Tecnologia Científica

Pesquisadora cria adesivo sustenta¡vel a  base de semente de mamona
A pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, produziu uma cola sustenta¡vel a  base de a³leo de mamona. O produto também pode ser utilizado para impermeabilizaa§a£o de madeiras de reflorestam
Por Letícia Santin - 05/02/2020


As sementes de mamona foram classificadas de acordo
com o peso, tamanho, cor, rendimento em a³leo, entre outros
osFoto: Doma­nio paºblico via Wikimedia Commons

Uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, produziu uma cola sustenta¡vel a  base de a³leo de mamona. O produto também pode ser utilizado para impermeabilização de madeiras de reflorestamento. Conhecido como poliuretano, o adesivo/impermeabilizante éresultado da busca por produtos de baixo impacto ambiental e processos industrialmente menos sofisticados. O estudo foi conduzido num laboratório piloto que foi, no ini­cio da pesquisa, equipado com um extrator idealizado no pra³prio laboratório e fabricado por uma empresa parceira. Com esse equipamento foi otimizado o processo de extração de a³leo de qualquer lote de sementes de mamona.

A pesquisa de Aline Maria Faria Cerchiari foi apresentada para obtenção do tí­tulo de doutora em Ciências, pelo Programa de Pa³s-Graduação em Recursos Florestais da Esalq, e teve orientação do professor JoséNivaldo Garcia. “O objetivo foi produzir o adesivo de maneira simplificada. Extraa­mos o a³leo da semente em prensa meca¢nica no laboratório e não utilizamos processos qua­micos. A grande vantagem foi não precisar comprar o a³leo comercial, que éo maior componente na fabricação da cola”, diz a pesquisadora.
O produto pode ser utilizado como adesivo na fabricação de vigas de Madeira Lamelada Colada (MLC) e também para atuar contra ação negativa da variação do teor de umidade da madeira, quando utilizado como impermeabilizante. “Adicionamos aditivos naturais para melhorar a resistência da cola, mas, mesmo sem os aditivos, os resultados foram satisfata³rios”, falou a autora. Na função de impermeabilizar as madeiras, as amostras ficaram até11 dias submersas em águapara teste de absorção. A cola mostrou-se eficaz com apenas uma camada de aplicação para madeiras de menores densidades.

O produto pode ser utilizado como adesivo na fabricação de vigas de Madeira Lamelada Colada (MLC) e também para atuar contra ação negativa da variação do teor de umidade da madeira, quando utilizado como impermeabilizante osFoto: Ulrike Mai via Pixabay
 
Adesivos modificados e produzidos a partir de recursos renova¡veis não poluentes e biodegrada¡veis tem aberto novas perspectivas no desenvolvimento de alternativas em comparação aos adesivos utilizados tradicionalmente para a produção de MLC. Os poliuretanos de a³leo da mamona possuem propriedades tanãrmicas e meca¢nicas compara¡veis ou atésuperiores a s dos poliuretanos tradicionais. “Durante os testes, nosusamos três espanãcies de madeira, uma como referaªncia e outras duas que ainda não são utilizadas no mercado de engenharia da madeira.”

Produção de baixo impacto ambiental

O estudo classificou morfologicamente as sementes selvagens e não selvagens de mamona, assim como verificou a influaªncia do tempo de prensagem e o efeito de aditivos no pra³prio processo ou na resistência das juntas coladas. “Classificamos de acordo com o peso, tamanho, cor, rendimento em a³leo, entre outros, de acordo com um boletim da Embrapa. Como não conheca­amos as variedades disponí­veis para a pesquisa, criamos uma forma de suporte para especificar os tipos de sementes usadas na extração do a³leo.”

Aline observou que as sementes selvagens da regia£o são menores que aquelas de outras variedades, que são plantadas, e também diferem das sementes de uma variedade comercial geneticamente modificada produzida pelo Instituto Agrona´mico de Campinas (IAC), de variedades conhecidas, que são selecionadas e tratadas de maneira diferente. A produção foi realizada com sementes selvagens de mamona coletadas em Piracicaba e na própria Esalq. “Coletamos os cachos, colocamos em um deck projetado para secagem ao ar e deixamos em torno de 15 dias de exposição ao sol. Por volta desse tempo de secagem, os frutos explodem literalmente, mas o deck éadaptado para reter as sementes ejetadas”.

Foram testados 15 tipos de aditivos na formulação do poliuretano e os aditivos com fibras, resina goma-laca e glicerina foram selecionados para serem utilizados em a³leos extraa­dos em laboratório. Foi possí­vel produzir poliuretano de mamona, a partir de sementes selvagens e da variedade Guarani com os respectivos a³leos extraa­dos no laboratório, sem precisar utilizar aditivos para duas das três espanãcies de madeira estudadas. “Na função de impermeabilizante do adesivo com aditivos, foram necessa¡rias no ma­nimo duas dema£os para melhor eficácia dos produtos em duas das espanãcies e, na outra, a aplicação de somente uma camada do produto foi suficiente para o sucesso do ensaio”, explica.
 
O objetivo de produzir o adesivo a partir de um processo simplificado, sem precisar comprar o a³leo, foi alcana§ado. “Nãose sabe como são produzidos os a³leos de mamona comercial e isso leva a uma natural rejeição por desconfianção quanto ao uso de algum produto qua­mico de extração/purificação e quanto a um possí­vel impacto ambiental do processo de produção. No nosso caso, a única alteração que fizemos foi retirar a águada semente, porque já ta­nhamos verificado em alguns testes que o processo não dava certo, pois o adesivo criava uma espuma que não servia para a finalidade do produto. Nosso foco foi fazer todo o processo, da produção do a³leo a  produção do adesivo e chegar ao produto final direcionado para uso em estrutura de madeira”, conclui. O trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeia§oamento de Pessoal de Na­vel Superior (Capes).