Mil vezes mais fina que um fio de cabelo, tecnologia podera¡ ser usada em ca¢meras de celular para torna¡-las mais baratas

Pelaculas feitas de silacio (carculos estampados na lâmina) funcionam como uma lente fotogra¡fica osFoto: Henrique Fontes osSEL/USP
Pesquisadores da Escola de Engenharia de Sa£o Carlos (EESC) da USP desenvolveram uma pelacula feita de silacio que émil vezes mais fina que um fio de cabelo e podera¡ funcionar como uma lente fotogra¡fica, semelhante a s de ca¢meras de smartphone. A tecnologia inanãdita permite que o usua¡rio veja imagens em até180 graus, mesmo a¢ngulo proporcionado pelas famosas lentes olho-de-peixe. No meio cientafico, essa funcionalidade atéentão era considerada impossível de ser obtida em lentes totalmente planas, como a que foi construada pela EESC. Os resultados do trabalho geraram um artigo que foi publicado na ACS Photonics, revista cientafica norte-americana da área de Fota´nica, campo da ciência dedicado a estudar a luz.
A nova lente pesa aproximadamente dois microgramas, possui cerca de 230 nana´metros de espessura e tem uma área de 3,14 milametros quadrados. Segundo os cientistas, a expectativa éde que o material ajude a enfrentar um dos principais desafios no desenvolvimento de dispositivos a³ticos: fabricar lentes cada vez mais poderosas, poranãm com tamanhos cada vez menores. “O maior benefacio da nossa lente éque ela émuito fina, então promete ser mais barata de ser produzida se comparada a s convencionais, que são grandes e esfanãricas. Como se trata de umasuperfÍcie plana, émais fa¡cil coloca¡-la em um circuito integrado, o que simplifica a parte meca¢nica do dispositivoâ€, explica Augusto Martins, autor do estudo e doutorando do Programa de Pa³s-Graduação em Engenharia Elanãtrica da EESC.
Além do pequeno tamanho, outra vantagem da pelacula de silacio éque ela podera¡ atuar sozinha dentro do celular, sem a necessidade de incorporar lentes complementares para obter imagens em alta resolução, como acontece nas ca¢meras comuns. Isso contribuira¡ para diminuir ainda mais o porte dos sistemas a³ticos e, consequentemente, dos dispositivos ma³veis. “Essa éa primeira lente do mundo formada por uma única camada capaz de gerar imagens que cubram todo o campo de visãoâ€, afirma Emiliano R. Martins, um dos orientadores da pesquisa e professor do Departamento de Engenharia Elanãtrica e de Computação (SEL) da EESC.
Durante a pesquisa, que foi financiada pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Sa£o Paulo (Fapesp), Augusto Martins construiu um prota³tipo de uma ca¢mera com a ajuda de uma impressora 3D para testar a sua lente. Os resultados foram animadores. Imagens em alta resolução foram obtidas na cor verde, que por enquanto éa única na qual a pelacula consegue operar. A ideia, segundo o pesquisador, éque nos pra³ximos meses a lente seja aprimorada para que todas as cores possam ser visualizadas.
Para chegarem atéa composição da nova lente, os cientistas adotaram como ponto de partida as próprias lentes tradicionais e trabalharam com um para¢metro chamado andice de refração, que mede o quanto a velocidade da luz diminui ao incidir sobre umasuperfÍcie osquanto maior for esse andice, menor éa velocidade de propagação da luz pelo material. Em simulações realizadas no computador, eles perceberam que, conforme ampliavam o andice de refração de uma lente esfanãrica convencional e simultaneamente a deixavam mais plana, mais o campo de visão dela se abria e a qualidade da imagem melhorava. Em certo momento, quando ela ficou 100% plana, era preciso que seu andice de refração fosse infinito, o que, na prática , faria com que a luz não se propagasse por ela, algo impossível de acontecer. No entanto, como a pelacula de silacio desenvolvida pelos pesquisadores possui princapios fasicos diferentes das lentes comuns, ela foi capaz de imitar o comportamento a³tico da lente esfanãrica com andice infinito, ou seja, passou a atuar como uma lente impossível.

Pesquisadores criaram um prota³tipo de ca¢mera fotogra¡fica para testar a pelacula
desenvolvida osFoto: Augusto Martins
De onde vem a tecnologia?
A lente desenvolvida pela USP éum tipo de metalente, que estãoinserida no conceito de metassuperfacie osconjunto de nanoestruturas que conseguem controlar as propriedades da luz. Descoberta hápoucos anos, essa tecnologia pode ser aplicada em uma sanãrie de segmentos além da produção de lentes, como em segurança da informação, na fabricação de componentes de informa¡tica e no entretenimento. No ano passado, por exemplo, Augusto participou do desenvolvimento de uma metassuperfacie capaz de gerar hologramas em trêsDimensões e com mais qualidade.
Ao contra¡rio das lentes comuns, que precisam de uma espessura maior para gerar imagens com nitidez, as metalentes utilizam nanopostes microsca³picos inseridos em suasuperfÍcie plana capazes de “prender†e focar a luz do ambiente, fazendo com que as imagens sejam projetadas. a‰ como se elas fossem rodovias construadas para não deixar os carros (as luzes) saarem dela. Em 2016, pesquisadores da Universidade Harvard, dos Estados Unidos, desenvolveram a primeira metalente do mundo capaz de tirar fotos, mas ela tinha uma limitação: seu campo de visão era de apenas 0,5 grau, a¢ngulo que permite enxergar apenas o que estãoa sua frente.
Agora, além de expandirem a operação da metalente para outras cores, os cientistas da EESC esperam nas próximas etapas do estudo aumentar a eficiência da pelacula, melhorar ainda mais sua resolução e aplica¡-la em sistemas a³ticos mais complexos. Por enquanto, ainda não háprevisão de quando a tecnologia deve chegar ao mercado. A pesquisa também teve a orientação do professor Ben-Hur Viana Borges, do SEL, e contou com a colaboração de pesquisadores da Universidade de York, do Reino Unido, e da Universidade Sun Yat-sen, da China.