Produto desenvolvido no Instituto de Química promete ser revoluciona¡rio. Puro, ata³xico, não bioacumula¡vel e luminescente, écapaz de enriquecer e aumentar produção de alimentos
Foto: AndréGomes/Secom UnB
Biofertilizante (vidro a esquerda) desenvolvido no Instituto de Química épuro, ata³xico e luminescente, e permite fa¡cil adaptação a s necessidades de cada cultura
Produtividade alta, nada de resíduos e consumo manimo de águae energia. Essas são algumas caracteristicas da nanopartacula desenvolvida por estudantes de doutorado e professores do Instituto de Química (IQ) da UnB, que promete ser uma revolução no mundo dos biofertilizantes.
Puro, ata³xico, não bioacumula¡vel e luminescente, esse produto écapaz de enriquecer alimentos com micro e macro nutrientes e aumentar as produções de diversas culturas. Em testes feitos com tomate e alface, por exemplo, houve ganho de cerca de 20% na produtividade.
“Temos algo puro [sem adição de outros compostos quamicos] que pode ser produzido em larga quantidadeâ€, afirma o professor de química inorga¢nica Marcelo Oliveira Rodrigues, que atualmente estãoem missão cientafica para o projeto intitulado Materiais com Luminescaªncia Persistente para Aplicação em Dispositivos Fotovoltaicos e Geração de Energia no Escuro, na Universidade de Nottingham, na Inglaterra, com bolsa da Coordenação de Aperfeia§oamento de Pessoal de Navel Superior (Capes). “Junto com o professor Daniel Zandonadi, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e o professor Jader Busato, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterina¡ria da UnB, conseguimos entender como éo mecanismo dentro da planta, a rota bioquímica. Esse éum grande diferencial", completa.Â
Segundo Rodrigues, com a nova tecnologia, o grupo observou incremento nas taxas de fotossantese em cerca de 60% e aumento no lana§amento de raiz, que éo crescimento de novos ramos nas laterais da raiz original, que varia conforme a cultura osno caso do tomate, em torno de 130% e no do cacau, 60%. “a‰ um material de alta performance, leve e puroâ€, aponta.
O professor destaca ainda que hoje a nanoagricultura estãocentrada no uso de nanomateriais a base de polímeros, a³xidos meta¡licos, nanopartaculas meta¡licas, como ouro e prata, que são ta³xicos para a biota osconjunto de seres vivos osterrestre e aqua¡tica e bioacumulam (no caso de frutas, acumulam por três a quatro gerações), além de dificultarem o processo de escalonamento, que éa produção industrial.
Com o material produzido na Universidade de Brasalia, esses problemas ficam para trás. “Ao longo dos anos, fizemos testes de toxicidade em peixes, camundongos, bactanãrias, fungos, insetos, larvas. Na³s conseguimos superar todos esses limites e hoje posso dizer que temos o bioestimulante mais potente do mercadoâ€, garante Marcelo Rodrigues.
Outro diferencial do novo produto éo volume que deve ser aplicado nas plantas: como se trata de material puro, a quantidade émuito menor que o habitual. Os biofertilizantes atualmente utilizados no mercado, segundo o docente, são uma mistura complexa, que engloba extrato de microalgas, micro e macronutrientes, aminoa¡cidos. “Nãose sabe exatamente o mecanismo de ação desses produtos, o que estãoativando a fotossantese etc.â€, conta. “Por outro lado, conhecemos todos os mecanismos de ação da nossa tecnologia e isso facilita na hora de fazer ajustes na formulação visando potencializar ainda mais os efeitos. a‰ completamente diferente do que estãosendo vendido. a‰ revoluciona¡rioâ€, avalia o professor.

Os doutorandos Carime e Roganãrio integram a equipe que desenvolveu a nanopartaculaÂ
PARCERIA osA nanopartacula foi desenvolvida nos laboratórios da UnB e validada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecua¡ria (Embrapa). Quando escutou pela primeira vez as ideias de Marcelo Rodrigues, o pesquisador de solos e nutrição de plantas da Embrapa Hortalia§as Juscimar da Silva viu a oportunidade de desenvolver algo aºnico em conjunto com a equipe do IQ.
