Tecnologia Científica

O microbioma dos desenhos de Da Vinci
No geral, os resultados mostram um doma­nio surpreendente das bactanãrias sobre os fungos.
Por Fronteiras - 20/11/2020


Amostragem de micróbios do Retrato de um homem em giz vermelho de Da Vinci (1512) Crédito: os autores

A obra de Leonardo Da Vinci éum patrima´nio inestima¡vel do século XV. Da engenharia a  anatomia, o mestre abriu o caminho para muitas disciplinas cienta­ficas. Mas o que mais os desenhos de Da Vinci poderiam nos ensinar? Os estudos moleculares podem revelar dados interessantes do passado? Essas questões levaram a uma equipe interdisciplinar de pesquisadores, curadores e bioinforma¡ticos, da University of Natural Resources and Life Science e da University of Applied Science de Wien, na austria, bem como do Instituto Central de Patologia de Arquivos e Livros (ICPAL) na Ita¡lia, para colaborar e estudar o microbioma de sete desenhos diferentes de Leonardo Da Vinci.

O estudo molecular de pea§as de arte já provou ser uma abordagem valiosa, e a Dra. Pia±ar, primeira autora do estudo, não estãoem sua primeira tentativa. Em 2019, sua equipe conseguiu investigar as condições de armazenamento e atémesmo a possí­vel origem geogra¡fica de três esta¡tuas requisitadas de contrabandistas por meio do estudo de seu microbioma e, no ini­cio deste ano, o microbioma de antigos pergaminhos permitiu elucidar a origem animal das peles usado para sua fabricação há1.000 anos. No estudo apresentado aqui, a equipe austra­aca estãousando uma abordagem gena´mica inovadora chamada Nanopore, considerada como sequenciamento de terceira geração, para revelar pela primeira vez a composição completa do microbioma de vários desenhos de Da Vinci. O estudo foi publicado hoje na Frontiers in Microbiology.

No geral, os resultados mostram um doma­nio surpreendente das bactanãrias sobre os fungos. Atéagora, os fungos eram considerados uma comunidade dominante na arte apoiada em papel e tendiam a ser o foco principal da análise microbiana devido ao seu potencial de biodeterioração. Aqui, grande parte dessas bactanãrias ou são tipicas do microbioma humano , certamente introduzidas pelo manuseio intensivo dos desenhos durante as obras de restauração, ou correspondem a microbiomas de insetos, que poderiam ter sido introduzidos, hámuito tempo, por meio de moscas e seus excrementos. 

Crédito de "Uomo della Bitta" de Da Vinci: os autores

Uma segunda observação interessante éa presença de muito DNA humano. Infelizmente, não podemos presumir que esse DNA venha do pra³prio mestre, mas pode ter sido introduzido pelos trabalhadores da restauração ao longo dos anos. Finalmente, para as comunidades bacterianas e fúngicas, pode-se observar a correlação com a localização geogra¡fica dos desenhos.

Amostragem do microbioma do "Studio di panneggio per una figura inginocchiata" de
Da Vinci (ca. 1475). Crédito: Os autores

Ao todo, os insetos, os restauradores e a localização geogra¡fica parecem todos ter deixado um traa§o invisível aos olhos nos desenhos. Embora seja difa­cil dizer se algum desses contaminantes se originou da anãpoca em que Leonardo da Vinci estava fazendo o esboa§o de seus desenhos, o Dr. Pia±ar destaca a importa¢ncia que o rastreamento desses dados poderia ter: "A sensibilidade do manãtodo de sequenciamento Nanopore oferece uma a³tima ferramenta para o monitoramento de objetos de arte. Permite a avaliação dos microbiomas e a visualização de suas variações devido a situações prejudiciais. Pode ser usado como um bioarquivo da história dos objetos, fornecendo uma espanãcie de impressão digital para comparações atuais e futuras . "

 

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