Compostos presentes na casca da fruta são os grandes responsa¡veis por conferirem ao material propriedades antioxidantes

A casca da roma£ possui muitos compostos antioxidantes. Essa característica foi essencial para o desenvolvimento do revestimento alimentar. Crédito: Pixabay
Quando uma pessoa come roma£, geralmente a casca vai para o lixo. Mas vocêjá parou para pensar que esse resíduo pode ser aproveitado de outras maneiras? Uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Química de Sa£o Carlos (IQSC) da USP, mostrou que a utilização do extrato da casca da roma£ tem o poder de potencializar revestimentos alimentares a base de quitosana.Â
A pesquisadora Mirella Bertolo, graduada em química e autora do trabalho, conta que teve a ideia de utilizar um material que pudesse ser comestavel com propriedades boas para ser aplicado em revestimentos de alimentos. O extrato da casca da roma£ foi escolhido por conter compostos fena³licos, que são moléculas com atividade altamente antioxidante que possuem um anel benzaªnico e uma hidroxila ligada a ele.
Mirella Bertolo contou que um dos objetivos do trabalho foi mostrar que épossível
usar resíduos, como a casca da roma£, para aplicações em pesquisas que sejam do
interesse de todos. Crédito: Cedida pela pesquisadora
“Eu já tinha a quitosana e a gelatina, e para melhorar suas propriedades quis aproveitar o extrato da casca da roma£, uma fruta com cultivo muito amplo no Brasilâ€, conta Mirella ao Jornal da USP. O grupo do laboratório de biopolímeros e biomateriais em que trabalhou no IQSC já utilizava a quitosana, um açúcar encontrado, principalmente, em animais marinhos como crusta¡ceos e moluscos.Â
O extrato da casca da fruta foi incorporado a quitosana e a gelatina em quatro concentrações diferentes. “Como era um material novo para mim, não sabia o quanto de extrato seria suficiente para conseguir as propriedades que queriaâ€, explica a pesquisadora.Â
Para caracterizar o revestimento foram feitos ensaios reola³gicos, que medem a viscosidade do material, e antioxidantes. “Fizemos uma análise de fena³licos totais e observamos que, quanto mais extrato, mais fena³licos encontrados no revestimento, o que demonstrou uma incorporação efetiva. Depois partimos para o ensaio contra o radical chamado DPPHâ€, conta Mirella. “O DPPH éuma espanãcie altamente reativa que promove oxidação. Colocamos o extrato com o radical e avaliamos o quanto ele conseguia inibi-lo: em quanto tempo, por exemplo, e quanto do extrato era preciso para inibir certa quantidade de DPPH.†Os resultados mostraram-se promissores, e a quantidade de revestimento com extrato necessa¡rio para inibir 50% do radical DPPH foi de 20 miligramas.Â
Extrato da casca da roma£. Crédito: Cedida pela pesquisadoraÂ
Já para caracterização reola³gica foi utilizado um equipamento chamado rea´metro, que realiza ensaios de deformação e viscosidade, por exemplo. Quanto mais extrato presente no revestimento, mais viscoso o material ficou e mais fa¡cil de escoar. A pesquisadora explica que essas caracteristicas são positivas para etapas de aplicação do revestimento, pois a quantidade de material aplicada ao alimento serámenor. Por ser mais viscoso ficara¡ aderido ao alimento. Graças a essa característica, técnicas de aplicação mais caras, como em spray, podem ser descartadas, já que o alimento conseguiria ficar aderido ao revestido após ser mergulhado no mesmo.Â
Agora, no doutorado, Mirella conta que tem como objetivo otimizar o sistema de produção do revestimento e conseguir aplica¡-lo em morangos, já que em sua monografia ela apenas produziu e caracterizou o material. Os morangos foram escolhidos porque são frutas extremamente perecaveis e o revestimento alimentar aumentaria seu tempo de conservação. “Uma vez aplicado na fruta e comprovada sua efica¡cia, temos a intenção de expandir seu uso para outras frutas como, por exemplo, carnes e ovos. A ideia éque seja um revestimento que possa ser aplicado nos mais diversos tipos de alimentos, sem interferir em sua aparaªncia e no seu gosto, mas preservando-os da oxidação e de desgastesâ€, finaliza.
A pesquisa foi apresentada no IQSC no final de 2018 e seus resultados publicados na revista cientafica Carbohydrate Polymers no final de 2019.Â