Tecnologia Científica

Pesquisador de Stanford investiga como lulas se comunicam no escuro
Os pesquisadores comea§am a revelar como as lulas sociais se comunicam na quase escurida£o do fundo do mar.
Por Taylor Kubota - 24/03/2020

Nas a¡guas geladas, a 500 metros abaixo dasuperfÍcie do Oceano Paca­fico, centenas de lulas Humboldt do tamanho de humanos se alimentam de um pedaço de peixe-lanterna na medida do dedo. Passando um pelo outro, os predadores se movem com uma precisão excepcional, nunca colidindo ou competindo por presas. 

Um grupo de lulas de Humboldt nada em formação cerca de 200 metros
abaixo dasuperfÍcie da baa­a de Monterey. (Crédito da imagem: © 2010 MBARI)

Como eles estabelecem essa ordem na quase escurida£o da zona crepuscular do oceano?

A resposta, segundo pesquisadores da Universidade de Stanford e do Instituto de Pesquisa do Aqua¡rio de Monterey Bay (MBARI), pode ser comunicação visual. Como as palavras iluminadas em um leitor de e-book, esses pesquisadores sugerem que a capacidade da lula de brilhar sutilmente - usando órgãos produtores de luz em seus maºsculos - pode criar uma luz de fundo para alterar os padraµes de pigmentação em sua pele. As criaturas podem estar usando esses padraµes de mudança para sinalizar umas a s outras.

A pesquisa foi publicada em 23 de mara§o na revista Proceedings da National Academy of Sciences .

"Muitas lulas vivem em a¡guas bastante rasas e não possuem esses órgãos produtores de luz, por isso épossí­vel que seja uma inovação evolutiva essencial para poder habitar o oceano aberto", disse Benjamin Burford , estudante de biologia na Escola de Humanidades e Ciências em Stanford e principal autor do artigo. "Talvez eles precisem dessa capacidade de brilhar e exibir esses padraµes de pigmentação para facilitar os comportamentos do grupo para sobreviver por aa­".

Vendo o mar profundo

O comportamento das lulas de Humboldt équase impossí­vel de estudar em cativeiro, então os pesquisadores devem encontra¡-las onde moram. Para esta pesquisa, Bruce Robison, da MBARI, autor saªnior do artigo, capturou imagens da lula de Humboldt na costa da Califórnia usando vea­culos operados remotamente (ROVs) ou submarinos robóticos não tripulados.

Embora os ROVs pudessem gravar o padrãode pele das lulas, as luzes que as ca¢meras exigiam eram muito brilhantes para registrar seu brilho sutil, de modo que os pesquisadores não puderam testar diretamente sua hipa³tese de luz de fundo. Em vez disso, eles encontraram evidaªncias de apoio nos estudos anata´micos de lulas capturadas.

Uma lula de Humboldt mostra suas cores nas luzes de um vea­culo operado
remotamente a 300 metros abaixo dasuperfÍcie da baa­a de Monterey.
(Crédito da imagem: © 2010 MBARI)

Usando as imagens do ROV, os pesquisadores analisaram como as lulas se comportavam quando estavam se alimentando versus quando não estavam. Eles também prestaram atenção em como esses comportamentos mudaram, dependendo do número de outras lulas na área imediata - afinal, as pessoas se comunicam de maneira diferente se estãofalando com amigos e com um grande paºblico.

As imagens confirmaram que os padraµes de pigmentação das lulas parecem estar relacionados a contextos específicos. Alguns padraµes foram detalhados o suficiente para sugerir que a lula pode estar transmitindo mensagens precisas - como "esse peixe ali émeu". Havia também evidaªncias de que seus comportamentos poderiam ser decompostos em unidades distintas que as lulas recombinam para formar mensagens diferentes, como letras no alfabeto. Ainda assim, os pesquisadores enfatizam que émuito cedo para concluir se as comunicações das lulas constituem uma linguagem humana.

"No momento, enquanto falamos, provavelmente hálulas sinalizando umas a s outras no fundo do oceano", disse Burford, que éafiliado ao laboratório Denny na Estação Mara­tima Hopkins de Stanford . "E quem sabe que tipo de informação eles estãodizendo e que tipo de decisão estãotomando com base nessas informações?"

Embora essas lulas possam ver bem na penumbra, sua visão provavelmente não éespecialmente na­tida, então os pesquisadores especularam que os órgãos produtores de luz ajudam a facilitar as comunicações visuais da lula, aumentando o contraste para o padrãoda pele. Eles investigaram essa hipa³tese mapeando onde esses órgãos de luz estãolocalizados na lula de Humboldt e comparando-os com os locais onde os padraµes de pele mais detalhados aparecem nas criaturas.

Eles descobriram que as áreas onde os órgãos iluminadores eram mais densamente compactados - como uma pequena área entre os olhos das lulas e a borda fina de suas barbatanas - correspondiam a quelas onde os padraµes mais intricados ocorriam.

Estrangeiros familiares

Desde que a lula foi filmada, a tecnologia ROV avançou o suficiente para que a equipe pudesse ver diretamente sua hipa³tese de luz de fundo em ação na próxima vez em que a lula for observada na Califa³rnia. Burford também gostaria de criar algum tipo de lula virtual que a equipe pudesse projetar na frente da lula real para ver como eles respondem aos padraµes e movimentos da lula cibernanãtica.

Os pesquisadores estãoentusiasmados com o que encontraram atéagora, mas estãoansiosos para fazer mais pesquisas no fundo do mar. Embora estudar os habitantes do fundo do mar em que vivem possa ser um empreendimento frustrantemente difa­cil, esta pesquisa tem o potencial de informar uma nova compreensão de como a vida funciona.

"a€s vezes pensamos nas lulas como formas de vida loucas que vivem neste mundo aliena­gena, mas temos muito em comum - elas vivem em grupos, são sociais, conversam", disse Burford. "Pesquisando seu comportamento e o de outros residentes do fundo do mar éimportante para aprender como a vida pode existir em ambientes estranhos, mas também nos diz de maneira mais geral sobre as estratanãgias usadas em ambientes extremos em nosso pra³prio planeta".

 

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