Tecnologia Científica

Revisitando dados de décadas de Voyager 2, cientistas descobrem mais um segredo sobre Urano
A descoberta, relatada em Geophysical Research Letters , levanta novas questões sobre o ambiente magnético aºnico do planeta.
Por Miles Hatfield, - 26/03/2020


A Voyager 2 capturou esta imagem ao se aproximar do planeta Urano em 14 de janeiro
de 1986. A cor azulada e nebulosa do planeta se deve ao metano em sua atmosfera,
que absorve comprimentos de onda vermelhos da luz. Crédito: NASA / JPL-Caltech

Oito anos e meio de sua grande turnaª pelo sistema solar, a sonda Voyager 2 da NASA estava pronta para outro encontro. Era 24 de janeiro de 1986 e logo encontraria o misterioso sanãtimo planeta, Urano, gelado como o gelo.

Nas próximas horas, a Voyager 2 voou a 80.433 quila´metros dos topos das nuvens de Urano, coletando dados que revelaram dois novos ananãis, 11 novas luas e temperaturas abaixo de 353 graus Fahrenheit (214 graus Celsius). O conjunto de dados ainda éas únicas medições de perto que já fizemos do planeta.

Traªs décadas depois, os cientistas que inspecionaram esses dados encontraram mais um segredo.

Sem o conhecimento de toda a comunidade de física espacial, 34 anos atrás, a Voyager 2 voou atravanãs de um plasmoide, uma bolha magnanãtica gigante que pode estar levando a atmosfera de Urano para o Espaço. A descoberta, relatada em Geophysical Research Letters , levanta novas questões sobre o ambiente magnético aºnico do planeta.

Um a­mpar a­mpar vacilante

Atmosferas planeta¡rias em todo o sistema solar estãovazando no Espaço. O hidrogaªnio brota de Vaªnus para se juntar ao vento solar, o fluxo conta­nuo departículas escapando do sol. Jaºpiter e Saturno lana§am bolhas de seu ar eletricamente carregado. Atéa atmosfera da Terra vaza. (Nãose preocupe, ele permanecera¡ por mais um bilha£o de anos ou mais.)

Os efeitos são pequenos nas escalas de tempo humanas, mas, por tempo suficiente, a fuga atmosfanãrica pode alterar fundamentalmente o destino de um planeta. Para um caso em questão, olhe para Marte.

"Marte costumava ser um planeta aºmido com uma atmosfera espessa", disse Gina DiBraccio, física espacial do Centro de Va´o Espacial Goddard da NASA e cientista de projeto da missão Atmosfera e Evolução Vola¡til de Marte, ou missão MAVEN. "Evoluiu ao longo do tempo" - 4 bilhaµes de anos de vazamento no espaço - "para se tornar o planeta seco que vemos hoje".

Essa émais uma razãopela qual Urano éum mistanãrio. O sobreva´o de 1986 da Voyager 2 revelou o quanto magneticamente estranho o planeta anã.

"A estrutura, a maneira como ela se move ...", disse DiBraccio, "Urano érealmente por si são."

Diferente de qualquer outro planeta em nosso sistema solar, Urano gira quase perfeitamente de lado - como um porco assado no espeto - completando um rolo de barril a cada 17 horas. Seu eixo de campo magnético aponta 60 graus para longe desse eixo de rotação, de modo que o planeta gira, sua magnetosfera - o espaço esculpido por seu campo magnético - oscila como uma bola de futebol mal jogada. Os cientistas ainda não sabem como modela¡-lo.

Essa estranheza levou DiBraccio e seu co-autor Dan Gershman, um colega fa­sico espacial de Goddard, ao projeto. Ambos faziam parte de uma equipe que elaborava planos para uma nova missão para os 'gigantes do gelo' Urano e Netuno, e estavam procurando por mistanãrios para resolver. O estranho campo magnético de Urano, medido pela última vez hámais de 30 anos, parecia um bom lugar para comea§ar.

Então eles baixaram as leituras do magneta´metro da Voyager 2, que monitoravam a força e a direção dos campos magnanãticos pra³ximos a Urano, a  medida que a Espaçonave passava. Sem ter ideia do que encontrariam, eles se aproximaram mais que os estudos anteriores, plotando um novo ponto de dados a cada 1,92 segundos. Linhas suaves deram lugar a pontas e quedas irregulares. E foi quando eles viram: um pequeno ziguezague com uma grande história.

"Vocaª acha que isso poderia ser ... um plasmoide?" Gershman perguntou a DiBraccio, vendo o rabisco.

Pouco conhecido na anãpoca do sobreva´o da Voyager 2, os plasmoides se tornaram reconhecidos como uma maneira importante de os planetas perderem massa. Essas bolhas gigantes de plasma, ou gás eletrificado, se soltam do final da magnetotail de um planeta - a parte de seu campo magnético soprada pelo Sol como uma biruta. Com tempo suficiente, escapar de plasmoides pode drenar os a­ons da atmosfera de um planeta, alterando fundamentalmente sua composição. Eles haviam sido observados na Terra e em outros planetas, mas ninguanãm havia detectado plasmoides em Urano - ainda.

DiBraccio executou os dados em seu pipeline de processamento e os resultados voltaram limpos. "Eu acho que definitivamente anã", disse ela.

A bolha escapa

O plasmoide DiBraccio e Gershman encontrados ocuparam apenas 60 segundos do va´o de 45 horas da Voyager 2 por Urano. Ele apareceu como um rápido movimento para cima e para baixo nos dados do magneta´metro. "Mas se vocêo plotasse em 3D, pareceria um cilindro", disse Gershman.

Comparando seus resultados com os plasmoides observados em Jaºpiter, Saturno e Mercaºrio, eles estimaram uma forma cila­ndrica de pelo menos 127.000 milhas (204.000 quila´metros) de comprimento e atéaproximadamente 250.000 milhas (400.000 quila´metros) de dia¢metro. Como todos os plasmoides planetarios, estava cheio departículas carregadas - principalmente hidrogaªnio ionizado, acreditam os autores.

Leituras de dentro do plasmoide - enquanto a Voyager 2 voava atravanãs dele - sugeriam suas origens. Enquanto alguns plasmoides tem um campo magnético interno torcido , DiBraccio e Gershman observaram laa§os magnanãticos suaves e fechados. Tais plasmoides semelhantes a laa§os são tipicamente formados quando um planeta girando lana§a pedaço s de sua atmosfera para o Espaço. "As forças centra­fugas assumem o controle e o plasmoide se aperta", disse Gershman. De acordo com suas estimativas, plasmoides como esse poderiam representar entre 15 e 55% da perda de massa atmosfanãrica em Urano, uma proporção maior do que Jaºpiter ou Saturno. Pode muito bem ser a maneira dominante de Urano lana§ar sua atmosfera para o Espaço.

Como a fuga de plasmoides mudou Urano ao longo do tempo? Com apenas um conjunto de observações, édifa­cil dizer.

"Imagine se uma nave espacial voasse atravanãs desta sala e tentasse caracterizar toda a Terra", disse DiBraccio. "Obviamente, isso não mostrara¡ nada sobre como éo Saara ou a Anta¡rtica."

Mas as descobertas ajudam a focar novas questões sobre o planeta. O mistério restante faz parte do sorteio. "a‰ por isso que amo a ciência planeta¡ria", disse DiBraccio. "Vocaª estãosempre indo a algum lugar que realmente não conhece".

 

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