Tecnologia Científica

Professores do IGC caracterizam evolução geomorfola³gica do Quadrila¡tero Ferra­fero
Resultados do estudo foram publicados em artigo na Earth-Science Reviews, revista de destaque na área de geociências
Por Matheus Espíndola - 15/07/2020


Trecho do Rio Piracicaba entre Tima³teo e Coronel Fabriciano: estudo buscou compreender o processo de transformação da geomorfologia dos cursos d’ águado Quadrila¡tero Ferra­fero 
HVL / Wikimedia Commons / CC BY 4.0

A sistematização sobre a evolução geomorfola³gica dos sistemas fluviais do Quadrila¡tero Ferra­fero (QF), regia£o de Minas Gerais, étema de estudo desenvolvido pelos professores Luiz Fernando Barros e Anta´nio Magalha£es, do Departamento de Geografia, do Instituto de Geociências (IGC).

O trabalho édesdobramento da pesquisa de doutoramento do professor Luiz Fernando. Os pesquisadores caracterizaram as fases da evolução do relevo que decorreram dos movimentos dos rios, hálgumas centenas de milhares de anos. Segundo os professores, essas modificações podem ser fortes indicadores das influaªncias tecta´nicas e climáticas na paisagem no Brasil.

O artigo Late quaternary landscape evolution in the Atlantic Plateau (Brazilian highlands): tectonic and climatic implications of fluvial archives foi publicado na revista Earth-Science Reviews, peria³dico da área de geociências com fator de impacto 9.530, que tera¡ acesso livre até6 de agosto.

Incisão fluvial

Como explica Luiz Fernando Barros, incisão fluvial éo nome dado ao lento processo de escavação do relevo pelos cursos d'a¡gua, que tende a aprofundar os vales. “Nesse processo, háfases mais aceleradas. Outras são mais lentas, quando o rio acumula sedimentos. Por isso, ao longo das encostas, épossí­vel encontrar remanescentes desses sedimentos, que fornecem pistas sobre a história da incisão fluvial, muito influenciada por questões tecta´nicas, climáticas e geola³gicas”, detalha.

De acordo com Luiz Fernando, o trabalho de reconstrução geomorfola³gica com base em depa³sitos fluviais épouco comum no interior continental, em rios que estãoem relevo serrano, como Minas Gerais. Isso porque esses depa³sitos são costumam ser abundantes ao longo de grandes rios ou em regiaµes costeiras. “Mas o trabalho mostra que, mesmo com poucos fragmentos dessa história de evolução, épossí­vel reconstituir os principais eventos de transformação da paisagem”, comenta o professor.

A regia£o do QF éum doma­nio geomorfola³gico muito importante de Minas Gerais, razãopela qual seu estudo desperta interesses econa´micos, socioambientais e hista³ricos. De acordo com Luiz Fernando Barros, muitos trabalhos foram dedicados a  compreensão do processo de transformação movido pela trajeta³ria geomorfola³gica dos cursos d’a¡gua. A maioria deles, no entanto, tem foco em apenas um ou dois vales fluviais.

“As conclusaµes obtidas a respeito de apenas um vale podem ser razoa¡veis. Mas, quando se faz a comparação com outros vales, são encontradas incoeraªncias. Meu esfora§o foi de revisitar o que já havia sido feito e levantar novas informações, visando constituir uma sa­ntese regional”, explica.

O professor afirma que o relevo regional no QF éjovem, ou seja, os cursos d’ águaainda são bastante ativos. “Alguns depa³sitos tem pouco mais de 50 mil anos e estãosituados a mais de cinquenta metros acima doníveldos rios atuais. Isso mostra que a incisão fluvial éum processo mais rápido do que se imaginava”, observa.

De maneira geral, resume Luiz Fernando, após um ganho de energia por processos tecta´nicos, a incisão fluvial teve seu ritmo controlado por fases climáticas. Nas fases mais frias e de clima mais seco, os vales fluviais ficam desprotegidos. "Isso favorece a erosão, e muito material sedimentar élevado para o fundo", afirma o professor. Por isso, os cursos d’a¡gua, nesses períodos, não conseguem desempenhar a incisão fluvial. “Já nos períodos mais aºmidos e mais quentes, a vegetação estabiliza as encostas, a erosão diminui, e os cursos d’ águase tornam capazes de remover os materiais em seu fundo e de escavar o pra³prio substrato rochoso”, contrapaµe o pesquisador, sobre a construção da história do relevo nessas regiaµes.

Juntos, os autores se dedicam a projetos de pesquisa sobre o tema, desde 2006. O professor Anta´nio Magalha£es, ainda em 1993, havia abordado o assunto durante sua pesquisa de mestrado.

O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo a  Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cienta­fico e Tecnola³gico (CNPq).

 

.
.

Leia mais a seguir