Cientistas desenvolveram um sistema de simulaa§a£o matemática que permite trazr diferentes cenários de isolamento social para as cidades do Estado de Sa£o Paulo.
Heudes Regis/Fotos públicas
Sistema permite o planejamento de quarentenas de acordo com diferentes cenários
Pesquisadores ligados ao Centro de Ciências Matema¡ticas Aplicadas a Indústria (CeMEAI), com apoio do Instituto Serrapilheira, desenvolveram um sistema de simulação matemática que permite trazr diferentes cenários de isolamento social para as cidades do Estado de Sa£o Paulo. Os naveis de isolamento apontados pelo programa variam conforme as caracteristicas de cada municapio, como o ritmo de propagação do coronavarus nas regiaµes e a capacidade do sistema de saúde de absorver novos casos que necessitam de internação. Participaram da elaboração do sistema os professores Paulo JoséSilva, do Instituto de Matema¡tica, Estatastica e Computação Cientafica (IMECC) da Unicamp, Tiago Pereira e Luas Gustavo Nonato, do Instituto de Ciências Matema¡ticas e de Computação (ICMC) da Universidade de Sa£o Paulo.Â
Segundo Paulo Silva, o sistema ébaseado no reconhecimento do isolamento social como ferramenta necessa¡ria para redução da taxa de conta¡gio do novo coronavarus e manutenção da capacidade do sistema de saúde. Aliado a isso, os pesquisadores buscaram incluir nos ca¡lculos a possibilidade de combinar períodos de abertura controlada com fechamentos mais ou menos restritos, conceito chamado de isolamento intermitente. Dessa forma, para cada cidade seria possível projetar cenários de abertura e isolamento considerando as caracteristicas do municapios e as metas trazdas para cada regia£o.Â
"Olhando a literatura, a gente tem percebido que vai ser necessa¡rio alternar entre períodos de mais mitigação, mais interferaªncia, com períodos mais normais. Então, o que nosso sistema tenta definir équais são os naveis de reprodução do varus que a sociedade precisaria atingir, tentando combinar esses três objetivos ao mesmo tempo: não deixar o sistema de saúde explodir, não deixar uma cidade fechada indefinidamente, se possível, e deixar uma parte da economia do estado funcionando em períodos de tempo", explica o professor.
Estratanãgias diferentes para as cidades
Baseado em dados da situação atual dos municapios, o sistema apresenta a gestores paºblicos uma simulação de quais seriam os protocolos ideais de distanciamento social, desde o mais leve ao severo, de forma que a taxa de conta¡gio do coronavarus permanea§a dentro dos parametros definidos para manutenção da capacidade do sistema de saúde. Em um dos cenários simulados pelos pesquisadores, Campinas e Sorocaba apresentariam trajeta³rias de isolamento parecidas, com gradual abertura atéo fim de 2020. No mesmo período, Ribeira£o Preto viveria uma alterna¢ncia entre aberturas e fechamentos (veja gra¡fico abaixo).Â
Gra¡fico mostra variação de protocolos de isolamento diferentes para as cidades de
Sa£o Paulo. Projeção de diferentes protocolos de isolamento para as cidades de
Sa£o Paulo. As intensidades va£o de períodos de abertura a isolamentos severos.
As linhas pretas representam onívelde ocupação do sistema de saúde.
As projeções podem variar conforme a evolução da pandemia e
das condições do sistema de saúde (fonte: projeto Robot Dance)Â
Por levar em conta aspectos que variam conforme a evolução da pandemia no estado, tais como as taxas de isolamento social registradas e a capacidade do sistema de saúde, os resultados das simulações apresentadas pelo sistema podem variar de forma constante. De acordo com Paulo Silva, apesar de oferecer indicações para o futuro, o sistema apresenta aos gestores paºblicos um retrato do momento. "A decisão a ser tomada tem que ser revista a cada semana, ou a cada duas semanas. Toda vez em que houver um aumento na capacidade do sistema de saúde, ou quando a meta trazda não for atingida, se ocorrer um aumento no número de doentes, vai ser necessa¡ria uma nova simulação que vai sugerir uma estratanãgia para os pra³ximos dias, isso ocorreria o tempo todo. Nãoéuma coisa do tipo 'faz isso que vai funcionar', porque o cena¡rio édina¢mico", analisa.Â
Apesar de o sistema apontar caminhos para que haja períodos de flexibilização do isolamento social, o professor alerta que as medidas são possaveis apenas em um cena¡rio onde a taxa de conta¡gio do coronavarus estãocontrolada. Por isso, argumenta que as medidas de isolamento devem ainda ser observadas: "Atéagora, nosnão temos conseguido, em nenhum lugar dopaís, uma taxa de replicação do varus menor do que um, necessa¡ria para controlar a doena§a. Por isso, a gente vaª no Brasil inteiro que a doença continua avaçando, em alguns lugares de forma mais lenta, em outros mais rapidamente, mas ela continua avaçando. E não hálternativa, se vocênão conseguir fazer um isolamento que derrube a taxa para abaixo de um, a única solução éfazer todo o isolamento que for possível".
Dia¡logo constante com gestores paºblicos
Ainda segundo Paulo Silva, o objetivo dos pesquisadores éde que o sistema fique disponavel aos gestores paºblicos, tanto municipais quanto do Estado, para contribuir nas tomadas de decisão a respeito das medidas de isolamento. Entretanto, ele defende que a adoção do sistema depende da proximidade e do dia¡logo entre gestores de diferentes regiaµes e insta¢ncias governamentais por conta da complexidade do pra³prio programa e da responsabilidade envolvida nas decisaµes que ele possibilita.Â
"Ele não éum sistema simples, então o ideal éque haja um dia¡logo constante entre quem opera o sistema e os gestores paºblicos, porque existem decisaµes a serem tomadas. Por exemplo, o que émelhor? Deixar em um mesmo grupo de cidades Campinas e Jundiaa ou Campinas e Sa£o Paulo? Qual onívelideal para deixar o sistema de saúde desafogado? Mais pra³ximo ou mais distante de 100%? Então para rodar um sistema desse não ésão operar um programa, épreciso uma conversa entre gestores e quem opera o programa"
De acordo com o docente, gestores paºblicos de municapios e da administração estadual já demonstraram interesse em conhecer o sistema, mas os dia¡logos ainda estãona fase inicial. Mas ele reforça a importa¢ncia de se melhorar os andices de isolamento social e redução nas taxas de conta¡gio para controle da doena§a. "Um sistema desse são funciona se a gente conseguir fazer um isolamento maior do que temos conseguido. Senão, não precisa nem rodar o sistema. Nãoépreciso matemática, basta o bom senso", finaliza o professor.