“Falei, brincando, que tanhamos um produto que, diante de suas propriedades, era como um sol dentro da planta. Ele recebe a luz que a planta não utiliza para fazer a fotossantese e a emite naquele comprimento de onda de que ela precisa. E isso pode aumentar a eficiência fotossintanãticaâ€, explica Silva, que disponibilizou recursos de pesquisa do órgão e atuou ativamente junto ao grupo para desenvolver e atestar a tecnologia.
Especialista na área, o pesquisador da Embrapa ressalta as qualidades do produto diante do que háno mercado. “Além de funcionar ativando rotas metaba³licas secunda¡rias na planta que a ajudam a se desenvolver, com aumento de eficiência do uso da a¡gua, aumento da taxa fotossintanãtica, e, obviamente, um uso mais eficiente de nutrientes, também funciona como um carreador de outros nutrientes, então pode trabalhar a melhoria da nutrição humana. Essa multifunção do produto talvez seja o grande diferencial dele no mercado, junto com a explicação do mecanismo de ação.â€
Carime Rodrigues, doutoranda de apenas 24 anos de idade, integra a equipe do Laborata³rio de Inorga¢nica e Materiais Professor Gilberto Sa¡ (Lima) do IQ, e vislumbra ainda outras possaveis consequaªncias positivas com a aplicação da tecnologia desenvolvida por eles. “Nosso sonho éconseguir aumentar a produtividade de áreas desmatadas e, como temos experiência na área de engenharia desuperfÍcie da nanopartacula e também conseguimos introduzir nutrientes nos alimentos, isso teria impacto significativo na erosão alimentarâ€, projeta ela, que ébolsista da Capes. Erosão alimentar éo empobrecimento nutricional dos alimentos, que contam basicamente com carboidratos em sua composição.
“A ideia éenriquecer alimentos com micro nutrientes essenciais para o ser humano, como selaªnio, zinco. Reduzir um pouco a erosão alimentar e aumentar a nutrição humanaâ€, completa Roganãrio Faria, que veio de Minas Gerais para cursar mestrado e doutorado na Universidade de Brasalia e tem bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientafico e Tecnola³gico (CNPq).
O grupo do IQ acrescentou micro e macro nutrientes no biofertilizante criado por eles, testou em plantações e viu resultado. “Observamos lana§amento de raiz lateral, intensificação da clorofila (ficou mais verde)â€, rememora Faria.
Com a validação da tecnologia pela Embrapa, o desafio passou a ser o escalonamento do que atéentão era apenas um experimento de bancada de laboratório. Assim nasceu a startup Krilltech, empresa pré-incubada desde 2018 no Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnola³gico (CDT) da UnB.
Os sãocios são todos do Instituto de Química da UnB: os professores Marcelo Oliveira Rodrigues e Marcelo Henrique, e os estudantes de doutorado Ataalson Oliveira, Roganãrio Faria e Carime Rodrigues.
As patentes estãoescritas e em fase de depa³sito. O Ministanãrio da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações demonstrou interesse e estãoajudando nesse processo. Somente após a conclusão, a empresa podera¡ ir atrás do registro para comercializar o biofertilizante inovador.
“Essa tecnologia tem muito potencial para diversas áreas. Se nossa empresa der certo, vamos levar o nome da UnB para todos os lugares que conseguirmos alcana§ar, afinal a pesquisa foi toda desenvolvida aquiâ€, afirma Carime Rodrigues.
“Agora precisamos muito da ajuda da Universidade, porque buscamos um espaço para produzirâ€, conta. Segundo ela, háespecificidades em termos de legislação e alvara¡ para a produção de fertilizantes.
Para dar continuidade aos trabalhos, o grupo vislumbra a possibilidade de usar algum local dos outros campi da Universidade, pois o Darcy Ribeiro élocalizado no Plano Piloto, que étombado e, por isso, háimpedimentos para se ter uma fa¡brica de fertilizante. “Na³s produzimos em qualquer lugar, são precisamos do Espaçoâ€, assegura a estudante.
