Tecnologia Científica

Pesquisadores da USP desenvolvem ferramentas que auxiliam produtores de sua­nos
O modelo de ca¡lculo e o a­ndice de custo de produção ajudam os produtores de Sa£o Paulo no controle financeiro e na organizaa§a£o, em meio a s oscilaa§aµes do mercado
Por Guilherme Gama - 27/07/2021


As ferramentas são importantes por corresponderem a  realidade paulista, principalmente neste momento do mercado em que épreciso ter olhos atentos ao custo de produção osFoto: Reprodução
 
Diferente das demais regiaµes do Brasil, onde a produção de sua­nos atua em sistema de integração (diferentes sistemas produtivos, agra­colas, pecua¡rios e florestais), a suinocultura no Estado de Sa£o Paulo écomposta de produtores independentes, que são responsa¡veis desde a produção de ração atéa venda do animal. Para atender a  demanda das especificidades da produção no Estado, mais impactada pelas oscilações do mercado, pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterina¡ria e Zootecnia (FMVZ) da USP desenvolveram um modelo de ca¡lculo de custo de produção, que oferece ao produtor uma plataforma para controlar seus custos, e o andice de Custo de Produção de Sua­nos (ICPS), que permite acompanhar a evolução econa´mica da suinocultura paulista. O a­ndice édivulgado por meio de um informativo mensal, com uma nova edição todo maªs e aponta a movimentação do mercado, o que auxilia na organização e planejamento financeiro dos produtores.

O estudo envolve o Laborata³rio de Ana¡lises Socioecona´micas e Ciência Animal (LAE) e o Laborata³rio de Pesquisa em Sua­nos (LPS), ambos da Faculdade de Medicina Veterina¡ria e Zootecnia (FMVZ), no campus de Pirassununga da USP, a Fundação de Amparo a  Pesquisa do Estado de Sa£o Paulo (Fapesp) e a Associação Paulista de Criadores de Sua­nos (APCS), que adotou o ICPS como a­ndice oficial. Produtores de sua­nos podem adquirir as ferramentas gratuitamente, pelo site ou em contato por e-mail com os pesquisadores.

Ferreira Jaºnior, presidente da Associação Paulista de Criadores de Sua­nos (APCS), afirma que as ferramentas criadas em parceria com a USP são importantes por corresponderem a  realidade paulista, principalmente neste momento do mercado em que épreciso ter olhos atentos ao custo de produção.

De acordo com a autora da pesquisa e mestre pela FMVZ, Laya Kannan, a produção de sua­nos do Estado de Sa£o Paulo éconstitua­da por produtores independentes, que atuam em sistemas de produção em ciclo completo, ou seja, atuam diretamente desde as fases iniciais da produção atéo fim, com a venda do animal. O estudo teve orientação do professor Cesar Augusto Pospissil Garbossa e co-orientação do professor Augusto Hauber Gameiro.

“Nesse arranjo organizacional, os produtores são diretamente impactados pelas oscilações mercadola³gicas, uma vez que o mercado da suinocultura paulista émarcado pela dependaªncia do prea§o das commodities e volatilidade nos prea§os de venda”, afirma. Laya explica que esses fatores são de “fora da porteira”, o que revela a importa¢ncia do controle do custo de produção “dentro da porteira”, por parte dos produtores para que não enfrentem baixos resultados econa´micos — ou atéprejua­zos. 

“A suinocultura paulista enfrenta diversos desafios, devido a s particularidades da produção da regia£o, e grande parte deles estãorelacionada ao gerenciamento da atividade e ao uso estratanãgico dos fatores de produção, o que demonstra a importa¢ncia do fornecimento de ferramentas e orientações ba¡sicas para que os suinocultores possam conhecer as varia¡veis a serem controladas em seus sistemas produtivos.”


Os modelos para ca¡lculo de custo de produção de sua­nos dispona­veis, atéentão, eram alinhados a  realidade brasileira como um todo e, como destaca Laya, não levam em consideração os custos com alimentação de animais, que pode ser de até80% da produção. O a­ndice de Custo de Produção de Sua­nos e Frangos, calculado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecua¡ria (Embrapa), por exemplo, foi desenvolvido a partir da produção do Sul do Brasil, onde prevalece o sistema de integração. “Os fatores de formação de custo são muito diferentes, não condizem com a nossa realidade em Sa£o Paulo”, completa Ferreira. 

Para elaboração do modelo de ca¡lculo dos custos de produção, os pesquisadores se basearam em estudos de ovino e bovinocultura da FMVZ, em estudos que detalham o processo produtivo e as caracteri­sticas das suinoculturas do Estado e em manãtodos de custeio para a agricultura, como o da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O modelo criado consiste em uma planilha eletra´nica, que opera como um software e auxilia na gestão, pela qual o produtor pode adicionar os dados da sua granja como tamanho, número e sala¡rio de funciona¡rios, número e fase de vida dos animais e quantidade de ração consumida; o ca¡lculo do custo de produção éfornecido automaticamente. A ferramenta égratuita e também pode ser utilizada por produtores fora do Estado de Sa£o Paulo.

Já para o desenvolvimento do ICPS, todas as etapas de produção foram acompanhadas mais de perto, voltadas para análise de mercado, com levantamento de fornecedores e com o acompanhamento dos prea§os dos insumos. Com auxa­lio do modelo já criado, calculou-se o custo de produção de duas unidades “imagina¡rias”, alinhadas a  realidade paulista, chamadas de propriedades representativas: uma com 500 matrizes e outra com até2 mil.

“Todo maªs écalculado o custo de produção dessas granjas usando a ferramenta de custo e, a partir de análises, tem-se o a­ndice entre a variação de um período e outro.” Com o custo de maªs para cada granja gera-se o informativo de custo, com as movimentações do mercado no maªs: o informativo mensal. As edições do informativo são divulgadas no site do LAE e enviadas por e-mail aos usuários cadastrados, e trazem informações acerca do cena¡rio da suinocultura no Estado, o que permite o acompanhamento constante dos prea§os dos insumos e produtos usados na produção e ainda auxilia análises das variações desses prea§os.

“A suinocultura paulista enfrenta diversos desafios, devido a s particularidades da produção da regia£o, e grande parte deles estãorelacionada ao gerenciamento da atividade e ao uso estratanãgico dos fatores de produção, o que demonstra a importa¢ncia do fornecimento de ferramentas e orientações ba¡sicas para que os suinocultores possam conhecer as varia¡veis a serem controladas em seus sistemas produtivos”, afirma Laya. Para a pesquisadora, um dos principais benefa­cios das ferramentas éo cara¡ter pedaga³gico, ao passo que da¡ esta­mulo e autonomia para que os produtores gerenciem suas granjas e se profissionalizem no setor.

E o futuro?

Com o controle dos custos e ciente das movimentações do mercado, os produtores tem chances de fazer melhores nega³cios e, quem sabe, investir no mercado futuro, onde compra e venda são feitas com pré-prea§os, visando a uma data futura, como a bolsa de ações. A pesquisadora conta que os pra³ximos passos são pensados na utilização dessas ferramentas para promoção da entrada dos sua­nos no mercado futuro, o que expande o impacto da pesquisa na área agroindustrial de sua­nos. “Isso pode gerar um retorno do investimento da sociedade em nossa Universidade”, afirma. 

 

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