Tecnologia Científica

Simulação matemática permite trazr diferentes cenários de isolamento
Cientistas desenvolveram um sistema de simulaa§a£o matemática que permite trazr diferentes cenários de isolamento social para as cidades do Estado de Sa£o Paulo.
Por Felipe Mateus - 29/05/2020


Heudes Regis/Fotos públicas
Sistema permite o planejamento de quarentenas de acordo com diferentes cenários

Pesquisadores ligados ao Centro de Ciências Matema¡ticas Aplicadas a  Indústria (CeMEAI), com apoio do Instituto Serrapilheira, desenvolveram um sistema de simulação matemática que permite trazr diferentes cenários de isolamento social para as cidades do Estado de Sa£o Paulo. Os na­veis de isolamento apontados pelo programa variam conforme as caracteri­sticas de cada munica­pio, como o ritmo de propagação do coronava­rus nas regiaµes e a capacidade do sistema de saúde de absorver novos casos que necessitam de internação. Participaram da elaboração do sistema os professores Paulo JoséSilva, do Instituto de Matema¡tica, Estata­stica e Computação Cienta­fica (IMECC) da Unicamp, Tiago Pereira e Lua­s Gustavo Nonato, do Instituto de Ciências Matema¡ticas e de Computação (ICMC) da Universidade de Sa£o Paulo. 

Segundo Paulo Silva, o sistema ébaseado no reconhecimento do isolamento social como ferramenta necessa¡ria para redução da taxa de conta¡gio do novo coronava­rus e manutenção da capacidade do sistema de saúde. Aliado a isso, os pesquisadores buscaram incluir nos ca¡lculos a possibilidade de combinar períodos de abertura controlada com fechamentos mais ou menos restritos, conceito chamado de isolamento intermitente. Dessa forma, para cada cidade seria possí­vel projetar cenários de abertura e isolamento considerando as caracteri­sticas do munica­pios e as metas trazdas para cada regia£o. 

"Olhando a literatura, a gente tem percebido que vai ser necessa¡rio alternar entre períodos de mais mitigação, mais interferaªncia, com períodos mais normais. Então, o que nosso sistema tenta definir équais são os na­veis de reprodução do va­rus que a sociedade precisaria atingir, tentando combinar esses três objetivos ao mesmo tempo: não deixar o sistema de saúde explodir, não deixar uma cidade fechada indefinidamente, se possí­vel, e deixar uma parte da economia do estado funcionando em períodos de tempo", explica o professor.

Estratanãgias diferentes para as cidades

Baseado em dados da situação atual dos munica­pios, o sistema apresenta a gestores paºblicos uma simulação de quais seriam os protocolos ideais de distanciamento social, desde o mais leve ao severo, de forma que a taxa de conta¡gio do coronava­rus permanea§a dentro dos parametros definidos para manutenção da capacidade do sistema de saúde. Em um dos cenários simulados pelos pesquisadores, Campinas e Sorocaba apresentariam trajeta³rias de isolamento parecidas, com gradual abertura atéo fim de 2020. No mesmo período, Ribeira£o Preto viveria uma alterna¢ncia entre aberturas e fechamentos (veja gra¡fico abaixo). 

Gra¡fico mostra variação de protocolos de isolamento diferentes para as cidades de
Sa£o Paulo. Projeção de diferentes protocolos de isolamento para as cidades de
Sa£o Paulo. As intensidades va£o de períodos de abertura a isolamentos severos.
As linhas pretas representam onívelde ocupação do sistema de saúde.
As projeções podem variar conforme a evolução da pandemia e
das condições do sistema de saúde (fonte: projeto Robot Dance) 

Por levar em conta aspectos que variam conforme a evolução da pandemia no estado, tais como as taxas de isolamento social registradas e a capacidade do sistema de saúde, os resultados das simulações apresentadas pelo sistema podem variar de forma constante. De acordo com Paulo Silva, apesar de oferecer indicações para o futuro, o sistema apresenta aos gestores paºblicos um retrato do momento. "A decisão a ser tomada tem que ser revista a cada semana, ou a cada duas semanas. Toda vez em que houver um aumento na capacidade do sistema de saúde, ou quando a meta trazda não for atingida, se ocorrer um aumento no número de doentes, vai ser necessa¡ria uma nova simulação que vai sugerir uma estratanãgia para os pra³ximos dias, isso ocorreria o tempo todo. Nãoéuma coisa do tipo 'faz isso que vai funcionar', porque o cena¡rio édina¢mico", analisa. 

Apesar de o sistema apontar caminhos para que haja períodos de flexibilização do isolamento social, o professor alerta que as medidas são possa­veis apenas em um cena¡rio onde a taxa de conta¡gio do coronava­rus estãocontrolada. Por isso, argumenta que as medidas de isolamento devem ainda ser observadas: "Atéagora, nosnão temos conseguido, em nenhum lugar dopaís, uma taxa de replicação do va­rus menor do que um, necessa¡ria para controlar a doena§a. Por isso, a gente vaª no Brasil inteiro que a doença continua avaçando, em alguns lugares de forma mais lenta, em outros mais rapidamente, mas ela continua avaçando. E não hálternativa, se vocênão conseguir fazer um isolamento que derrube a taxa para abaixo de um, a única solução éfazer todo o isolamento que for possí­vel".

Dia¡logo constante com gestores paºblicos

Ainda segundo Paulo Silva, o objetivo dos pesquisadores éde que o sistema fique dispona­vel aos gestores paºblicos, tanto municipais quanto do Estado, para contribuir nas tomadas de decisão a respeito das medidas de isolamento. Entretanto, ele defende que a adoção do sistema depende da proximidade e do dia¡logo entre gestores de diferentes regiaµes e insta¢ncias governamentais por conta da complexidade do pra³prio programa e da responsabilidade envolvida nas decisaµes que ele possibilita. 

"Ele não éum sistema simples, então o ideal éque haja um dia¡logo constante entre quem opera o sistema e os gestores paºblicos, porque existem decisaµes a serem tomadas. Por exemplo, o que émelhor? Deixar em um mesmo grupo de cidades Campinas e Jundiaa­ ou Campinas e Sa£o Paulo? Qual onívelideal para deixar o sistema de saúde desafogado? Mais pra³ximo ou mais distante de 100%? Então para rodar um sistema desse não ésão operar um programa, épreciso uma conversa entre gestores e quem opera o programa"

De acordo com o docente, gestores paºblicos de munica­pios e da administração estadual já demonstraram interesse em conhecer o sistema, mas os dia¡logos ainda estãona fase inicial. Mas ele reforça a importa¢ncia de se melhorar os a­ndices de isolamento social e redução nas taxas de conta¡gio para controle da doena§a. "Um sistema desse são funciona se a gente conseguir fazer um isolamento maior do que temos conseguido. Senão, não precisa nem rodar o sistema. Nãoépreciso matemática, basta o bom senso", finaliza o professor.

 

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