Tecnologia Científica

Empresa paulista desenvolve tecido capaz de eliminar o novo coronava­rus por contato
Em testes de laboratório, o material foi capaz de eliminar 99,9% da quantidade do va­rus após dois minutos de contato
Por Elton Alisson - 19/06/2020


A tecnologia desenvolvida seráusada na produção de máscaras de proteção e
roupas hospitalares osFoto: Pixabay

Pesquisadores da empresa paulista Nanox, apoiada pelo Programa Fapesp Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), desenvolveram um tecido com microparta­culas de prata nasuperfÍcie que demonstrou ser capaz de inativar o coronava­rus SARS-CoV-2.

Em testes de laboratório, o material foi capaz de eliminar 99,9% da quantidade do va­rus após dois minutos de contato.

O desenvolvimento do material teve a colaboração de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, da Universitat Jaume I, da Espanha, e do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) osum dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fapesp.

“Já entramos com o pedido de depa³sito de patente da tecnologia e temos parcerias com duas tecelagens no Brasil que ira£o utiliza¡-la para a fabricação de máscaras de proteção e roupas hospitalares”, disse a  Agência Fapesp Luiz Gustavo Pagotto Simaµes, diretor da Nanox.

O tecido écomposto por uma mistura de polianãster e de algoda£o (polycotton) e contanãm dois tipos de microparta­culas de prata impregnadas nasuperfÍcie por meio de um processo de imersão, seguido de secagem e fixação, chamado pad-dry-cure.

A Nanox já fornecia para indaºstrias taªxteis e de diversos outros segmentos essas microparta­culas, que apresentam atividade antibacteriana e fungicida, e em tecidos evitam a proliferação de fungos e bactanãrias causadoras de maus odores (leia mais em agencia.fapesp.br/30037/).

Com o surgimento do novo coronava­rus e a chegada da pandemia no Brasil, os pesquisadores da empresa tiveram a ideia de avaliar se esses materiais também eram capazes de inativar o SARS-CoV-2, uma vez que já havia sido demonstrada em trabalhos cienta­ficos a ação contra alguns tipos de va­rus.


As microparta­culas de prata são impregnadas nos tecidos atravanãs de três processos:
imersão, secagem e fixação oscortesia

Para realizar os ensaios, a empresa se associou a pesquisadores do ICB, que conseguiram logo no ini­cio da epidemia no Brasil isolar e cultivar em laboratório o SARS-CoV-2 obtido dos dois primeiros pacientes brasileiros diagnosticados com a doença no Hospital Israelita Albert Einstein (leia mais em agencia.fapesp.br/32692/).

Amostras de tecido com e sem microparta­culas de prata incorporadas nasuperfÍcie foram caracterizadas por pesquisadores da Universitat Jaume I e do CDMF por espectroscopia e colocadas em tubos contendo uma solução com grandes quantidades de SARS-CoV-2, crescidos em células.

As amostras foram mantidas em contato direto com os va­rus em intervalos de tempo diferentes, de dois e cinco minutos, para avaliar a atividade antiviral.

Os experimentos foram feitos duas vezes, em dois dias diferentes e por dois grupos diferentes de pesquisadores, de modo que a análise dos resultados fosse feita de forma cega.

Os resultados das análises por quantificação do material genanãtico viral por PCR indicaram que as amostras de tecido com diferentes microparta­culas de prata incorporadas nasuperfÍcie inativaram 99,9% das ca³pias do novo coronava­rus presentes nas células após dois e cinco minutos de contato. “A quantidade de va­rus que colocamos nos tubos em contato com o tecido émuito superior a  que uma ma¡scara de proteção éexposta e, mesmo assim, o material foi capaz de eliminar o va­rus com essa efica¡cia”, diz Lucio Freitas Junior, pesquisador do Laborata³rio de Biossegurança de Na­vel 3 (NB3) do ICB.

“a‰ como se uma ma¡scara de proteção feita com o tecido recebesse um balde departículas contendo o va­rus e ficasse encharcada”, comparou o pesquisador.

Além de testes para avaliação da atividade antiviral, antimicrobiana e fungicida, o material também passou por ensaios para avaliação do potencial alanãrgico, fotoirritante e fotossensa­vel, para eliminar o risco de causar problemas dermatola³gicos.

Aplicação em outros materiais

A empresa pretende avaliar agora a duração do efeito antiviral das microparta­culas no tecido. Em testes relacionados a  propriedade bactericida, os materiais foram capazes de controlar fungos e bactanãrias em tecidos mesmo após 30 lavagens, afirma Simaµes.

“Como o material apresenta essa propriedade bactericida mesmo após 30 lavagens, provavelmente mantanãm a atividade antiviral por esse mesmo tempo”, estima.

De acordo com o pesquisador, as microparta­culas podem ser aplicadas em qualquer tecido composto por uma mistura de fibras naturais e sintanãticas. Além de tecidos, a empresa estãotestando agora a capacidade de inativação do novo coronava­rus pelas microparta­culas de prata incorporadas a superfÍcie de outros materiais, como filmes pla¡sticos e um pola­mero flexa­vel, semelhante a uma borracha, que utilizou para desenvolver uma ma¡scara de proteção contra o novo coronava­rus em parceria com a fabricante de brinquedos Elka (leia mais em agencia.fapesp.br/32982/).

“O tecido foi o primeiro resultado da aplicação das microparta­culas de prata para inativar o novo coronava­rus. Mas, em breve, devemos ter vários outros”, afirma Simaµes.

 

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