Tecnologia Científica

O que vocêestãovendo agora éo passado, então seu cérebro estãoprevendo o presente
Sentimos que vivemos no presente. Quando abrimos os olhos, percebemos o mundo exterior como ele éagora. Mas na verdade estamos vivendo um pouco no passado.
Por Hinze Hogendoorn - 17/03/2020


Quando uma bola muda de direção, nosso cérebro presume que continuara¡ s
ua antiga trajeta³ria atéreceber novas informações dos olhos. Isso pode levar
até120 milissegundos, o que geralmente étarde demais para um
goleiro desesperado. Crédito: Shutterstock / Herbert Kratky

Leva tempo para que as informações de nossos olhos cheguem ao cérebro , onde são processadas, analisadas e finalmente integradas a  consciência. Devido a esse atraso, as informações disponí­veis para nossa experiência consciente estãosempre desatualizadas.

Então, por que não percebemos esses atrasos e como o cérebro nos permite sentir como se estivanãssemos experimentando o mundo em tempo real?

Estamos vivendo no passado

Considere pegar uma bola. Sa£o necessa¡rias dezenas de milissegundos para que as informações do olho cheguem ao cérebro, e cerca de 120ms antes de podermos agir com base nessas informações . Durante esse período, a bola continua a se mover, portanto as informações do cérebro sobre onde estãoa bola sempre ficam para trás do local onde a bola esta¡.

Em esportes como taªnis, cra­quete e beisebol, as bolas viajam a velocidades bem acima de 100 km por hora, o que significa que a bola pode se mover mais de 3 metros durante esse período de atraso. Claramente, se percebaªssemos a posição da bola com base nas informações mais recentes disponí­veis para o cérebro, nunca conseguira­amos pega¡-la ou acerta¡-la com precisão. Então, como o cérebro nos permite ver onde estãoa bola e não onde estava?

Investigamos essa questãoem nosso estudo, publicado hoje em Proceedings of the National Academy of Sciences . Mostramos aos participantes objetos em movimento e registramos sua atividade cerebral . Suspeitamos que o cérebro possa resolver seu problema de atraso fazendo previsaµes. No caso de um objeto em movimento, ele pode extrapolar a posição do objeto para a frente ao longo de sua trajeta³ria percebida.

Se isso fosse verdade, conclua­mos, ele deveria ultrapassar quando um objeto desaparecer repentinamente. Afinal, levaria tempo para o cérebro "descobrir" que o objeto havia desaparecido e, durante esse tempo, continuaria extrapolando. Como resultado, o cérebro "veria" brevemente o objeto além do ponto em que desapareceu.
 
O cérebro prediz antes que os olhos vejam

Foi exatamente isso que observamos em nossos registros cerebrais. Quando um objeto em movimento desapareceu repentinamente (por exemplo, movendo-se no sentido hora¡rio em ca­rculo e desaparecendo na posição das 12 horas), nossas gravações mostraram que, por um tempo, o cérebro de nossos participantes agia exatamente como se o objeto ainda estivesse la¡ e parado. em movimento, na posição de 1 hora.

Em outras palavras, o cérebro estava "vendo" o objeto com base em onde esperava que ele estivesse, em vez de basear-se em informações reais dos olhos. Esse padrãode atividade cerebral desapareceu apenas quando as informações dos olhos chegaram ao cérebro para dizer que o objeto havia realmente desaparecido.

Tambanãm investigamos o que acontece quando um objeto muda de direção em vez de desaparecer. Como antes, argumentamos que o cérebro não saberia sobre a mudança de direção atéreceber essa informação dos olhos. Portanto, ele deve ultrapassar novamente, extrapolando o objeto além do ponto em que mudou de direção. Quando o cérebro descobre para onde o objeto realmente foi, teria que alcana§a¡-lo.

Nossos cérebros reescrevem nossa própria história

Nossas gravações novamente mostraram exatamente isso. Quando o objeto mudou repentinamente de direção, levou um tempo antes que o cérebro descobrisse. Durante esse tempo, continuou extrapolando a posição do objeto ao longo de sua trajeta³ria original. Quando as informações sobre a posição real do objeto finalmente chegaram, a previsão original foi rapidamente substitua­da. O cérebro encobriu suas previsaµes equivocadas.

Esse encobrimento éintrigante porque o cérebro estãoreescrevendo sua própria história. Esta¡ dizendo "o objeto nunca esteve aqui" depois de coloca¡-lo ali. E a experiência dia¡ria nos diz que esse encobrimento émuito eficaz. Afinal, quando olhamos para uma bola quicando no cha£o, não vemos a bola se mover além do cha£o.

Ou nós? Nossos resultados sugerem que, talvez, muito brevemente, nosnão ver objetos em movimento em suas posições extrapoladas diante de nossos cérebros descobrir seus erros. Por um período muito curto, vera­amos uma bola quicando no cha£o. Mas quando isso acaba errado, nossos cérebros - no verdadeiro estilo orwelliano - cobrem rapidamente seus rastros e insistem que sempre souberam onde o objeto realmente estava.

 

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