Tecnologia Científica

O mistério das geleiras marcianas revelado
Em Marte, no entanto, as geleiras nunca partiram, permanecendo congeladas nasuperfÍcie fria do Planeta Vermelho por mais de 300 milhões de anos, cobertas de escombros.
Por Michael Blanding - 19/01/2021


Imagem de uma geleira em Marte mostra a abunda¢ncia de rochas dentro do gelo. Imagens de alta resolução dasuperfÍcie de Marte sugerem que depa³sitos glaciares cobertos por detritos se formaram durante vários episãodios pontuados de acaºmulo de gelo em longas escalas de tempo. Terrenos glaciais cobertos por detritos, chamados aventais de detritos lobados (LDA), são comuns em Marte. Nãoestãoclaro se esses LDAs se formaram nos últimos 300-800 milhões de anos durante um aºnico longo período de deposição ou durante vários episãodios de curta duração de acumulação de gelo. Para responder a esta questão, Joseph Levy e colegas usaram imagens de alta resolução para mapear pedras ao longo de 45 LDAs nasuperfÍcie de Marte. Os pedregulhos são comumente agrupados em faixas em todos os LDAs, semelhantes aos pedregulhos em antigas geleiras cobertas por detritos terrestres. As descobertas apontam para maºltiplos ciclos de acumulação de gelo e avanço ao longo dos últimos 300-800 milhões de anos, estendendo as evidaªncias dasmudanças climáticas em Marte além da janela de 20 milhões de anos fornecida pela modelagem numanãrica. Crédito: Joe Levy / Colgate University

Em um novo artigo publicado hoje no Proceedings of the National Academies of ScienceS ( PNAS ), gea³logo planetario Joe Levy, professor assistente de geologia na Universidade Colgate, revela uma nova análise inovadora das misteriosas geleiras de Marte.

Na Terra, as geleiras cobriram amplas faixas do planeta durante a última Idade do Gelo, que atingiu seu pico hácerca de 20.000 anos, antes de recuar para os pa³los e deixar para trás as rochas que empurraram para trás. Em Marte, no entanto, as geleiras nunca partiram, permanecendo congeladas nasuperfÍcie fria do Planeta Vermelho por mais de 300 milhões de anos, cobertas de escombros. “Todas as rochas e areia carregadas naquele gelo permaneceram nasuperfÍcie”, diz Levy. "a‰ como colocar gelo em um refrigerador sob todos aqueles sedimentos."

Os gea³logos, no entanto, não foram capazes de dizer se todas essas geleiras se formaram durante uma enorme Idade do Gelo marciana ou em vários eventos separados ao longo de milhões de anos. Uma vez que as eras glaciais resultam de uma mudança na inclinação do eixo de um planeta (conhecida como obliquidade), responder a essa pergunta poderia dizer aos cientistas como a a³rbita e o clima de Marte mudaram ao longo do tempo, bem como que tipo de rochas, gases ou mesmo micróbios pode estar preso dentro do gelo.

“Existem modelos realmente bons para os parametros orbitais de Marte nos últimos 20 milhões de anos”, diz Levy. "Depois disso, os modelos tendem a ficar caa³ticos."

Levy elaborou um plano para examinar as rochas nasuperfÍcie das geleiras como um experimento natural. Uma vez que elas presumivelmente sofrem erosão com o tempo, uma progressão constante de rochas maiores para menores descendo a colina apontaria para um aºnico e longo evento da era do gelo.

Escolhendo 45 geleiras para examinar, Levy adquiriu imagens de alta resolução coletadas pelo satanãlite Mars Reconnaissance Orbiter e começou a contar o tamanho e o número de rochas. Com uma resolução de 25 centa­metros por pixel, "vocêpode ver coisas do tamanho de uma mesa de jantar", diz Levy.

Mesmo com essa ampliação, entretanto, a inteligaªncia artificial não pode determinar com precisão o que éou não uma rocha emsuperfÍcies a¡speras de geleira; então Levy pediu a ajuda de 10 alunos da Colgate durante dois veraµes para contar e medir cerca de 60.000 grandes rochas. “Fizemos uma espanãcie de trabalho de campo virtual, subindo e descendo essas geleiras e mapeando as rochas”, diz Levy.

Levy inicialmente entrou em pa¢nico quando, longe de ser uma progressão ordenada de rochas por tamanho, os tamanhos das rochas pareciam estar distribua­dos aleatoriamente. “Na verdade, as pedras estavam nos contando uma história diferente”, diz Levy. "Nãoera o tamanho deles que importava; era como eles eram agrupados ou agrupados."
 
Já que as rochas viajavam dentro das geleiras, não estavam sofrendo erosão, ele percebeu. Ao mesmo tempo, eles foram distribua­dos em faixas claras de detritos pelassuperfÍcies das geleiras, marcando o limite de fluxos separados e distintos de gelo, formados quando Marte oscilou em seu eixo.

Com base nesses dados, Levy concluiu que Marte passou por algo entre seis e 20 eras glaciais separadas durante os últimos 300-800 milhões de anos. Essas descobertas aparecem no PNAS , escrito junto com seis alunos atuais ou ex-alunos da Colgate; O professor de matemática da Colgate, Will Cipolli; e colegas da NASA, da Universidade do Arizona, da Fitchburg State University e da University of Texas-Austin.

"Este artigo éa primeira evidência geola³gica do que a a³rbita e a obliquidade de Marte podem ter feito por centenas de milhões de anos", disse Levy. A descoberta de que as geleiras se formaram ao longo do tempo tem implicações para a geologia planeta¡ria e atépara a exploração espacial, explica ele. “Essas geleiras são pequenas ca¡psulas do tempo, capturando instanta¢neos do que estava soprando na atmosfera marciana”, diz ele. "Agora sabemos que temos acesso a centenas de milhões de anos de história marciana sem ter que perfurar profundamente a crosta - podemos apenas fazer uma caminhada ao longo dasuperfÍcie."

Essa história inclui quaisquer sinais de vida potencialmente presentes no passado distante de Marte. "Se houver biomarcadores soprando, eles também ficara£o presos no gelo." Ao mesmo tempo, eventuais exploradores de Marte que precisem depender da extração de águadoce das geleiras para sobreviver precisara£o saber que pode haver faixas de rochas dentro delas que tornara£o a perfuração perigosa. Levy e seus colegas estãoagora no processo de mapear o resto das geleiras nasuperfÍcie de Marte, esperando que, com os dados de que dispaµem, a inteligaªncia artificial possa ser treinada para assumir o trabalho a¡rduo de identificar e contar pedras.

Isso nos trara¡ um passo mais perto de uma história planeta¡ria completa do Planeta Vermelho - incluindo a velha questãode se Marte poderia ter sustentado vida.

“Ha¡ muito trabalho a ser feito para descobrir os detalhes da história do clima marciano”, diz Levy, “incluindo quando e onde estava quente e aºmido o suficiente para haver salmouras e águala­quida”.

 

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