Tecnologia Científica

Pesquisadores de Stanford associam memória insuficiente a lapsos de atenção e multitarefa de ma­dia
Os pesquisadores de Stanford estãoligando os pontos entre a atenção e a memória para explicar por que nos lembramos de certas coisas e esquecemos outras, por que algumas pessoas se lembram melhor do que outras
Por Lara Streiff - 29/10/2020

Os olhos podem ser as janelas da alma, mas também podem fornecer vislumbres perspicazes da memória. Os cientistas de Stanford agora são capazes de prever se um indiva­duo se lembrara¡ ou esquecera¡ com base em sua atividade neural e no tamanho da pupila.

Pesquisadores de Stanford descobriram uma correlação entre multitarefa de
ma­dia e atenção insuficiente e perda de memória.
(Crédito da imagem: Getty Images)

“Amedida que navegamos em nossas vidas, temos períodos em que ficamos frustrados porque não somos capazes de trazer o conhecimento a  mente, expressando o que sabemos”, disse Anthony Wagner, professor Lucie Stern em Ciências Sociais na Escola de Stanford de Humanidades e Ciências. “Felizmente, a ciência agora tem ferramentas que nos permitem explicar por que um indiva­duo, de momento a momento, pode deixar de se lembrar de algo armazenado em sua memória.”

Além de investigar por que as pessoas a s vezes se lembram e outras vezes esquecem, a equipe de cientistas também queria entender por que alguns de nosparecem ter melhor recordação da memória do que outros, e como a multitarefa de ma­dia pode ser um fator.

A pesquisa, publicada na edição desta semana da revista Nature , comea§a a responder a essas questões fundamentais, que podem ter implicações para problemas de memória como a doença de Alzheimer e podem levar a aplicações para melhorar a atenção das pessoas - e, portanto, a memória - na vida dia¡ria.

Tamanho da pupila e potaªncia alfa

Para monitorar lapsos de atenção em relação a  memória, 80 sujeitos do estudo com idades entre 18 e 26 anos tiveram suas pupilas medidas e sua atividade cerebral monitorada por meio de um eletroencefalograma (EEG) - especificamente, as ondas cerebrais conhecidas como potaªncia alfa posterior - durante a execução de tarefas como relembrar ou identificarmudanças em itens previamente estudados.

"Aumentos no poder alfa na parte de trás do cra¢nio tem sido relacionados a lapsos de atenção, divagações mentais, distração e assim por diante", disse o autor principal do estudo Kevin Madore , pa³s-doutorado em Stanford no Laborata³rio de Mema³ria de Stanford . “Tambanãm sabemos que constrições no dia¢metro da pupila - em particular antes de vocêfazer diferentes tarefas - estãorelacionadas a falhas de desempenho, como tempos de reação mais lentos e mais divagações mentais.”

As diferenças na capacidade das pessoas de manter a atenção também foram medidas estudando o quanto bem os sujeitos foram capazes de identificar uma mudança gradual em uma imagem, enquanto a multitarefa de ma­dia foi avaliada fazendo com que os indivíduos relatassem quanto bem eles poderiam se envolver com várias fontes de ma­dia, como mensagens de texto e assistir televisão , dentro de uma determinada hora. Os cientistas então compararam o desempenho da memória entre os indivíduos e descobriram que aqueles com menor capacidade de atenção sustentada e multitarefas de ma­dia mais intensas tiveram desempenho pior em tarefas de memória.

Wagner e Madore enfatizam que seu trabalho demonstra uma correlação, não causalidade. “Nãopodemos dizer que multitarefa de ma­dia mais pesada causa dificuldades com atenção sustentada e falhas de memória”, disse Madore, “embora estejamos aprendendo cada vez mais sobre as direções das interações”.

Prepare-se para lembrar

Segundo Wagner, uma direção que o campo como um todo vem tomando éo foco no que acontece antes do aprendizado ou, como neste caso, antes mesmo de ocorrer a lembrana§a. Isso porque a memória depende muito da cognição direcionada a um objetivo - essencialmente precisamos estar prontos para lembrar, ter a atenção envolvida e um objetivo de memória em mente - a fim de recuperar nossas memórias.

“Embora seja la³gico que a atenção seja importante para aprender e lembrar, um ponto importante aqui éque as coisas que acontecem antes mesmo de vocêcomea§ar a se lembrar va£o afetar se vocêpode ou não reativar uma memória que érelevante para seu objetivo atual, ”Disse Wagner.

Alguns dos fatores que influenciam a preparação da memória já estãosob nosso controle, acrescentou ele, e podem, portanto, ser aproveitados para ajudar na recordação. Por exemplo, a percepção consciente da atenção, a prontida£o para lembrar e a limitação das distrações potenciais permitem que os indivíduos influenciem sua mentalidade e alterem o ambiente para melhorar o desempenho da memória.

Mema³ria “hackeada”

Embora essas estratanãgias relativamente simples possam ser aplicadas agora, os pesquisadores observam que podem eventualmente haver exerca­cios de treinamento de atenção direcionados ou intervenções que as pessoas podem empregar para ajuda¡-las a permanecer engajadas. Estas são conhecidas como “intervenções de ciclo fechado” e são uma área ativa de pesquisa.

Como exemplo, Wagner e Madore imaginam sensores oculares vesta­veis que detectam lapsos de atenção em tempo real com base no tamanho da pupila. Se o usua¡rio individual puder ser orientado a reorientar sua atenção para a tarefa em ma£os, os sensores podem auxiliar no aprendizado ou na recuperação de informações.

Finalmente, os avanços na medição dos estados de atenção e seus impactos no uso de metas para guiar a lembrana§a também são promissores para uma melhor compreensão das doenças ou condições de saúde que afetam a memória. “Temos uma oportunidade agora”, disse Wagner, “de explorar e compreender como as interações entre as redes do cérebro que suportam a atenção, o uso de metas e a memória se relacionam com as diferenças individuais na memória em adultos mais velhos, independentemente de, e em relação a, Doena§a de Alzheimer."

 

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