Esta éa empresa do futuroâ€, afirma Marcelo Rodrigues.
SAašDE HUMANA osHa¡ cerca de sete anos, o grupo do IQ iniciou os estudos com nanotecnologia. Entre 2014 e 2015, o foco era o combate ao câncer por meio de drug delivery, o carreamento de fa¡rmacos para o tratamento da doena§a. Carime Rodrigues desenvolveu o veaculo, que seria o transporte da anfotericina B osantifaºngico muito usado em casos de infecção hospitalar e de leishmaniose ospor meio da nanopartacula em questão.
Segundo a pesquisadora, a anfotericina, como éusada hoje, émuito ta³xica e os pacientes tem muitos efeitos colaterais, que também tem de ser tratados ose tudo fica muito caro no final. Ela aponta que, de acordo com estudos de 2016, o tratamento de um aºnico paciente por duas semanas com esse antifaºngico e outras medicações necessa¡rias chega a custar R$ 350 mil para o Estado.
Foto: AndréGomes/Secom UnB

Pesquisa com anfotericina B utilizava o mesmo carreador do biofertilizante.
“Batemos a porta do Ministanãrio da Saúde, dissemos que tanhamos uma formulação menos ta³xica e muito mais barata de anfotericina, que écom esse carreador, essa nanopartacula, mas precisamos de dinheiro, porque esses testes são caros e precisamos fazaª-los em animais de manãdio porte e depois, em humanos. Mas a verba nunca chegou e isso faz anosâ€, relembra ela.
“Desenvolvemos uma formulação que reduz o custo do fa¡rmaco para US$ 10. Se comparar, no mercado custa em torno de R$ 40 mil. Infelizmente não conseguimos chegar na parte dos testes em humanos, porque toda a parte de pré-clanico tem que seguir o protocolo da Anvisa e tem que ser com laboratório certificado. Ficamos frustrados porque não conseguimos recursos para avana§arâ€, conta Marcelo Rodrigues, orientador de Carime desde o mestrado.
Sem financiamento, os pesquisadores começam a mudar o olhar sobre suas descobertas. “Diante da possibilidade de esse veaculo carrear um fa¡rmaco, pensamos: por que não carrear micro e macro nutrientes para uma planta? Seria menos burocra¡tico, pois a legislação émenos ragida no setor de fertilizantes. Então comea§amos a migrar esse veaculo desenvolvido para aplicar na agriculturaâ€, explica Roganãrio Faria. Assim decidiram fundar a startup KrillTech.
Mas atuar para aprimorar as condições da saúde humana ainda éum desejo do grupo, segundo Carime. “Ainda éum sonho, porque ninguanãm tem dinheiro para investir, mas temos esse idealâ€, admite. “Temos esse sonho muito forte de ver nossa pesquisa tendo impacto social e fazendo a diferença. Infelizmente investimento paºblico édifacil. O andar da pesquisa já élento e se for esperar investimento paºblico, ela praticamente para.â€
O professor Marcelo Rodrigues ressalta, poranãm, que para chegarem aos produtos que tem hoje e ao avanço tecnola³gico apresentado, contaram com financiamento paºblico. “Capes, CNPq, FAP-DF foram fundamentais para que conseguassemos desenvolver as primeiras pesquisas, entender como tudo funcionava e, a partir daa, partassemos para o escalonamento de processo e para a produção como temos hojeâ€.
MAIS NOVIDADE osO grupo segue nos laboratórios da UnB e trabalha já no desenvolvimento de outro produto: biopesticidas. “Para se ter uma ideia, em 24h, a depender da formulação, matamos 100% das larvas do mosquito da dengueâ€, revela. “Essa tecnologia vem sendo testada também contra fungos patógenos de interesse agrona´mico. Temos resultados expressivos.â€
Para lana§ar essa inovação, professores e estudantes pretendem abrir outra startup. “Os testes são simples e já temos todos eles. a‰ questãode pedir registro do produto para colocar no mercadoâ€, adianta Rodrigues.