A energia escura, a força misteriosa que se acredita estar impulsionando a expansão cada vez mais rápida do universo, parece estar mudando ao longo do tempo...

E se a energia escura não for o que pensávamos que era? Essa força estranha pode estar enfraquecendo com o tempo, sugerem observações.
A energia escura, a força misteriosa que se acredita estar impulsionando a expansão cada vez mais rápida do universo, parece estar mudando ao longo do tempo, de acordo com novas observações divulgadas nesta quarta-feira (19).
Se a energia escura estiver de fato enfraquecendo, isso provavelmente significará que a compreensão da ciência sobre como o universo funciona precisará ser reescrita.
As novas descobertas vêm do Instrumento Espectroscópico de Energia Escura (DESI), que fica em um telescópio no Observatório Nacional Kitt Peak, no estado americano do Arizona.
"O que estamos vendo é profundamente intrigante", disse Alexie Leauthaud-Harnett, porta-voz da colaboração DESI, que reúne 70 instituições ao redor do mundo.
"É emocionante pensar que podemos estar à beira de uma grande descoberta sobre a energia escura e a natureza fundamental do nosso universo", disse ela em um comunicado.
As finas fibras ópticas do instrumento DESI podem observar simultaneamente 5.000 galáxias ou quasares — monstros brilhantes com um buraco negro no centro — por 20 minutos.
Isso permite que os cientistas calculem a idade e a distância desses objetos e criem um mapa do universo para que possam detectar padrões e rastrear sua história.
'Tensões' emergentes
Os cientistas sabem há um século que o universo está se expandindo, porque enormes aglomerados de galáxias foram observados se afastando uns dos outros.
No final da década de 1990, cientistas chocaram a área ao descobrir que a expansão do universo estava acelerando ao longo do tempo.
O nome energia escura foi dado ao fenômeno que impulsiona essa aceleração, cujos efeitos parecem ser parcialmente compensados pela matéria comum — e por uma coisa também desconhecida chamada matéria escura .
Acredita-se que o universo seja feito de 70% de energia escura, 25% de matéria escura e apenas 5% de matéria normal.
O melhor entendimento da ciência sobre como o universo funciona, chamado de modelo cosmológico padrão, refere-se à energia escura como sendo constante, o que significa que ela não muda.
A ideia foi introduzida pela primeira vez por Albert Einstein em sua teoria da relatividade.
Arnaud de Mattia, um físico francês envolvido na análise dos dados do DESI, disse à AFP que o modelo padrão é "satisfatório", mas algumas "tensões" estão surgindo entre as observações.
Existem várias maneiras diferentes de medir a expansão do universo, incluindo observar a radiação remanescente após o Big Bang, as explosões de estrelas chamadas supernovas e como a gravidade distorce a luz das galáxias.
Quando a equipe do DESI combinou seus novos dados com outras medições, eles encontraram "sinais de que o impacto da energia escura pode estar enfraquecendo com o tempo", de acordo com uma declaração.
"Quando combinamos todos os dados cosmológicos, vemos que a expansão do universo estava acelerando a uma taxa um pouco maior há cerca de sete bilhões de anos", disse de Mattia.
Mas, no momento, não há "nenhuma certeza absoluta" sobre isso, ele acrescentou.
'Ponto de inflexão'
O físico francês Etienne Burtin estava confiante de que "deveríamos ter uma imagem mais clara dentro de cinco anos".
Isso ocorre porque há muitos dados novos esperados do DESI, do telescópio espacial Euclid da Europa, do próximo telescópio espacial Nancy Grace Roman da NASA e do Observatório Vera Rubin no Chile.
"Esta nova geração de pesquisas — nos próximos anos — vai acertar em cheio", disse Joshua Frieman, astrofísico teórico da Universidade de Chicago, à AFP.
Mas, por enquanto, "estamos neste interessante ponto de inflexão", acrescentou Frieman, especialista em energia escura e ex-membro do DESI.
Burtin disse que confirmar a teoria da " energia escura em evolução " seria uma "revolução no nível da descoberta da expansão acelerada", que por si só foi tema de um Nobel de física.
"O modelo cosmológico padrão teria que ser diferente", acrescentou.
A pesquisa do DESI, que envolveu três anos de observações de 15 milhões de galáxias e quasares, foi apresentada em uma conferência da Sociedade Americana de Física na Califórnia.
© 2025 AFP