Tecnologia Científica

Como a cafea­na mudou o mundo
O autor Michael Pollan discute seu trabalho mais recente sobre a substância psicoativa mais usada no mundo
Por Colleen Walsh - 21/08/2020


Rose Lincoln / Fota³grafa da equipe de Harvard

a‰ a droga mais usada no mundo, uma que muitos de nossimplesmente nos recusamos a viver sem, optando pelo va­cio em vez de perder aquela primeira, ou segunda, ou em alguns casos a terceira xa­cara que nos ajuda a passar o dia.

E agora seus poderes sedutores, sua história sombria, seus benefa­cios para a saúde e seus efeitos colaterais prejudiciais estãoem plena exibição no novo audiolivro do autor do best-seller Michael Pollan " Caffeine: How Coffee and Tea Created the Modern World ".

O conferencista de artes Lewis K. Chan e professor de Pra¡tica de Na£o-Ficção fez carreira escrevendo sobre como as coisas que consumimos afetam nossas vidas, nossa saúde e nosso planeta (“The Omnivore's Dilemma,” “How to Change your Mente: O que a Nova Ciência dos Psicodélicos nos Ensina sobre Consciaªncia, Morte, Va­cio, Depressão e Transcendaªncia ”). Ele discutiu seu último esfora§o com a reitora do Radcliffe Institute for Advanced Study, Tomiko Brown-Nagin, durante uma palestra da Zoom na tera§a-feira (17).

Pollan, que trabalhou em seu livro de psicodélicos enquanto era bolsista de Radcliffe, disse que hános éobcecado por “essa relação reca­proca que temos com as plantas” e pela capacidade de certas plantas “de mudar as texturas de nossas experiências do mundo”. Elaborar uma pea§a com cafea­na estava hámuito tempo em sua lista de tarefas, disse ele, mas não sabia que isso exigiria um sacrifa­cio precioso.

Como ele fez em seus trabalhos anteriores, Pollan se tornou uma cobaia humana para sua arte, abandonando o cafanã, ou mais especificamente, a cafea­na, enquanto trabalhava no novo livro para realmente apreciar seus efeitos sobre o corpo e a mente humanos. Ele disse que a narrativa de sua história "exigia isso". No entanto, como sabe qualquer pessoa que abandonou o estimulante da dieta, não foi fa¡cil.

Em seu livro, Pollan relata o dia em que ele finalmente decidiu abandonar sua xa­cara matinal de rotina, lembrando como a “adora¡vel dispersão da nanãvoa mental que a primeira dose de cafea­na traz a  consciência nunca chegou. O nevoeiro caiu sobre mim e não se moveu. ”

Michael Pollan, que desistiu da cafea­na enquanto escrevia seu livro, disse que não
sabia como era viciado na droga. Foto de arquivo de Rose Lincoln / Harvard

Pollan disse que não entendia completamente como ele era viciado na droga - também conhecida pelo nome cienta­fico: 1, 3, 7-trimetilxantina - atéque parou. Todos os sintomas da abstinaªncia da cafea­na estavam presentes, ele notou, incluindo dores de cabea§a, fadiga e, talvez, o mais insidioso para um escritor que tentava contar uma história convincente, dificuldade de concentração.

Amedida que seu trabalho progredia, ele também percebeu que, como a cafea­na étão onipresente - mais de 90 por cento das pessoas no planeta a consomem diariamente, e atépermitimos que as criana§as recebam a droga na forma de refrigerante regularmente - cafea­na pessoal constante “simplesmente tornar-se a consciência humana ba¡sica. ”

Durante a palestra, Pollan mergulhou na ciaªncia, discutindo como a minaºscula molanãcula de cafea­na age no sistema nervoso central suprimindo o neuromodulador adenosina que ajuda a nos deixar com sono. A cafea­na, um quarto da qual pode permanecer em seu sistema por até12 horas, então se torna a solução para o problema que ela cria, disse ele, tornando as pessoas privadas de sono devido ao consumo de cafea­na na vanãspera ansiosas por uma dose matinal para carrega¡-los para o dia seguinte.

