Universidade. O programa visa estimular os participantes para a pesquisa cientifica, envolvendo-os em atividades nas áreas de artes, ciências humanas, exatas e da terra, ciências biológicas e da saúde e tecnologia.
O objetivo da oficina em questãoéexplorar os insetos como fonte alternativa de proteanas alimentares, proporcionando aos alunos a oportunidade do aprendizado da sua criação, do seu processamento e da produção de alimentos que os utilizam e que tem potencial para tornarem-se fontes de consumo. Durante o evento os participantes ouviram uma apresentação tea³rica sobre os conceitos envolvendo o consumo e a criação se insetos, participaram de atividades prática s relacionadas a criação, manuseio, abate, higienização e processamento dos insetos com vistas a utilização na culina¡ria. Concluaram as atividades executando uma receita em que insetos constituem um dos ingredientes e ao final foram convidados a degustar o prato por eles preparado. â€Pretendemos despertar nesses alunos o interesse em levar todo esse conhecimento para disponibiliza-lo em suas regiaµes. Esperamos que isso contribua para o enriquecimento alimentar e gere fonte de rendas alternativas para as comunidades amaza´nicas mais carentes, pois a criação não exige muita tecnologia, possibilitando-lhes inclusive o desenvolvimento de criações de insetos locais e o estabelecimento de novos hábitos alimentaresâ€, enfatiza Juliana.Â
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Alunos da UFPA durante realização de oficina no programa
Ciência e Arte dos Povos da Amaza´niaÂ
Conceito
As pesquisadoras esclarecem que, embora menos presente no mundo ocidental, o consumo de insetos ébastante comum em culturas asia¡ticas e africanas. Insetos vão sendo consumidos como suplemento alimentar ou como constituinte principal da dieta de diferentes povos em muitas regiaµes do mundo, inclusive indagenas, constituindo uma fonte proteica de grande importa¢ncia nutritiva pela quantidade relativa de proteanas e lipadeos, além de rica em sais minerais, embora seus consumos sejam vistos, principalmente no ocidente, com grande preconceito.
A produção de insetos para consumo em larga escala éum conceito relativamente novo na sociedade e tem como um dos principais desafios a popularização desta fonte alternativa de proteanas. Como os insetos podem sobreviver em diferentes locais, tanto em ambientes naturais como artificiais, existe grande potencial para a produção de um alimento que acarreta baixo andice de poluição ambiental, oferece alta rentabilidade e que além de tudo demanda baixo investimento.
Existem vários insetos que já fazem parte da culina¡ria em outrospaíses e mesmo no Brasil, como o tenanãbrio, besouro da farinha, cuja larva éutilizada tanto para alimentação de repteis como para como para consumo humano, o grilo, espanãcies de baratas que inclusive são produzidas com essas finalidades. Embora a ANVISA ainda não tenha regulamentado suas utilizações para a alimentação humana, encontram-se criadores de insetos espalhados por todo opaís que artesanalmente já os utilizam na produção de ração animal e atéde chocolates e biscoitos para consumo humano.
Durante o doutorado de Ana Laºcia a docente espera o desenvolvimento de protocolos para a criação de vários tipos de insetos e que o trabalho renda artigos publicados, possibilite a realização de atividades na universidade e a criação de cursos de extensão.
Ana Laºcia acrescenta: “Esperamos que nossos estudos, e outros que certamente se desenvolvera£o paralelamente, oferea§am subsadios para que a ANVISA possa estabelecer regulamentação especafica para a produção de insetos para fins alimentaciosâ€. Para ela, quanto mais pesquisas existirem a respeito mais elementos tera¡ o órgão para regulamentar essa produção e sua utilização na alimentação humana, pois informalmente a atividade nessa área já éconsidera¡vel no Brasil.
Antecedentes
Juliana foi convidada para ir ao Japa£o como professora visitante na Tokyo University of Agriculture and Technology (TUAT), onde esteve em janeiro de 2019, para dar inicio ao estabelecimento de convaªnios entre essa instituição e a Unicamp e ministrar aulas nopaís para alunos de graduação e pós-graduação sobre agricultura brasileira. Na ocasia£o, em que teve oportunidade de realizar reuniaµes com professores e autoridades, visitar laboratórios e inteirar-se de pesquisas na área agracola, ficou claro para ela a importa¢ncia da implementação de iniciativas com vistas a fome zero no mundo, conforme previsto na Agenda 2030.
Ana Laºcia - que além de graduada em biologia e ciências tem mestrado em geociências e especialização em gestãoe manejo ambiental em sistemas agracolas osjá havia sido convidada pelo professor Ramon Santos de Minas, do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), campus de Coxim, face a sua experiencia na criação de insetos, a contribuir para a elaboração de um livro concebido por ele com receitas enriquecidas com insetos, idealizado com a ideia de promover a popularização dessa proteana alternativa. Para tanto, ele buscou pessoas envolvidas de alguma forma com insetos (pesquisadores, chefs, professores, produtores, alunos da universidade) que estivessem interessadas em colaborar com a elaboração de receitas para compor a publicação “Insetos na Alimentação Humana osGuia Pra¡tico de Receitasâ€, que apresenta mais de 150 delas.
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O livro Insetos na Alimentação Humana - Guia prático de receitas
Ficou então sob sua responsabilidade o capatulo sobre "Acompanhamentos e Guarnições". Dele constam receitas de preparo de abobrinhas recheadas com grilo negro; arroz de forno com tenanãbrios; cestinhas cremosas com tenanãbrios; pizza de tenanãbrio na xacara; arroz com lentilhas e barata cinerea; suflaª de legumes e barata cinerea; feija£o fradinho com tenanãbrios; cogumelos recheados com grilo negro; tortilha espanhola com grilo negro; farofa caipira com tenanãbrio.