Tecnologia Científica

Pesquisadores da USP finalizam melhoramento genanãtico de maracujás-doces
As experiências resultaram em frutos com maior teor de polpa e lavouras mais produtivas
Por Ivanir Ferreira - 27/07/2020


Depois de 15 anos de pesquisa em genanãtica e melhoramento, os cientistas obtiveram frutos com mais polpa, casca reduzida e maior produtividade nas lavouras osFoto: Arquivo pessoal da professora Maria Lucia Carneiro Vieira

O maracujá mais consumido pelos brasileiros éo amarelo, de sabor azedo e a¡cido. Mas se depender de pesquisas de melhoramento genanãtico da USP, os maracujás-doces (Passiflora alata) em breve estara£o ocupando maiores Espaços nas bancas das feiras, nos sacolaµes e ga´ndolas de supermercados. Estudos que já vinham sendo realizados desde 2005 chegaram agora a resultados promissores. Os novos frutos geneticamente melhorados possuem quantidade maior de polpa, espessura da casca mais fina e ganho de produtividade na lavoura. Quem liderou a equipe de pesquisa foi a professora Maria Lucia Carneiro Vieira, do Departamento de Genanãtica da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba.

Para os fruticultores brasileiros, os resultados da pesquisa  representam maiores lucros, uma vez que os prea§os destes frutos, que estãona categoria de exa³ticos, chegam a alcana§ar três vezes mais que os prea§os do maracujá azedo. Um artigo sobre os últimos resultados saiu publicado na PLoS ONE Improving research resources and fruit quality in sweet passion fruit: genotype detection by interaction in the environment and selection of promising genotypes em maio. A tese Estudos genanãticos em uma população segregante de maracujá-doce selecionada para qualidade de frutos, de Lourdes Chavarra­a Perez, orientanda de Maria Lucia, traz detalhes sobre o assunto.

No Brasil, o cultivo de maracujá équase que inteiramente o do tipo azedo, que cobre cerca de 90% de todos os pomares. Já o cultivo do maracujá-doce élimitado pela instabilidade da qualidade dos frutos de uma safra para a outra; e também pela falta de estudos genanãticos que resultassem em variedades melhoradas e atendessem a s necessidades dos consumidores em termos de qualidade e rendimento. Baseado nesses problemas, os pesquisadores da área de genanãtica e melhoramento de plantas da Esalq se empenharam na solução.

População derivada do cruzamento maracujá-doce amazonense x paulista
 
Depois de 20 anos de pesquisa genanãtica, os cientistas obtiveram frutos com mais
polpa, casca reduzida e maior produtividade nas lavouras
Foto: Arquivo pessoal da professora Maria Lucia Carneiro Vieira

Os  seis melhores gena³tipos (caracteri­sticas relativas a peso dos frutos, espessura da casca e conteaºdo da polpa) que estãona área de experimentação da Esalq  são resultados de décadas de pesquisa. O trabalho começou em 2005 a partir do cruzamento de um gena³tipo de origem amaza´nica e outro do Sudeste do Paa­s (Sa£o Paulo). “Depois de   avaliações em progaªnies (prole) desse cruzamento, durante várias safras obtidas de plantações em regiaµes distintas, se chegou aos melhores gena³tipos de maracujá-doce”, explica a pesquisadora.

Segundo Maria Laºcia, as pesquisas de melhoramento genanãtico em plantas, em geral, são longas e demoradas porque  cada fase do estudo exige que se cultive as plantas em pelo menos três regiaµes diferentes, sendo que cada safra dura, em média, oito meses. “Em cada área de plantio énecessa¡rio ter no ma­nimo 600 plantas porque épreciso repetir os ensaios para se ter certeza dos melhores gena³tipos em diferentes ambientes e safras”, explica a pesquisadora.

Em princa­pio, “avaliamos cem ‘filhos’, de onde foram selecionados os trinta melhores, que foram reavaliados e, finalmente, chegamos aos seis gena³tipos superiores que contem as caracteri­sticas que os pesquisadores buscavam no ini­cio do estudo”.  Os frutos possuem maior qualidade, com atributos que agradam ao consumidor e ao agricultor: casca reduzida, aumento da polpa e maior produtividade na lavoura. “Em percentual, isso significa um aumento de peso da polpa de 22,4% para 30%; diminuição na espessura da casca em 26%; e ganho em área de produção (frutos por área) de 41%”, relata Maria Lucia.

Equipe de pesquisadores da Esalq que participou do estudo de melhoramento
genanãtico do maracujá-doce osFoto: Arquivo pessoal da
professora Maria Lucia Carneiro Vieira

Segundo a pesquisadora, o resultado desse estudo de melhoramento genanãtico trara¡ mais segurança ao agricultor que produz maracujá-doce, que tem alto potencial para ser explorado comercialmente como fruta tropical para consumo interno e externo. Segundo Maria Lucia, as mudas estara£o disponí­veis para uso agra­cola em 2021. Já existe uma empresa interessada nesse projeto, que teve financiamento da Fundação de Amparo a  Pesquisa do Estado de Sa£o Paulo (Fapesp).

 

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