Pollan explica em uma seção do audiolivro sobre as origens da substância que a cafea­na foi descoberta pela primeira vez na China por volta de 1000 aC na forma de cha¡. A descoberta do caféremonta a  Etia³pia por volta de 850 DC. De acordo com a lenda, um pastor que percebeu como suas cabras ficavam nervosas depois de comer as frutas de uma planta ara¡bica deu algumas das frutas a um monge local, que as usou para preparar o primeira xa­cara de cafanã. Com o passar do tempo, a história da cafea­na deu uma guinada sombria. Agricultores e vendedores construa­ram a indústria nas costas de pessoas escravizadas forçadas a colher os gra£os de cafée o açúcar necessa¡rios para adoa§ar a bebida amarga que se tornara cada vez mais popular no Ocidente.

Em seu trabalho, Pollan aborda a questãode saber se a cafea­na foi uma benção ou uma maldição para a civilização humana. Ele conclui que o prea§o tem sido inegavelmente alto, possivelmente alto demais, com suas conexões hista³ricas com um sistema brutal de produção e o trabalho a¡rduo envolvido no cultivo e na colheita do caféque continua atéhoje. Depois, há destruição que causa em nosso sono - particularmente o sono profundo e de ondas lentas que éfundamental para a memória.

Mas Pollan também destaca os pontos positivos. Ele observa que antes de haver suprimentos de águapota¡vel, bebidas fervidas, como caféou cha¡, “eram a coisa mais segura que uma pessoa poderia beber”, sendo a alternativa mais comum o a¡lcool. Ele também aponta os benefa­cios conta­nuos para a saúde atribua­dos a  cafea­na e confirmados pela ciência Tomados com moderação, o cafée o cha¡ podem diminuir o risco de vários tipos de ca¢ncer, bem como de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e doença de Parkinson.

Ele também sugere que o consumo de bebidas com cafea­na pode atémesmo ter ajudado as sociedades que as adotaram a prosperar. De acordo com Pollan, a cafea­na impulsionou uma espanãcie de “pensamento iluminista”. As cafeterias que se espalharam primeiro pelo mundo a¡rabe e depois pela Europa se tornaram não apenas a internet de seus dias, espalhando fofocas e nota­cias, mas também centros de discussão que fomentaram importantes interca¢mbios culturais, pola­ticos e cienta­ficos e ajudaram a inaugurar um “novo espa­rito do racionalismo. ”

E a vantagem mental fornecida pela cafea­na ajudou a transformar o trabalho, disse ele, melhorando o foco e a capacidade de concentração - chaves para a segurança e o sucesso do trabalho mecanizado que impulsionou a Revolução Industrial, bem como em todas as gerações desde então. Pollan chama a pausa para o cafanã, criada nos Estados Unidos na década de 1940 como uma forma de aumentar a produção do trabalhador, "a melhor evidência do presente da cafea­na ao capitalismo".

“a‰ incra­vel que tenhamos institucionalizado um medicamento com o propa³sito expresso de melhorar a produtividade e o controle de qualidade, mas assim o fizemos”, disse Pollan.

No final das contas, onde Pollan finalmente pousou em sua própria ingestãode cafea­na? Ele fez um compromisso consigo mesmo, disse ele, são tomando caféaos sa¡bados, ou quando realmente precisa desse impulso mental. Ele reconhece que "não éum va­cio que me preocupa".

O autor também encorajou seus ouvintes a tentar largar o ha¡bito da cafea­na, mesmo que apenas temporariamente, diminuindo lentamente para evitar os sintomas de abstinaªncia. “A primeira xa­cara depois que vocêestãodescansando éa melhor maneira de se familiarizar com a droga que époderosa”, disse Pollan, que planeja incluir seu trabalho sobre a cafea­na em um livro impresso com três plantas psicoativas. a‰ provisoriamente intitulado “This Is Your Brain on Plants”.

E talvez tenhamos que nos acostumar a ter menos cafea­na em nossas vidas no futuro. De acordo com algumas estimativas, disse Pollan, por causa dasmudanças climáticas, em meados do século 50 por cento das terras que atualmente plantam cafeeiros "não sera£o mais adequadas para a produção de cafanã".

 

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